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De Pedro Benedet a Jorge Zanatta

Em "Centro Cultural Jorge Zanatta", capítulo 30, o fim de uma trajetória e o início de outra: a cultura volta ao seu lar
Por Denis Luciano Criciúma, SC, 14/12/2018 - 10:11 Atualizado em 14/12/2018 - 10:16
Foto: Daniel Burigo / A Tribuna
Foto: Daniel Burigo / A Tribuna

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“Ali vai ter uma casa grande que cuidará de algo muito importante”. O italiano carregado no sotaque, projetado pela voz geralmente em tom alto, fazia da afirmação de Pedro Benedet uma profecia. Mais de sete décadas depois, o casarão por ele idealizado volta a abrigar, como anunciado naquela primeira metade dos anos 40, algo muito importante.

Quando Jorge Zanatta nasceu, em outubro de 1924 na pequena Linha Torrens, à época parte de Urussanga, Benedet já era o coronel. Cabeça pensante do movimento que dali a menos de dois anos faria o distrito de Criciúma desgarrar-se de Araranguá, tratava-se de homem muito rico. Ninguém tinha mais dinheiro que ele naquela vila. Fruto de muito trabalho.

Realidades distintas as de Benedet e Zanatta, que o destino tratou de aproximar. Talvez tenham se conhecido, já que a vida de Jorge em Criciúma começou em 45, como vendedor na loja do irmão Alcino, enquanto Benedet já estava às voltas com a inauguração do casarão. Quem sabe alguma das tantas ferragens necessárias para erguer o vistoso prédio da rua que viria a ter o nome do coronel tenham sido adquiridos no balcão tão bem cuidado pelo então jovem de carreira promissora. É possível.

Entre Benedet e Zanatta, há um fio histórico de homens cujas trajetórias se entrelaçaram naqueles corredores. De Manif Zacharias, o médico comunista e mais ilustre preso político daquele breve cárcere de 64, a Jorge Bornhausen, o senador cuja atuação política foi decisiva para fazer do casarão a casa da cultura criciumense. De Addo Caldas Faraco, o prefeito que mais vezes subiu aquelas escadarias clamando por reinvestimentos do carvão por aqui, a Clésio Salvaro, o prefeito que reabre o Centro Cultural no arejado e renovado ambiente.

De José Pimentel, o ilustre jornalista fundador de Tribuna Criciumense que tanto usou das linhas do seu periódico para cobrar os senhores burocratas alojados naquele prédio, a Carlinhos Ferreira, o professor e teatrólogo que partiu poucos dias antes da refundação e tanto amou aquela casa, onde fez nascer um Café Concerto renovando a erudição daqui. De Ézio Lima, com seus agudos artigos que convidavam aos bons modos, a Henrique Packter, o primeiro presidente da Fundação que a levou a injetar cultura entre paredes que tanto viram da Medicina, nas salas onde operou o primeiro aparelho de raio-x de Santa Catarina. De Carlos Seara, o prefeito cujo filho permitiu à cultura adentrar o espaço do DNPM, a Eduardo Moreira, o prefeito que criou a personalidade que hoje encampa de novo a casa com assinatura cultural.

As memórias de Pedro Benedet e Jorge Zanatta sobem hoje aquelas escadarias. Antes, observam o muro alto. Durante, olham aos lados e veem a vegetação, o velho poço à direita de quem entra, o hall. Dentro, as salas que serviram tanto a reuniões quanto a vernissages, a debates de engenheiros ou saraus de poetas. Ah, e lá no fundo, onde depois houve o renascido Galpão das Artes, o Manif esteve preso enquanto a ditadura vingava, e ali nasceu seu mais premiado livro.

Tantas histórias encontram-se no mesmo ambiente para dizer, que a missão está de novo cumprida: depois dos sonhos, da politicagem, do carvão, das tantas metas, do social, do cárcere, da retomada... depois de tudo isso, as paredes do casarão estão de pé e a cultura volta ao seu lar.

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