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Liberdade, liberdade? República, 129 anos

Dom Luiz de Orleans e Bragança seria o rei. Dom Bertrand, o príncipe. Os líderes da coroa do Brasil hoje
Por Denis Luciano Criciúma, SC, 15/11/2018 - 06:15
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A essa hora, voltando 129 anos no tempo, os conspiradores no Rio de Janeiro caminhavam para o triunfo, levando nos ombros a liderança de Deodoro da Fonseca. O marechal, que viria a ser o primeiro presidente da República Federativa do Brasil, cometeria o gesto “do qual vocês hão de se arrepender para todo o sempre”, teria avisado a Princesa Isabel. Não fosse “o golpe militar de 15 de novembro de 1889”, como chama um dos bisnetos de Isabel, e ela teria sido a imperatriz do Brasil a partir de 1891.

“E a nossa história teria sido muito diferente, mais honesta, limpa e estável”. A definição é de Bertrand Maria José Pio Januário Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança. Dom Bertrand, cuja bisavó era Isabel, é príncipe imperial do Brasil. Se o Império não tivesse sido derrubado, seria ele o atual primeiro na linha sucessória de Dom Luiz, o “imperador presuntivo do Brasil”. Muitas lembranças foram compartilhadas por Dom Bertrand com A Tribuna em uma agradável conversa por telefone direto da residência dos príncipes em São Paulo.

Dom Bertrand de Orleans e Bragança, príncipe imperial do Brasil

Irmãos e religiosos

Sim, existe uma família imperial que, muito mais apegada às orações da ferrenha fé católica – Isabel já era fervorosa – leva hoje adiante a bandeira da Monarquia Parlamentarista do Brasil. Os irmãos Luiz e Bertrand são solteiros, senhores já de idade, e vivem em um casarão no bairro do Morumbi, em São Paulo. Pouco da fachada diz que ali vivem príncipes, a não ser a bandeira imperial. “Meu irmão tem a bandeira original e a espada dos imperadores, herdada de nosso trisavô”, revela Bertrand, referindo-se a nada mais, nada menos, que Dom Pedro II.

Dom Luiz, irmão de Dom Bertrand e chefe da Casa Imperial do Brasil

Os monarquistas ficaram calados durante 99 anos. Era proibida qualquer organização política dos seguidores do antigo regime. Cláusula pétrea da Constituição. “Tudo mudou em 1988, na Constituinte, graças a uma carta de Dom Luiz aos deputados”, recorda o príncipe. Admitida, a Monarquia foi posta a plebiscito em 1993, ao embalo do marcante jingle “Vote no Rei” e com resultado até hoje festejado pelos seguidores da família imperial. Foram 6,8 milhões de votos pela restauração do trono, mas os 10% acabaram poucos perante aos 44,2 milhões pela República, mais de 66%.

“Mas há uma chama acesa. O brasileiro é monarquista de coração”, acredita Bertrand, que tem peregrinado o país para, em encontros e palestras, desfiar as vantagens do regime monárquico. “Dos dez maiores IDHs do Mundo, seis são reinos”, cita o príncipe. “A República no Brasil é sinônimo de crises, golpes e corrupção endêmica, um regime sem apoio popular autêntico no qual os políticos comprar apoios e vivem de conchavos”.

Dom Pedro II, a referência

Dom Pedro II, trisavô de Dom Luiz e Dom Bertrand

Dom Pedro II é citado, pelos 49 anos de reinado, como o grande ícone de “unidade, estabilidade e continuidade”, assegura o trineto do último Imperador brasileiro. “Era um governo honesto, afinal, Rei não rouba. Como dizia Rui Barbosa, o Imperador era um farol que iluminava a Nação”. Dom Bertrand cita uma conduta de seu trisavô. “No tempo dele, havia a ditadura da moralidade. Juiz corrupto, político corrupto perdia o posto. O Imperador tinha seu caderninho preto onde marcava as irregularidades. Coitado de quem caísse na relação dele”.

A Monarquia se orgulha ainda de ter sido regime de uma Constituição só no Brasil, desde a Independência de Portugal em 1822. “Mas nossos problemas não são as leis”, ameniza o príncipe. E para quem pensa que ter um Rei remete muito ao passado? “Países modernos são monarquias de muito sucesso, como Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Suécia”, cita. “Há um Brasil real diferente do Brasil de Brasília”.

Dom Bertrand visitou Orleans, Lauro Müller e São Ludgero no ano passado. Na foto com o prefeito Jorge Koch

Nada a comemorar

E para quem acusa a Monarquia de ser um regime de privilégios, no qual se sustenta uma família imperial com luxos e muito custo? “A dotação da família imperial era de 800 contos de réis desde 1841 até a queda em 89. Primeiro ato do presidente Deodoro foi aumentar em 50%. Daí começou o saque à Nação e a tragédia da República”. Uma das grandes marcas que o reinado carregou no Brasil foi a escravidão. “A princesa Isabel sabia do risco de acabar com essa chaga social que corroía toda a América. Ela abriu mão do trono pela liberdade dos escravos”.

Por tudo isso, o príncipe, porta-voz do irmão Dom Luiz, bate no discurso de que nada há a comemorar no 15 de novembro. “Pelo contrário. Foi um golpe militar de uma minoria contra a vontade do povo”. A família imperial teve seus bens confiscados e esteve banida do Brasil até 1922. Dom Pedro II morreu no exílio, em dificuldades financeiras, dois anos após a proclamação da República. “Valeu a pena a República? A resposta é uma só. Não”, diz o príncipe.

Tudo foi às pressas a partir de 16 de novembro. Improvisou-se uma bandeira e até se fez um novo hino, “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”. Não pegou. Permaneceu a velha canção que exaltava o grito de Dom Pedro I às margens do Riacho Ipiranga. “A monarquia é o que resta das melhores tradições que podem resgatar o Brasil”, conclui o príncipe, esperançoso de que suas próximas gerações possam promover a restauração que seus antepassados tanto sonharam.

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