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Os muçulmanos avisam: tem Ramadã em Criciúma

11 mil quilômetros a sudoeste de Meca, a cidade sagrada do Islã, está a Mesquita Palestina do Sul catarinense. Nela, a fé é inabalável
Por Redação Edição 08/04/2022
Fotos: Ana Lúcia Pintro / Especial / 4oito
Fotos: Ana Lúcia Pintro / Especial / 4oito

Eles são de uma disciplina implacável na fé. Maior religião do Mundo em fiéis, fato reconhecido pelo próprio Vaticano, o islamismo tem pés fincados na tradição árabe. Mas, com o sangue dos seus patrícios, foi espalhando-se pela Terra, absorvendo culturas locais, vencendo dificuldades e ganhando seu espaço.

Mas sem abrir mão das tradições. Uma delas é seguir enfaticamente o Ramadã, o período sagrado dos muçulmanos. O nono mês do calendário islâmico, de 1º de abril a 1º de maio, chama os seguidores a um período de renovação da fé, da prática extremosa da caridade, da fraternidade enaltecida, dos valores familiares evidenciados. O Alcorão é lido com ainda maior frequência, as orações reforçadas e o jejum, indispensável. Tudo isso com o coração voltado ao horizonte muçulmano que chama-se Meca, a cidade onde cada fiel ao Islã precisa ir uma vez na vida. Criciúma e sua Mesquita Palestina estão 11 mil quilômetros a sudoeste desse destino sagrado.

Para contar um pouco da presença da tradição islâmica em Criciúma, Toda Sexta lançou um desafio e a acadêmica de Jornalismo da UniSatc, Ana Lúcia Pintro, topou. Ela foi à Mesquita Palestina, conheceu os rituais, os frequentadores e compartilha esse passeio agora. Aproveite. Boa leitura!

Por Ana Lúcia Pintro
Especial / Toda Sexta

Quando sol vai se pondo e a noite chegando, o movimento costuma aumentar no Parque Centenário Altair Guidi. São muitos e muitos que buscam ali o espaço para cuidar do corpo e da mente correndo, caminhando, praticando atividades físicas ou, simplesmente, fazendo nada, descansando. Enquanto isso, ali do lado, basta atravessar a Rua Palestina onde os muçulmanos de Criciúma se encontram. É na Mesquita Palestina, onde os ensinamentoss do Alcorão, o sagrado livro do islã, pauta os encontros de todas as noites, às 20h. O grupo reza e assiste uma aula de 10 minutos.

O trabalho espiritual aos muçulmanos frequentadores da mesquita de Criciúma é dirigido pelo xeique Adil Ali Pechliye. “Quem quiser pode entrar aqui, desde que não use roupas curtas, justas ou transparentes", adverte o xeique. "São todos bem-vindos", frisou, citando que há também as reuniões diárias das 12h, também com uma hora de duração.

A sexta-feira é o dia especial da reunião da maioria dos muçulmanos nas mesquitas. Graduado na Arábia Saudita, o xeique Adil trouxe de lá a responsabilidade e o conhecimento do Alcorão. E também a disciplina, que coloca os homens reunidos descalços, em um salão forrado com um tapete azul, sem cadeiras. Eles se postam lado a lado e em filas verticais. O espaço das mulheres é em um mezanino, onde há um tapete vermelho. Elas também oram, mas não com o mesmo dever dos homens de comparecer à mesquita. Eles rezam voltados para Meca, onde está a estrutura sagrada Caaba, referência do islã na Arábia Saudita. 

Xeique Adil em um dos muitos momentos de atenção aos fieis e visitantes

O ritual tem um momento importante: os fieis se ajoelham e tocam a cabeça no chão. É um gesto de respeito da criatura para com o criador. Em um dos sermões recentes sobre a força da oração, o xeique Adil destacou a importância dos cinco momentos diários de reza, outra tradição islâmica. “A oração é importante porque nos purifica dos erros e dos pecados que cometemos todos os dias. E também, porque ilumina nosso coração e nossa alma”, enfatizou.

Várias experiências de fé

Pela abertura que confere, a mesquita atrai religiosos de diversas denominações que buscam novas experiências. É o caso de Juliana Thofehrn, que costuma rezar em um capela nos fundos da Paróquia Nossa Senhora da Salete, na Próspera, onde reside. Além de frequentar a Igreja Católica, estuda o Espiritismo, nas reuniões da Casa Espírita Seara de Jesus. 

As mulheres têm seu espaço entre os muçulmanos

"Fiquei impressionada", contou, ao participar de um dos encontros na Mesquita Palestina. Ela destacou o quão diferenciado é se abrir a novas experiências de fé o que, na sua opinião, enriquece a vida. "Apesar de ter a certeza que todas as religiões são boas, fiquei emocionada e tocada pelo que vi na mesquita. Apesar das diferenças culturais, observo que transborda amor e caridade", salientou Juliana.

