O empresário Ricardo Faria, fundador da Granja Faria e dono do conglomerado Global Eggs — que produz 13 bilhões de ovos por ano e está presente no Brasil, Europa e Estados Unidos — fez duras críticas ao ambiente de negócios e ao mercado de trabalho no Brasil. Em entrevista à Folha, ele destacou a burocracia, a insegurança jurídica, os altos encargos trabalhistas e programas sociais como fatores que dificultam a contratação e inibem a produtividade no país.
“Operar no Brasil é como remar rio acima, desviando de árvore caída, cobra e jacaré”, afirmou Faria, usando uma metáfora para descrever a complexidade enfrentada por quem empreende no país. Segundo ele, as dificuldades vão desde a criação de uma empresa até a gestão de pessoal, em função de um sistema que privilegia a formalidade excessiva e penaliza o mérito.
Dificuldade para contratar e manter funcionários
Faria relatou que está cada vez mais difícil encontrar trabalhadores dispostos a assumir vínculos formais. “Os jovens não querem mais carteira assinada nem ir todo dia para o mesmo lugar. E o Estado continua tutelando essa relação, impedindo formas mais flexíveis de trabalho”, criticou.
Ele também apontou o programa Bolsa Família como um dos fatores que desestimulam a busca por emprego. “As pessoas estão viciadas no Bolsa Família. Não conseguimos nem trazê-las para treinar e oferecer uma vida melhor. Elas estão presas ao programa.”
Direitos trabalhistas x liberdade de escolha
Comparando com a realidade dos Estados Unidos, onde também atua, Faria questiona o modelo trabalhista brasileiro. “Pergunta para o cidadão: prefere ganhar R$ 250 por mês com um monte de direito, ou R$ 5.000 sem direito nenhum? O mercado regula isso. Nos EUA, um trabalhador que embala bandeja de ovo ganha US$ 20 por hora e escolhe quantas horas quer fazer.”
O empresário defende que a legislação brasileira deve garantir liberdade de escolha e condições para que o trabalhador possa negociar diretamente com a empresa. “Hoje temos uma Justiça que muitas vezes ignora a vontade de trabalhadores e empregadores, mesmo após a reforma trabalhista.”
Retrocesso na reforma e engessamento
Para Faria, a reforma trabalhista aprovada em 2017 não foi suficiente para destravar o mercado. Pior: estaria sofrendo retrocessos por decisões judiciais. “Podem 513 deputados e 81 senadores votarem, o presidente assinar, e o juiz ir lá e dizer que não vale. Nosso voto não vale nada. O país está se engessando.”
Ele critica a insegurança jurídica e a intervenção estatal nos negócios privados, que, segundo ele, sufocam a competitividade. “É preciso desburocratizar, deixar o mercado regular. O Estado se mete demais.”
Ambiente inóspito para empreender
Além das questões trabalhistas, Ricardo Faria também condena a alta carga tributária e os juros elevados, que dificultam investimentos no país. Segundo ele, enquanto nos EUA é possível abrir uma empresa em poucas horas, no Brasil os custos e a lentidão dos processos desestimulam o empreendedorismo.
Por isso, diz ter transferido sua residência fiscal para o Uruguai e concentrado a expansão da Global Eggs fora do Brasil. “Não saí por causa do Haddad, saí porque queria crescer. Hoje, 80% do nosso negócio está fora.”
"Discussão besta": crítica à polarização
Embora tenha feito doações a candidatos liberais e de direita, como Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, Faria evita se envolver em debates ideológicos. “Fica essa discussão de rico contra pobre. Uma discussão besta de direita contra esquerda. Isso não resolve a vida do povo. Desvia o foco do que realmente importa.”