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Vela: esporte em que brasileiros são destaque no mundo, ganha força no Sul

Balneário Rincão vira celeiro de velejadores que buscam desenvolver a prática na região
Por Heitor Araujo Balneário Rincão, SC, 21/08/2021 - 13:31 Atualizado em 21/08/2021 - 14:10
Fotos: Guilherme Hahn/Especial/4oito
Fotos: Guilherme Hahn/Especial/4oito

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A partir da década de 70, a Lagoa dos Esteves, no Balneário Rincão, virou o palco dos barcos a vela na Região Carbonífera. Inicialmente, os velejadores partiam do Campestre Iate Clube, mas foram gradualmente migrando para a margem oposta, com a criação do que é hoje o Iate Clube Veleiros da Lagoa.

Ainda com o estigma de um esporte elitizado, principalmente pelos preços dos barcos, a vela é o esporte olímpico mais bem-sucedido no Brasil. Torben Grael e Robert Scheidt são os maiores medalhistas do país, enquanto Martine Grael e Kahena Kunze despontam como a "nova geração", com o bicampeonato Olímpico na classe 49er FX.

No Rincão a vela, além de ser um hobby, é também um objeto de competição, para 35 associados ao Iate Clube Veleiros da Lagoa, fundado em janeiro de 1996. Na Lagoa dos Esteves, anualmente, dezenas de competidores do Sul e Sudeste do país entram na água, em duplas pela classe Snipe, para a Taça Alberto Lineburger, consolidada no calendário do esporte da região.

A competição ocorre sempre no feriado de Corpus Christi e neste ano chegou à XXIV edição. O nome é em homenagem ao famoso construtor de barcos, um dos pioneiros do esporte na região. Lineburger trabalhava em um estaleiro que foi contratado para fazer barcos para etapas mundiais em 1959 e, a partir daí, vendeu exemplares para expoentes do esporte.

No fim da década de 90, com a morte de Lineburger, o então recém-nascido Iate Clube Veleiros da Lagoa criou a competição. Em 2021, foram mais de 20 duplas na Lagoa dos Esteves, em oito regatas disputadas entre os dias 3 e 5 de junho.

Mais do que uma taça tradicional realizada anualmente, o Iate Clube Veleiros da Lagoa sediará, no dia 7 de setembro deste ano, o Sul brasileiro da classe Snipe. São esperadas 30 embarcações, ou seja, 60 velejadores estarão nas águas da Lagoa dos Esteves durante a competição.

Além de competidores de outros estados do Brasil, os velejadores locais também participarão. Está no horizonte do Iate Clube Veleiros da Lagoa, para os próximos anos, a formação de base para elevar o nível dos competidores e, assim, obter resultados mais expressivos em competições nacionais e sul-americanas. 

Nasce o velejador

Martine Grael e Kahena Kunze estão na história do esporte brasileiro. A dupla fez parte dos medalhistas de ouro nas duas melhores participações do país em Jogos Olímpicos: venceram a classe 49er FX no Rio 2016 e Tóquio 2020. 

Martine é filha de Torben e sobrinha de Lars; o primeiro é o maior medalhista olímpico do país, com dois ouros, uma prata e um bronze, enquanto o segundo tem dois bronzes. Kahena é filha de Cláudio Kunze, campeão mundial júnior da classe Pinguim em 1973.

É usual, na vela, a hereditariedade. Os filhos começam a velejar com os pais e o esporte torna-se o hobby ou um meio de competição. Na região de Criciúma, não é diferente. O sobrenome Lineburger, por exemplo, continua no quadro de associados do Iate Clube Veleiros da Lagoa.

No clube, é comum pais e filhos estarem integrados em meio às competições. O pai ensina o filho a velejar. Ou ambos aprendem juntos. É o caso de Eduardo Mondardo, diretor de eventos do Veleiros da Lagoa. 

Eduardo é um dos dez participantes do circuito regional - realizado anualmente no clube - da classe Snipe que foram às águas no dia 7 de agosto de 2021. Ele veleja desde os 12 anos de idade e começou, curiosamente, no mesmo ano em que foi criado o Iate Clube Veleiros da Lagoa e que o Iatismo deu duas medalhas de ouro para o Brasil nos Jogos Olímpicos em Atlanta, com Robert Scheidt na classe Laser e Torben Grael e Marcelo Ferreira na classe Star. 

"Meu pai comprou o barco sem saber velejar. Aqui na Lagoa dos Esteves, fizemos a travessia, em vai e volta em vento de través, é só virar a vela, tu vai e volta e foi isso. Quando vinha vento mais forte até virava, mas a gente estava de colete e era verão, então tudo certo", relembra.

Segundo Eduardo, quando começou a velejar, os barcos que usou eram feitos pelo próprio Alberto Lineburger. "A gente tinha barcos de madeira doados pelo Alberto Lineburger para poder velejar, da classe Optmist. Em 1997 a gente começou a participar dos campeonatos em Floripa, com barco de madeira nem tinha como competir muito bem", conta. 

Os barcos

No Rincão, a competição é voltada para a classe Snipe, cujo barco mede 15 pés – aproximadamente 4,5 metros – e é tripulado por dois velejadores: o timoneiro e o proeiro. No começo, nos tempos de Lineburger, as embarcações eram de madeira, mas foi evoluindo e atualmente são feitas de fibra. 

Segundo Eduardo Mondardo, um barco para competição, o conjunto completo com mastro, vela e casco, fica em volta de R$ 50 mil. Só a vela custa aproximadamente R$ 10 mil. No entanto, para quem quer começar no iatismo como hobby, o preço cai consideravelmente: “hoje consegue-se achar barco no entorno de R$ 3 mil a R$ 6 mil, para brincar na lagoa”, diz Eduardo. 

