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Lobão, crítico político e também músico (VÍDEOS)

De Bolsonaro a músicas ruins, o cantor e compositor não escapou nem da própria crítica no Do Avesso
Por Denis Luciano Criciúma, SC, 23/05/2019 - 14:35 Atualizado em 23/05/2019 - 14:45
Lobão e a capa do seu novo lançamento, que ele antecipou no Avesso / Foto - Vídeos: Denis Luciano / 4oito
Lobão e a capa do seu novo lançamento, que ele antecipou no Avesso / Foto - Vídeos: Denis Luciano / 4oito

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Não dá para controlar, não dá
Não dá pra planejar
Eu ligo o rádio e blá, blá
Blá, blá, blá, blá, eu te amo
Não dá para controlar, não dá
Não dá pra planejar
Eu ligo o rádio e blá, blá
(Eu te amo)

Pity Búrigo cantarolou Rádio Blá para abrir a conversa com Lobão, cantor, compositor, youtuber e tantas coisas mais. E daí, a primeira surpresa. "Ela é ok, musiquinha ok. A gravação é péssima, deprimente. Depois que eu morrer não serei lembrado por ter composto Rádio Blá", disparou o músico. "Não, além de crítico político, eu sou músico", ponderou, quando indagado sobre seu real perfil por Mano Dal Ponte. Algumas das tantas surpresas de um envolvente bate papo de 40 minutos no Programa Do Avesso desta quinta-feira na Rádio Som Maior. Lobão está em Criciúma para um show no Teatro Elias Angeloni a partir das 21h.

Foto: Luana Mazzuchello / 4oito

Lobão está escritor também. E parte para mais dois livros. "Estou em fase de pesquisas para o quinto livro, "50 anos a mil" para "60 anos a mil", esses dez passaram mais a mil que os 50 anteriores", revelou. E tem outro. "Vou fazer um histórico bem aprofundado, vai me requerer muita pesquisa, da sigla MPB, que não é Música Popular Brasileira, é política e ideológica, vou desenvolver uma tese, que vai estar no quinto ou sexto livro".

Mais livros à parte, Lobão fez uma dura autocrítica em relação à sua produção musical. "A produção musical era ruim (antigamente), eu falava para mim mesmo,  cara, vai ser fogo, daqui a alguns anos essas músicas vão ser um grande sucesso e você vai ter que conviver com esses sucessos que você detesta", disse, citando algumas músicas suas de outros tempos que o próprio Lobão não gosta. "Eu virei um compositor excelente, adulto, que escrevo boas músicas a partir do Nostalgia da Modernidade, de 95. Virei um autor, com métodos, e a partir dos anos 2000, A Vida é Doce é primoroso, o top é o Rigor e Misericórdia de 2016".

Foto: Denis Luciano / 4oito

Mas para quem espera de Lobão uma repetição de sucessos de antigamente no palco do Elias Angeloni, é bom se preparar para mais surpresas. "Tem músicas que eu toco, que eu revezo, não tento gastar tantos sucessos". E ele não repete as manjadas, não. "Eu não permito uma coisa dessa, não permito ser escravo de música, isso é antimusical. Coisa que eu não toco é Revanche, não suporto, não gosto da letra, parece Geraldo Vandré", disparou.

E tem lançamento

"Com a graça de Deus" é a música que Lobão compôs há menos de uma semana. "Na sexta-feira passada eu fiz ela, arranjei, produzi, toquei, executei. No sábado arranjei o tom, formatação, melodia, gravei o violão, bateria, baixo, percussão sinfônica, duas guiterras. Na segunda botei a voz e mixei. Na terça, masterizamos. Na quarta estava pronta", revelou. Ele mostrou, do seu celular, a capa do lançamento, que ocorrerá oficialmente amanhã em diversas plataformas.

Lobão da política

Ele virou youtuber também. E no seu canal, dispara aguçados comentários sobre o cotidiano político brasileiro. "A coisa da política vem muito atrelada a determinadas circunstâncias que você não pode se esquivar de comentar. Eu sou um artista engajado e quando eu me prontifico a não só ser engajado mas também apoiar o governo, como apoiei o Lula, estou interferindo nos resultados da eleição, minha responsabilidade cresce", afirmou.

Mas houve uma ruptura com os petistas. "Quando defini também que fui contra o PT por 15 anos, eu não poderia deixar de apoiar algum candidato. Eu procurei, fui no NOVO, passei uma tarde lá, achei um pouco assistencialista, pensei que era mais liberal, acabei pelo Paulo Guedes, com essa coisa de privatizar tudo, e pelo próprio Bolsonaro, eu gostava dele. Entrevistei ele na MTV e depois encontrei com ele no Planalto, é uma pessoa querida, muito diferente dessa caricatura", enfatizou.

Mas daí veio novo distanciamento, agora de Bolsonaro. "Eu não fui incondicional, para mim um político é como um funcionário público, está ali para organizar a vida pública do país. Se ele começa a claudicar, com liderança enfraquecida ou muitas interferências externas nocivas, é meu dever chegar e dizer, não estou gostando", apontou, criticando o filósofo Olavo de Carvalho, de quem antes foi agudo seguidor. "Eu fiquei muito reticente, e um tanto preocupado desde a primeira semana de governo quando vejo o Olavo de Carvalho interferir muito, chamando deputados de comunistas quando foram para a China, foi inconveniente".

Foto: Denis Luciano / 4oito

Lobão vem criticando, e bastante, as posturas recentes do presidente. "Eu posso falar que estudante é massa de manobra, mas ele governa para 210 milhões de pessoas. É óbvio que ele fala demais, fala errado, não se coloca conforme a liturgia do cargo, ele parece que está em campanha ou é um deputado do baixo clero", afirmou. "Eu não estou defendendo os estudantes nem sendo incoerente, eu sou um cidadão comum, não tenho cargo eletivo, sou um artista e livre pensador cujo papel é justamente provocar e confrontar. Ele não", destacou. 

Por tudo isso, há quem venha chamando Lobão de "duas caras". "Eu passei anos tentando travar o Olavo, ele ajudou a elaborar a nova direita brasileira e agora jogando pedra em todo mundo". Sobre Bolsonaro, o cantor reforçou o alerta sobre a necessidade de ele seguir a liturgia do cargo. "Ele não pode se comportar como um presidente de um grupo. De uma nação, é bizarro e inadmissível ele não conseguir conviver com oposição e protesto. Ele está governando também para manifestantes, oposição e protestantes".

Foto: Denis Luciano / 4oito

Nesse embalo, ele deixou uma dura crítica ao modelo cultural brasileiro da atualidade. "Como a cultura, a educação, nossa cultura está na Semana de 22, temos os mesmos paradigmas de elogiar nossos piores defeitos por conta da Semana de 22. Macunaíma, herói sem caráter, jeitinho, malandro, banguela, destentado, pobre cenográfico. Temos que mudar a   mentalidade com elaboração político social de outro nível, econômica também. Quanta coisa temos que mexer para começar a pensar em ser um país que deixe essa coadjuvância para ser protagonista no cenário mundial", sublinhou.

Confira a entrevista completa com Lobão no podcast:

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