A família Martins gosta de viajar. De Porto Alegre, monitoram caminhos que sejam atrativos e não muito caros. O olhar deles para Santa Catarina é constante. Já conhecem toda a nossa costa. “É linda”, resume Paulo Roberto, o pai. O empresário de 48 anos já veraneou de Balneário Gaivota a Piçarras. “Mas Garopaba é imbatível”, diz o fã confesso daquelas praias.

De uns tempos para cá, eles andam buscando outros recantos. Passearam pelos cânyons de Praia Grande mas demonstraram especial encanto pela Serra do Rio do Rastro. “Essa estrada de vocês é incrível”, enche o peito a também empresária Solange, 42 anos, mulher de Paulo Roberto e mãe de Cíntia, 17, Luan, 15, e Camila, 8 anos, os filhos que encheram o carro e os olhos na tarde nublada de sábado pelos caminhos da SC-390.

“Eu já estava enjoada com o zigue-zague”, reconhece Cíntia, quando pediu para o pai estacionar o carro. Viu um recuo movimentado, com vários carros de diversos lugares e um mirante de metal que se espichava pela encosta. “Dá frio na barriga isso”, disse a jovem, sem conter a curiosidade com os irmãos. Quando a pequena Camila viu o agito dos bichinhos peludos que saltitavam entre as dezenas de curiosos e visitantes de várias partes, não teve dúvidas. “Ela saltou correndo do carro”, conta Paulo Roberto.

Diante das meninas animadas, tomou a frente o irmão Luan. Ele foi o primeiro a ter coragem de tocar nos quatis, os animais que em grande número povoam aqueles cenários verdes recortados pelo piso de concreto da rodovia. “São bem dóceis mesmo”, confirma o jovem. Camila carregava um saco de pipocas. Aquilo agitou os bichos que, de tanto pularem por perto, conseguiram o que queriam, ganharam comida. A família partiu, os quatis comeram tudo, os Martins se encantaram até o mirante em Bom Jardim da Serra e seguiram viagem. Mas deles fica um exemplo. O necessário cuidado com os animais.

Não alimentem os quatis

Vegetais e animais são a base da alimentação dos conhecidos quatis-de-cauda-anelada, com sua cauda comprida e colorida e seu focinho longo. Com média de 80 a 120 centímetros, ele gosta é de comer minhocas, rãs e ovos. As mamães concebem seus filhotes em gestações de 10 a 11 semanas, dão a luz de dois a sete filhotes que não pesam mais que 100 gramas ao nascer.

O mamífero chega a até 6 quilos na vida adulta. A médica veterinária Laura Vieira Tonon, em postagem do Portal Sul In Foco, adverte. “A aproximação das pessoas faz com que eles (os quatis) percam o medo dos humanos e acabam sendo facilmente levados por gente mal-intencionada”. De fato, na integração flagrada nos caminhos da Serra do Rio do Rastro observa-se a pouca timidez deles perante aos visitantes curiosos. “A alimentação incorreta com salgadinhos, pipocas e balas prejudica o desenvolvimento deles, com aparecimento de doenças”, reforça.

Outro fator importante é que o alimento dado pelos humanos acomoda o quati. “Eles se tornam dependentes e perdem a capacidade de sobreviver procurando a própria comida na natureza”, enfatiza a veterinária. A especialista alerta, ainda, que eles não devem ser tocados. “Os animais silvestres são hospedeiros de diversas doenças, por isso não devemos tocá-los. O contrário também acontece, pois as pessoas acabam transmitindo doenças que não existiam nos bandos”.

Mais um ponto importante é que as mordidas dos quatis podem machucar. “Sim, eles mordem, então evitem acidentes, principalmente com as crianças”, pontua. Alertas importantes para a família Martins e outras tantas que vem movimentando a Serra do Rio do Rastro praticamente todos os dias.

Em Lauro Müller, preocupação

Encantados com as belezas da Serra do Rio do Rastro, os turistas nem reparam tanto com os problemas. Mas os nativos conhecem. Essa erosão, formada faz poucas semanas após um dos temporais, incomoda. Já está sinalizada, mas é uma das muitas melhorias que aguardam por recursos. A Defesa Civil estadual está em fase final de elaboração do projeto que captará R$ 20 milhões para investimentos na SC-390. “Estamos trabalhando muito para tornar a Serra cada vez mais um aparelho turístico. É a nossa grande referência”, comenta o prefeito de Lauro Müller, Valdir Fontanella.