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A cultura sem teto

Em "Centro Cultural Jorge Zanatta", capítulo 29, a queda e a recuperação da casa da cultura criciumense
Por Denis Luciano Criciúma, SC, 13/12/2018 - 11:05
Arquivo / A Tribuna
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Carlos Otaviano Seara era prefeito em 1947 quando o casarão da Pedro Benedet tinha dois anos. Estava novinho em folha na sua arquitetura colonial em estilo espanhol, assim defendida pelo primeiro presidente da história da Fundação Cultural de Criciúma. Quase meio século depois, quis o destino que o filho de Seara, o engenheiro Luiz Felipe, dirigisse o Departamento Nacional de Produção Mineral quando recebeu um pedido daquele presidente citado a pouco, o oftalmologista Henrique Packter: ceder o casarão para abrigar a casa da cultura criciumense. Tempos de menor burocracia aqueles.

O prefeito Eduardo Moreira talvez não imaginasse que duas décadas e meia depois seria governador do Estado quando, em 15 de março de 93, assinou a lei que criou a Fundação Cultural de Criciúma. O encontro de Packter com Luiz Felipe foi em 7 de maio e, pouco depois, algumas salas do casarão já eram da cultura. Sob a metódica organização de Packter, a história pode saber que a Fundação nasceu com o cadastro de 35 artistas plásticos, dez grupos de corais, treze entidades étnico-culturais, sete academias de dança, uma escola de música e dez grupos folclóricos, fora os 106 associados à associação dos músicos na cidade.

Ainda em 93, prova de que as coisas de fato corriam mais rápido naqueles tempos, a Fundação ganhou um estatuto em 19 de novembro, seis meses depois de criada. Ela nasceu com um Conselho Deliberativo, bastante bem representado, e um organismo para cuidar do turismo.

Mas nem tudo são flores na briga do casarão com a burocracia. Se o que dependeu do município correu em boa velocidade nos primeiros tempos, não se pode dizer o mesmo da batalha para o óbvio, tombar o prédio que nasceu da doação do terreno por Pedro Benedet e inaugurado havia sido em 1945. Tornar o patrimônio histórico, artístico e cultural legalmente protegido começou com o processo local em 1991, antes mesmo que a Fundação Cultural existir, mas já sob o Governo Pinho Moreira. Porém, o tempo passou, a estrutura da cultura consolidou-se como ocupante única do prédio em abril de 1996 e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN, só foi avalizar o decreto de tombamento em 2007. Foram 16 anos de espera pelo óbvio.

Em se tratando de espera, o tempo fez das suas. O casarão erguido em meados de 45 tinha paredes fortes. Tanto que lá estão elas, 73 anos depois dando conta do recado. Sobreviveu a abandono, desleixo e até incêndio. Mas o que era de madeira entregou-se algumas vezes. Houve a grande reforma de 94 capitaneada pelo mecenas Jorge Zanatta. E em 2015 a Fundação Cultural pela primeira vez foi despejada. Completamente sem manutenção, o prédio não aguentou. Madeiras podres expunham verdadeiros tesouros ao léu. Até um piano que adormecia com suas notas emudecidas viu o relento soprar. Três anos em que a cultura ficou sem teto. Chegou a hora de voltar para casa.

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