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Das ruínas, nasce um novo sindicato

Por Denis Luciano Edição 22/04/2022
A velha sede indo abaixo nesta quinta-feira / Foto: Renato Rovaris / Especial
A velha sede indo abaixo nesta quinta-feira / Foto: Renato Rovaris / Especial

Em 30 de junho de 1945, quatro meses antes de terminar seu governo, o presidente Getúlio Vargas assinava o documento que autorizava o funcionamento do Sindicato dos Mineiros de Criciúma. Era o reconhecimento a uma potência econômica que florescia em parte expressiva do Sul catarinense e tinha na então Capital do Carvão o epicentro.

A propósito, a honraria Capital do Carvão foi cunhada poucos anos depois, já sem Getúlio no poder federal e com Addo Caldas Faraco dando as cartas por aqui. O prefeito do "é bom ser bom" (o slogan que conduziu o avô da deputada Ada de Luca) escrevia densos artigos nos jornais locais em defesa do ouro negro e orgulha-se de ter trazido o vice-presidente Café Filho (no último governo Getúlio) e discursado no Palácio do Catete perante a ministros para defender a indústria carbonífera.

A história que desenrola-se nessas quase oito décadas parece ter vindo abaixo nesta quinta-feira, feriado de 21 de abril, quando as paredes que por anos abrigaram o Sindicato dos Mineiros foram para o chão. Mas não é bem assim.

Foto: Janete Valente / Especial

Por anos a fio, a produção que transbordava das minas de carvão e carregava vagões e vagões para os mais diversos destinos era o sustentáculo da economia local. O comércio vivia o tempo das vendas abundantes quando os mineiros recebiam seus salários. Quem pudesse, comprava o seu terno para as missas de domingo. 

Nesse embalo, indústria forte significava mão de obra cada vez mais numerosa. E os milhares de trabalhadores começaram a se reunir no sindicato, que viveu momentos históricos de mobilização, de luta por direitos, de conflitos dos mais diversos. E de projeção de lideranças, muitas. 

Foto: Renato Rovaris / Especial

Nos anos 70, a categoria entendeu que precisava de um lugar para chamar de seu. E veio a construção da sede da Avenida Getúlio Vargas. Um prédio gigantesco para a época. Com dezenas de salas no térreo, o objetivo era agrupar ali outros sindicatos. A ideia, de que um grandioso complexo sindical compartilhasse espaço físico e trabalhasse cada vez mais em conjunto, acabou não vingando com o tempo.

Se por um lado as crises começaram a arrebatar a produção carbonífera regional, por outro lado o progresso tecnológico fez as carboníferas sobreviventes aderirem a novas formas de extrair o carvão. Cada vez menos homens tornaram-se necessários, e cada vez menos expostos aos riscos das profundezas eles estavam. 

Foto: Renato Rovaris / Especial

A pneumoconiose deixou de ser um pesadelo constante. As explosões perto dos mineiros deram lugar a maquinários operados à distância capazes de abrir o front, colher o carvão e encaminhar para etapas posteriores. E cada vez menos operários perderam a vida nas décadas mais recentes nos subsolos das mineradoras.

Nesse embalo, era natural que o sindicato, na base da antiga Capital do Carvão, fosse perdendo filiados. Dos milhares que já existiram no auge, eles chegaram a 2 mil na região e 700 filiados ao sindicato criciumense nos tempos mais recentes. Era necessário reinventar então.

Um dos momentos da demolição nesta quinta
Foto: Divulgação

O sacode da representação sindical tem relação com um divisor de águas posto em realce nos últimos anos. A discussão sobre o possível fim da mineração de carvão na bacia carbonífera, que por pouco não se tornou algo mais imediato, fez categorias moverem-se. E esse debate uniu, não faz muito, empresários e trabalhadores no mesmo interesse: continuar produzindo carvão.

O fôlego até 2040 que foi assegurado abriu alas para próximas novidades. Uma delas, a sobrevivência do Sindicato dos Mineiros. A deteriorada sede era a principal moeda de troca para pagar os cerca de R$ 2 milhões de dívidas e formar um caixa para o novo salto: tornar estadual a base de um sindicato que salta de menos de 2 mil para mais de 15 mil trabalhadores em sua nova versão. Em setembro passado, o Sindicato dos Mineiros de Criciúma ganhou alçada em quase 100% do estado. Trabalhadores de mais de duas centenas e meia de municípios catarinenses, que extraem não somente carvão, mas também lidam com outros minérios, passarão à acolhida do velho Sindicato dos Mineiros de Criciúma.

Muitos entulhos que ficaram, muita história que se reinventa
Fotos: Divulgação

Garantida esta carta de sobrevivência, veio o passo material. Vendida a sede por R$ 4 milhões para a Construtora Corbetta, chegou a hora de juntar o que tinha e procurar uma nova sede. Atualmente, o sindicato vem atendendo os seus em uma sala perto da Estação Rodoviária. No futuro, Criciúma será uma subsede e Florianópolis abrigrará a sede central do novo sindicato que nasce das ruínas desta quinta.

A demolição surpreendeu. Desagradou até os vizinhos. Nem tanto pelo que está por vir, mais pelo incômodo de um feriado que, de sossegado, passou a barulhento e empoeirado. Não demorou e aquelas paredes tornaram-se entulhos, e a velha versão do Sindicato dos Mineiros acabou.

A máquina operando a demolição ao longo desta quinta
Foto: Divulgação

Que o novo Sindicato dos Mineiros tenha a habilidade de bem representar quem deve ser representado, os seus. Com respeito, dignidade e trabalho.

Tags: todasexta

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