"Que Deus te abençoe nessas estradas da vida”. O desejo sincero de amigos que passavam pelo Mirante de Bom Jardim da Serra, ontem pela manhã, foi endereçado ao alemão Christian Georg Schetsche. Em aventura pelas Américas, o professor, de 38 anos, deixou o Canadá em 2016 e, a bordo de uma motoneta Vespa P200, recortou estradas e já viajou mais de 25 mil quilômetros.

“Ela é bem econômica”, contou. Também pudera. São mais de dois anos vivendo de viajar por Canadá, Estados Unidos, México, Guatemala, Nicarágua, Honduras, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Brasil. A aventura continua. “Quero chegar a Buenos Aires logo. Lá, arrumar um emprego e ficar um tempo”.

Mas ele fala em um espanhol bem arrastado. Antes do sotaque, e mesmo de se apresentar, Christian chama a atenção é pela motoneta mesmo. O pequeno veículo vermelho, decorado com adesivos que apresentam os muitos lugares visitados, é confortável. “É um sofá isso?”, perguntou outro dos amigos que ontem o conheceu na serra. “Sim, e muito confortável”, respondeu, aos risos, referindo o banco no qual, sentado, curte os rumos da longa aventura. 

"Es a mejor"

Ele comprou a vespa na Califórnia. “Es a mejor”, carregou, em claro espanhol, ao se ver diante de possantes motocicletas no mirante. E manutenção para encarar milhares de quilômetros? “Até entendo um pouco”. Christian tem economizado no combustível. “Ah, ela faz de 40 a 50 quilômetros por litro”, conta, feliz.

A simplicidade da motoneta incentivou o professor em escolhê-la como parceira de aventura. “Todos se impressionam ao ver o que estou fazendo”, reconhece, orgulhoso. Por onde passa, tem sido recebido com muito carinho. “Já dormi em barraca, em casas de amigos e estranhos”. E comeu de tudo um pouco. “Até uma larva na Amazônia”. Mas virou fã mesmo de pratos brasileiros. 

Mais da "máquina"

A alegria é a grande companhia da viagem aparentemente solitária. “Sou feliz e estou feliz, curtindo essa história toda. Minha casa é a vespa”. Mas Christian tem sido corajoso ao trafegar por milhares de quilômetros, por caminhos tão distintos, a bordo de uma motoneta antiga e, aparentemente, frágil.

“Não é fácil, mas ela está resistindo bem”, garante. A motoneta conheceu desde o gelo canadense à aridez americana, passando pelos trópicos mexicanos, centro americanos e das terras ao Norte da América do Sul. E nos relevos, como faz? “Ela responde bem sim”, diz. Christian não se intimidou ao passar pelas estradas sinuosas e de altos e baixos do Equador. Na Bolívia, conheceu com ela os grandes depósitos de sal, que formam aqueles tapetes brancos imensos, que vão até o horizonte.

“Mas o Brasil é o mais bonito de todos”, dispara o alegre alemão com sua vespinha. “É uma P200, é italiana, de 1979”, conta. Ou seja, ele nasceu um pouco antes, meses depois da fabricação da sua companheira de aventura. “Motor dois tempos, não me incomoda e, quando quer aquecer, a gente dá uma pausa”. É história que não acaba mais para o alegre aventureiro.

Assista, no vídeo abaixo, depoimento do aventureiro ao repórter Jotha Del Fabro.