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Megaoperação expõe rede que lavou bilhões no mercado de combustíveis

Mais de 125 mandados estão sendo cumpridos em cinco estados do país

Por Redação Criciúma, SC, 27/11/2025 - 13:55 Atualizado há 7 horas
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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A receita federal deflagrou nesta quinta-feira (27), a Operação Poço de Lobato, em conjunto com outros orgãos pareceiros, para combater um esquema sofisticado de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis. Estão sendo cumpridos 126 mandados de busca e apreensão contra pessoas físicas e jurídicas em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal e Bahia.

O grupo investigado mantém relações financeiras com empresas e pessoas ligadas à Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto de 2025, e é apontado como o maior devedor contumaz do país, com débitos superiores a R$ 26 bilhões.

Segundo as investigações, o grupo movimentou mais de R$ 70 bilhões em apenas um ano por meio de operações financeiras complexas que envolviam empresas próprias, fundos de investimento e offshores, inclusive uma exportadora no exterior, com o objetivo de ocultar e blindar lucros. As transações eram administradas pelo próprio grupo, que controlava empresas financeiras e utilizava estruturas internacionais para proteção patrimonial.

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Participam da operação servidores da Receita Federal do Brasil (RFB), Ministério Público de São Paulo (MP/SP), Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo (Sefaz/SP), Secretaria Municipal de Fazenda de São Paulo (SMF), Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo (PGE/SP) e Polícias Civil e Militar.

A PGFN e o Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do Estado de São Paulo (Cira/SP) obtiveram medidas cautelares em ações judiciais que resultaram no bloqueio de mais de R$ 10,2 bilhões em bens, incluindo imóveis e veículos, para garantia do crédito tributário.


A apuração abrange todas as etapas da cadeia de combustíveis, da importação à comercialização final. O grupo mantém um núcleo no Rio de Janeiro e atua em praticamente todo o território nacional.

Fraudes

Importadoras ligadas ao grupo atuavam como interpostas pessoas, adquirindo do exterior nafta, hidrocarbonetos e diesel com recursos provenientes de formuladoras e distribuidoras controladas pela organização. Entre 2020 e 2025, mais de R$ 32 bilhões em combustíveis foram importados por essas empresas.

Uma das companhias investigadas já havia sido alvo da Operação Cadeia de Carbono, que reteve quatro navios com cerca de 180 milhões de litros de combustíveis. Após a ação, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) interditou a refinaria envolvida ao identificar irregularidades como suspeita de importação com falsa declaração de conteúdo, gasolina declarada como derivados para industrialização, ausência de evidências do processo de refino e indícios do uso de aditivos químicos não autorizados, que podem indicar tentativa de adulteração do produto comercializado.

As apurações também revelaram que formuladoras, distribuidoras e postos de combustíveis vinculados ao grupo sonegavam reiteradamente tributos em suas operações, ampliando o impacto das irregularidades sobre a arrecadação e a concorrência no setor.

Ocultação dos valores

Os recursos eram concentrados em empresas financeiras controladas pelo próprio grupo. A Receita Federal identificou que uma grande operadora atuava como sócia de outras instituições que também prestavam serviços internos. Esse núcleo movimentou mais de R$ 72 bilhões entre o segundo semestre de 2024 e o primeiro semestre de 2025.

O esquema utilizava uma estrutura em que uma financeira “mãe” controlava diversas “filhas”, formando operações complexas que dificultavam a identificação dos reais beneficiários. Assim como na Operação Carbono Oculto, foram exploradas brechas regulatórias, como o uso das “contas bolsão”, que impedem o rastreamento do fluxo financeiro. A principal instituição possuía 47 contas bancárias relacionadas contabilmente às empresas do grupo.

Após a paralisação das distribuidoras envolvidas na Carbono Oculto, o grupo alvo da Poço de Lobato alterou completamente seu modelo financeiro, substituindo a estrutura usada desde 2018 por novos operadores e empresas. Operadores que antes movimentavam cerca de R$ 500 milhões passaram a operar valores superiores a R$ 72 bilhões após 2024.

Blindagem patrimonial

O dinheiro ilícito era reinvestido em negócios, propriedades e outros ativos por meio de fundos de investimento, conferindo aparência de legalidade às operações. A Receita Federal identificou 17 fundos ligados ao grupo, com patrimônio líquido de R$ 8 bilhões. A maioria é formada por fundos fechados com um único cotista, geralmente outro fundo, criando camadas adicionais de ocultação. Há indícios de que administradoras colaboraram com o esquema, omitindo informações à Receita Federal.

Operações com empresas offshore

A análise dos fundos revelou a participação de entidades estrangeiras como sócias e cotistas, além da coincidência de representantes legais entre offshores e fundos. Essas empresas foram constituídas em Delaware, nos Estados Unidos, jurisdição que permite a criação de LLCs com anonimato e sem tributação local, desde que não tenham renda gerada em território norte-americano. Esse arranjo permite que deixem de ser tributadas tanto nos EUA quanto no Brasil, prática frequentemente associada à lavagem de dinheiro e blindagem patrimonial.

Uma das principais operações internacionais do grupo envolveu a aquisição de uma exportadora em Houston, Texas, por meio da qual foram importados mais de R$ 12,5 bilhões em combustíveis entre 2020 e 2025. Já foram identificadas mais de 15 offshores nos Estados Unidos, que enviam recursos para aquisição de participações e imóveis no Brasil, totalizando cerca de R$ 1 bilhão.

Também foram detectados envios ao exterior superiores a R$ 1,2 bilhão sob a forma de contratos de mútuo conversíveis em ações, que podem retornar ao país como investimentos por meio de outras offshores, fechando o ciclo de ocultação.

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