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Coronavírus assusta, mas não tira expectativa de criciumense em intercâmbio em Milão

Estudante Júlia Lodetti está na cidade desde o dia 14 de fevereiro e relata pessoas em pânico, outras tranquilas e o clima de incerteza na capital da moda
Por Heitor Araujo Criciúma - SC, 26/02/2020 - 15:25 Atualizado em 26/02/2020 - 15:49
Júlia na Catedral de Milão, principal cartão postal da capital da Lombardia (Foto: Arquivo Pessoal)
Júlia na Catedral de Milão, principal cartão postal da capital da Lombardia (Foto: Arquivo Pessoal)

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Imagine receber uma bolsa de intercâmbio para estudar em uma das cidades mais desenvolvidas e modernas da Europa, mas também cheia de arte, história e, de lambuja, a principal capital da moda do mundo? A criciumense Júlia Lodetti, 22 anos, estudante de engenharia de produção na Udesc em Joinville, conquistou esse objetivo e está desde o dia 14 de fevereiro em Milão. Porém, o que era recheado apenas de boas expectativas, ganhou um leve contorno de preocupações nos últimos dias: Milão também é, hoje, a capital do coronavírus na Itália.

Apesar de ter apenas dois casos de infectados na cidade, Milão é a maior cidade, capital e destino de outras pessoas da Lombardia, região mais desenvolvida da Itália e a que mais tem casos da doença. Em todo o país, foram 12 mortes, a última confirmada na manhã desta segunda-feira e mais de 320 estão infectados. 12 cidades estão em quarentena, com as polícias nas ruas impedindo que pessoas entrem ou saiam.

Júlia relata que a cidade hoje está dividida entre pessoas que se preocupam de mais com a epidemia e pessoas que se preocupam de menos. Ela coloca-se no meio termo: "nem tão alarmada, mas com muitos cuidados”, explicou a estudante. As aulas de Julia na universidade Politecnico di Milano, que estavam planejadas para começarem nessa segunda-feira, foram adiadas por pelo menos uma semana.

Há a expectativa de que o semestre comece com vídeo aulas. "Eles consideram meio inviável voltar nessa situação, porque os casos estão só aumentando. No início as aulas tinham sido canceladas por causa das pessoas de fora vinham para Milão - até as dessas cidades em quarentena, seria para evitar esse fluxo de pessoas. Como a situação foi alarmada, eles decidiram parar por mais tempo", aponta.

Nas ruas, pessoas com máscaras aumentaram no fim de semana, desde sábado, quando o número de casos do coronavírus na região disparou. Os mercados têm dificuldades em repor os itens básicos, como macarrão, água e xampu. As pessoas mais alarmadas vão às compras para criar grande estoque e não precisar mais sair de casa nos próximos dias.

Reposição dos produtos não consegue corresponder à demanda

"No domingo e segunda era muita gente no mercado. Acabou quase tudo. Máscara e álcool gel nas farmácias eles tão sem até agora. No mercado hoje já tava tudo normal, eles estão trabalhando bastante, apesar de não conseguir repor com tanta rapidez", aponta Júlia. Apesar do pânico aparente em parte da população, a expectativa é de que Milão continue operando, mesmo que com capacidade limitada, pelo menos até que a doença consiga ser controlada - ou entendida.

"A gente acredita que Milão vai continuar funcionando, o mercado e maioria das lojas, que estão só com horário reduzido. Vários museus estão paralisados por uma semana, a gente não sabe se depois volta ao normal ou muda. Os especialistas dizem que não conseguem prever nem o dia de amanhã, que estão conhecendo o vírus agora e não sabem se amanhã vai ser pior ou melhor", diz a estudante.

Os riscos

Estrangeira em um país em que não domina a língua, Júlia procura as informações mais precisas sobre o assunto. Com o risco do surto da doença na região, ela foi acalmando aos amigos e familiares, que estão em Criciúma, pela internet. Porém, com o grande fluxo de notícias estampando Milão, o jeito foi acalmar a todos pelo telefone. Após as conversas, todos se tranquilizam sobre o risco do coronavírus. "À medida que fomos tendo mais informações, fomos todos nos acalmando. Eles apenas me lembram sempre de tomar vitamina C e tomar os cuidados necessários na rua, além de pensar positivo", conta. 

"Eu estou oscilando um pouco entre ficar tranquila e preocupada. A preocupação acaba não sendo tanto em relação a pegar o vírus, mas em relação a não saber quanto tempo isso vai durar e e não ter certeza do que é melhor fazer", afirma Júlia. Os jornais publicam falas de autoridades e pesquisadores para tranquilizar a população local, mas as notícias falsas circulam em proporção semelhante. "Estou acompanhando a página do jornal La Reppubblica principalmente, o único que já tenho certeza ser confiável, porque existem muitas notícias falsas também". 

Coronavirus é o principal assunto na imprensa italiana (Foto: Reprodução)

Cuidados

Até o momento, a Itália confirma que todas as mortes foram em idosos, alguns deles com outras doenças graves no histórico de saúde. Apesar de não ser um vírus com a taxa de mortalidade considerada alta, o coronavírus preocupa por ter alto grau de contágio e também por quem convive intimamente com pessoas que se enquadram na situação de risco.

"Conheci uma menina que estava com a família aqui e como seu pai já é mais idoso, eles se preocuparam bastante. Acredito que muitas pessoas se preocupam com alguém próximo em situação de risco, talvez não tanto com elas mesmas", argumenta Júlia. "Ainda assim, têm pessoas que estão se cuidando muito pouco, perto do que eu acho que elas deveriam se cuidar", acrescenta.

A situação italiana acende o alerta em outros países, especialmente aqueles que tem fronteiras terrestres. "Vários trens estão sendo cancelados, mas as pessoas estão saindo da cidade de qualquer jeito e indo para outros lugares. A Áustria fechou a fronteira ferroviária, mas ainda tem vôos para lá. Londres e Paris recomendam que as pessoas vindas da área de risco deveriam ficar duas semanas em quarentena, mas a gente sabe que nem todo mundo quer ficar", comenta.

Risco de coronavírus não tira população da rua em Milão

Expectativa

Com permanência em Milão confirmada pelo menos até agosto, podendo se estender caso as aulas demorem a começar, Júlia mantém, num quadro geral, a boa expectativa que nutria pelo intercâmbio. Conseguindo entender o italiano básico, depois de ver muitos filmes no idioma antes da viagem, ela torce para que todos os temores passem o mais rápido possível.

"Minha expectativa no geral sempre foi conhecer a cultura italiana, que é tão famosa na região de Criciúma, aprender um pouco a língua, conhecer e ter experiência no sistema educacional italiano que é bem diferente do nosso. No momento espero que tudo normalize o mais rápido possível, pra que eu não dependa de ter aulas online apenas por um longo período", conclui. 

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