Para ela, as pessoas precisam cada vez mais reservar tempo para entrar em contato com as mais diversas culturas. "A palestra que eu assisti na mesquita se encontra com o que eu acredito. Deus é amor, é universal, perdoa, compreende e ama. Cada um de nós tem responsabilidades pelos seus atos", sublinhou.

Espaço para crianças também

Não é só de adultos que vive a rotina da Mesquita Palestina de Criciúma. Que o diga Julia Rocha da Silva, de 9 anos. Ela conta que ouviu falar de muçulmanos e mesquitas em uma aula de Educação Artística na escola. Manifestou interesse e teve permissão da família. Em contato com um seguidor do Islamismo, teve acesso ao Alcorão. Nesse momento, conheceu a escrita árabe, da direita para a esquerda.

Julia foi à mesquita, gostou e está conhecendo o Alcorão e as tradições muçulmanas

E daí Julia conheceu outra característica da fé muçulmana: "não se deve pegar o livro nas mãos sem antes fazer a ablução, que é um ritual de limpeza e purificação de partes do corpo", afirmou a jovem, bastante interessada. “Tentei explicar para minha mãe o que aprendi, mas não tem como explicar, ela tem que vir. Achei interessante a maneira como eles rezam, eles abaixam e levantam. Gosto de conhecer para saber respeitar”, comentou Julia.

Cerca de 400 muçulmanos

O xeique Adil calcula que em Criciúma, Nova Veneza e Forquilhinha residem de 300 a 400 muçulmanos, muitos oriundos de países africanos como Gana, Togo e Senegal, e que migraram nos últimos anos para a região. Há poucos árabes e brasileiros praticantes que frequentam a mesquita.

Os encontros podem ser acompanhados no canal da TV Islam Sul de SC no Facebook. Contatos podem ser feitos pelo whatsapp (48) 9670-3455.

História da Mesquita Palestina de Criciúma

Santa Catarina tem cinco mesquitas localizadas em Criciúma, Lages, Palhoça, Joinville e Florianópolis. Há mais comunidades islâmicas em Chapecó e Tubarão. No final da década de 1970, árabes muçulmanos do Líbano e da Palestina chegaram a Criciúma. Em 1983 fundaram a Sociedade Beneficente Muçulmana de Criciúma (SBMC). 

Eles recuperaram alguns subsídios que recebiam do governo, perdidos com a Constituição de 1988 e que proibia entidades religiosas de receber subvenções, criando uma entidade para divulgar a cultura árabe na cidade. Logo, começaram a projetar a mesquita e iniciaram a construção em meados da década de 1990 e, no dia 16 de junho de 2000, ela foi inaugurada.

Xeique Adil cuida da rotina da Mesquita Palestina em Criciúma

Islã no Brasil

O Islã chegou ao Brasil principalmente com os escravos hausas (Nigéria e região do Sudão), fulanis (são cerca de 35 milhões de pessoas dispersas por 15 países, da costa atlântica do Senegal à densa selva centro-africana), yorubas (uma das maiores etnias do continente africano em termos populacionais) e malês (origem na palavra imalê, que significa muçulmano na língua iorubá).

Houve revoltas dos malês muçulmanos que se opuseram contra a escravidão e a imposição da fé católica. A revolta aconteceu em Salvador, na Bahia, em 1835 e mobilizou cerca de 600 escravos.

Curiosidades sobre o Islã

Islã significa "submissão voluntária à vontade de Deus". É considerada a maior religião do mundo, segundo o próprio Vaticano que anunciou isso em 2008. Porém, no mundo há mais cristãos que muçulmanos.

Os muçulmanos creem que o Alcorão é a palavra literal de Deus (Alá) revelada ao profeta Maomé (Muhammad) ao longo de um período de vinte e três anos. O livro sagrado não pode ser comercializado. O alcorão tem 114 capítulos.

Os cinco pilares do Islã são: acreditar em Deus e no seus mensageiros; fazer cinco orações por dia; realizar o pagamento do zakat que é a doação em dinheiro a uma pessoa necessitada; participar do Ramadã quando ficam da alvorada até o pôr do sol sem comer, beber e ter relação sexual no período de um mês; e visitar o templo sagrado de Meca, na Arábia Saudita, uma vez na vida.

Alcorão, o livro sagrado do Islã

Os muçulmanos fazem cinco orações durante o dia. A primeira ao alvorecer; a segunda, ao meio-dia depois do sol atingir o seu ponto máximo; a terceira entre o meio-dia e o pôr do sol; a quarta, logo após o pôr do sol; e a quinta, à noite, pelo menos uma hora e meia após o pôr do sol e não pode passar da meia-noite.

O muçulmano é contra terrorismo, ato que discrimine outras religiões, defende que matar é crime, convoca para conservar a natureza e não matar os animais.

(Edição e supervisão: Denis Luciano / Redação / 4oito)

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