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Elas que encaram a vida política

Maria Dal Farra Naspolini conta as experiências de quem tentou mudar o cotidiano pelas ideias
Por Denis Luciano Criciúma, SC, 23/03/2019 - 19:40 Atualizado em 04/06/2019 - 13:57
Fotos: Clara Floriano / Rádio Som Maior
Fotos: Clara Floriano / Rádio Som Maior

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João Sônego, Fidelis Back, Mário Sônego, Roseval Alves, Ademir Uggioni, Anderlei Antonelli, Carlos Alberto Barata, Gelson Fernandes, Márcio Búrigo, Verceli Coral e Ricardo Fabris. Desde a instituição do cargo de vice-prefeito eleito, no início dos anos 70, Criciúma teve doze pessoas que ocuparam o posto. Falta um nome nessa lista. O da única mulher que chegou lá. Coube à professora Maria Dal Farra Naspolini o privilégio. E como um ícone entre as mulheres criciumenses que tentavam a vida política, nada melhor que ela para exemplificá-las nesse cenário tão historicamente masculino.

“Na política eu fui movida por muita ingenuidade, ilusão e boa vontade”. Assim define-se Maria, que se elegeu vereadora pelo PSDB em 1992, na eleição seguinte tornou-se vice-prefeita pela mesma sigla e, adiante, optou por abandonar a carreira política.

E nem sempre ela quis trilhar esse caminho. Muito pelo contrário. “Quando fui convidada para participar, eu tinha uma posição de aversão à militância político partidária, pois eu sou professora, trabalhei 42 anos com educação, a educação sempre foi desvalorizada”, lembra.  Tanto que o primeiro destaque comunitário dela veio da liderança de classe no magistério. “Criamos o Proasc, Professores Associados do Sul Catarinense, fizemos uma primeira greve em Santa Catarina e conseguimos, no governo Jorge Bornhausen, 100% de reajuste. As defasagens eram imensas e horríveis”, recorda. “Tivemos governadores que passaram quatro anos sem nos dar um centavo sequer”.

A aversão à política acabou, com o tempo, criando elementos para que ela se dispusesse a buscar, pelo voto, as soluções. Mas ainda demorou um tempo. “Quando fui convidada pela primeira vez, Deus me livre, nunca quis. Daí começou a pressão. Quando vi, estava filiada ao PSDB, de Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, aqui Toninho Milioli, Gilson Pinheiro, que muito me apoiaram”. Mas o coração, ainda calejado pelo sofrimento da educação com pouco reconhecimento, não pendia para a política. “Sofremos muito nas mãos dos políticos, com decepção, mentira e enrolação”.

Maria contou sua história na Rádio Som Maior na última quarta-feira

Um outdoor na porta de casa

De tanto ser pressionada, Maria acabou, ali por 1991, sendo convencida. “Tá, o PSDB, um partido que era inovador, que não estava contente, eu também não estava. Daí começou a pressão para me candidatar, pois os partidos começavam a procurar mulheres”. E Maria tinha as ferramentas para puxar bons votos. Era professora, liderança também no meio católico, com ativa participação voluntária. “Se me convencessem de fazer campanha, eu faria alguma coisa”. Ainda irredutível, ela acabou derrubada em seus argumentos por um estratagema para o qual até hoje Maria busca explicações. “Um dia acordei, fui abrir a janela e, diante do meu quarto, havia um outdoor escrito ‘Há dois mil anos, Maria disse sim. E agora’”. Os que a tentavam convencer a encarar uma eleição apelavam à religiosidade.

Eis que veio o conselho contrário que empurrou Maria para a vida pública. “Certo dia uma amiga veio dizer que lugar de mulher era dentro de casa, que homem fazia política, e que eu colocaria meu nome fora. Uma mulher me dizer isso me deu mais animação”. Pronto. Decisão tomada, veio a eleição. Maria elegeu-se. A única cadeira do PSDB na Câmara. Daí, o primeiro dissabor. “Houve homens vencidos por mim e experientes na política que sequer me cumprimentaram por causa desse resultado, e dentro do meu partido”, não esquece.

Veio o mandato, repleto de desafios. “Primeira posição que eu tomei, vou levar todos os projetos para casa e analisar sozinha. Só depois eu dava uma posição”. Aquilo começou a chamar a atenção dos colegas em plenário. “Por fim muitos vinham me pedir opinião sobre os projetos”. Mas as orientações partidárias incomodavam. “Me diziam, do partido aliado, o PMDB, no que eu devia votar. Aquilo me deixava desconfortável”, confessa. “Eu comecei a me posicionar, e assim ganhei o respeito”.

Maria se lembra de um instante importante da sua atuação legislativa. Quando, na presidência da Comissão de Meio Ambiente, apoiou as comunidades da Quarta Linha e Morro Estevão contra a possibilidade de mineração naquelas áreas. Daquele embate surgiu o projeto da Área de Preservação Ambiental (APA) que mantém aqueles redutos até hoje livres da extração de minérios e do consequente impacto. “Eram agricultores que perderiam a água. Havia muito mais a perder que a ganhar”.

Maria que chegou a vice-prefeita

Do bom mandato, veio uma guinada. Em vez de tentar a reeleição à Câmara, ser vice-prefeita. “Aceitei, com uma condição, que fosse criada a Secretaria de Ação Social e da Família. Assim o foi, eu fui secretária sem receber salários”, enfatiza. 

Embora algumas desilusões, afinal “os motivos de cair fora são diversos”, como define a própria, Maria entende que há um caminho. “Eu tenho certeza, fundamentada na minha expe- riência, que só vai se resolver essa distorção de valores na política quando os de boa intenção forem maioria, pois tudo se resolve no voto”. Convites para voltar à política não faltaram.

“Eu não tenho coragem de entrar nessa seara onde tudo pode, terra de ninguém, eu não tenho mais coragem, eu entro em conflito de consciência. “Tem que fazer essa inversão. Ninguém é perfeito, todo mundo erra, todos somos limitados, mas alguém que não desvie dinheiro da saúde para o seu bolso para viajar na conta de quem nem tem o que comer”.

Maria Dal Farra com Pity Búrigo e Mano Dal Ponte no Programa Do Avesso

Maria, exemplo de mulher que tentou mudar o ambiente onde vive, a esposa do Fulvio Naspolini, a mãe de três filhos e uma das precursoras das mulheres de sucesso na política criciumense. Ela participou do Programa do Avesso da última quarta-feira, na Rádio Som Maior, com Mano Dal Ponte e Pity Búrigo. Ouça o porgrama no podcast abaixo.

Tags: Projeto Elas

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