“O esporte é elitizado pelos preços. Uma barreira de entrada é a aquisição do equipamento, é uma pena. Precisa do governo ter o incentivo ao esporte e tem as barreiras de imposto", opina Mondardo. O mastro é feito de alumínio e a vela de poliéster e há, segundo o velejador, apenas quatro fábricas no mundo que produzem o barco Snipe: no Brasil, EUA, Espanha e Itália. 

Na década de 70 a madeira foi substituída pela fibra. "No começo a fibra não tinha durabilidade e os moldes não eram tão bons. Tinha uma diferença, mas não tão gritante quanto hoje", relata Eduardo Mondardo, que competiu na etapa regional disputada no dia 7 de agosto com um casco de madeira feito por Lineburger.

Cada barco recebe a numeração de fabricação, em contagem única no mundo. Calcula-se que haja 31.717 barcos de Snipe. Para velejar a lazer, Mondardo aponta que uma vela pode durar de 10 a 15 anos, mas que em competição de alto nível pode haver até a troca entre uma regata e outra. "Novinha o material está mais duro, então consegue ter melhor forma da vela", pondera.

Aulas no Rincão

O Iate Clube Veleiros da Lagoa projeta uma expansão. Há o projeto, já em análise na prefeitura do Balneário Rincão, para a construção de um galpão de 600 metros quadrados no local para abrigar embarcações montadas para a competição, com o pé direito de nove metros.

Para isso, propõe-se uma espécie de “financiamento societário”. O clube quer ampliar o quadro de sócios, com a venda de mais 10 títulos pelo preço de R$ 30 mil. Semelhante ao que foi feito em 1996 para a construção da sede, localizada na Vila Suíça, às margens da Lagoa dos Esteves.

Além de ampliar o quadro societário, uma das ideias que já está em prática é a de formação de novos atletas. Eduardo Mondardo dá aula aos domingos para cinco crianças, entre 8 e 10 anos. A ideia começou, segundo ele, como um incentivo para o próprio filho seguir os passos no esporte.

"Queria que meu filho velejasse, mas ele não faria sozinho. Trouxe os amigos dele para ter aula junto, assim como um possível professor que estou ensinando", revela o velejador.

A vela, para Eduardo e quem frequenta o Iate Clube, é um hobby. Assim, apenas nos fins de semana os barcos vão para água. Portanto, para ampliar as aulas, o Veleiros quer formar novos professores que consigam estar presentes durante os dias de semana. "Precisa ter o professor, focado para dar aula. Que tem o diferencial e ganha o salário dele", aponta. "Dá para fazer 10 alunos por dia, turma na segunda e quarta, outra terça e quinta, domingo abre regata", completa Eduardo.

“Vamos fazer uma parceria com a Educação Física da Unesc. Vamos dar curso para os alunos da Unesc como atividade para conhecer a vela. Vamos promover o conhecimento da vela, para velejar por prazer, mas acreditamos que podem sair professores, porque precisa. Tem que fomentar e trazer gente nova, desde criança até adulto", revela o diretor de eventos do clube.

Formar competidores

Formar professores, jovens atletas e trazer gente de fora para a troca de experiências. Assim projeta-se maior competitividade aos velejadores locais. 

"A vela tem campeonato de 1850, antes das Olimpíadas. Tem que ter investimento e aprimoramento. Estamos aqui, será que vamos ganhar do polo de Florianópolis e Porto Alegre? A ideia é trabalhar aqui com estrutura e base. Tem que começar pelo básico, trazer gente de Floripa que é um pouco melhor que a gente para melhorar a nossa base. Melhorando a nossa base, faz os três melhores daqui se aprimorarem", relata Eduardo Mondardo.

Segundo o velejador, os atletas locais ainda não conseguiram destaque no cenário nacional. "Falta muito. Estamos começando, em 2019 fomos ao Sul brasileiro em Ilha Bela. Era treino para o Campeonato Mundial, na raia tinham muitos campeões mundiais. Testa o teu nível. O que acontece na região Sul e Sudeste a gente acompanha, no Nordeste já fica muito longe”, diz.

"A gente participa do Sul-americano, Punta del Este, Montevidéu, Buenos Aires... No Chile já fica um pouco longe para ir, mas vai também. No Brasil acontece em Porto Alegre, Florianópolis e Rio de Janeiro. Quando é em Floripa a gente não tem como não ir", completa.

Junto com um cenário mais competitivo, o Iate Clube Veleiros da Lagoa quer ter mais reconhecimento na própria região. "Ficou muito tempo na inércia, quem veleja, veleja. Quero modificar isso, promover a vela. Tem um gaúcho que veleja, veio morar aqui na região e ia para o Morro dos Conventos. Descobriu o Iate aqui e mudou-se para a Vila Suíça".

Dificuldade?

Segundo o diretor de eventos do clube, o Veleiros da Lagoa está à disposição para quem quer iniciar no esporte. E, ao contrário do que pode parecer quando se vê o esforço dos velejadores na TV e a quantidade de nós e cabos no barco, na vela e no mastro, começar a praticar não é uma tarefa tão difícil.

"Muitas vezes vem um pai que gosta e traz a criança, a gente procura trabalhar nessas duas pontas. Velejar é fácil, se colocar a pessoa num laser, em vento fraco, já podemos largar no timão e sai velejando. Com as técnicas vai ficando mais difícil, mas no básico de velejar a pessoa sai no mesmo dia", relata Eduardo Mondardo.

"Mais difícil é entender a técnica, regulagem da vela para tirar o máximo. Até 90% tu vai, o 10% que é difícil de entender e faz a diferença. Tu ires um pouquinho mais rápido que o outro já basta”, conclui. 

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