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Reportagem Especial

Tremembé e o perigo da romantização; quando criminosos viram celebridades

Série reacendeu o interesse do público por figuras conhecidas do noticiário policial

Por Sophia Rabelo 13/11/2025 - 08:00 Atualizado há meio minuto
Fotos: Divulgação
Fotos: Divulgação

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O lançamento da série Tremembé reacendeu o interesse do público por figuras conhecidas do noticiário policial, como Suzane von Richthofen e os irmãos Cravinhos, e trouxe à tona um fenômeno recorrente, a romantização de criminosos reais. Assim como ocorreu com o caso do norte-americano Ted Bundy retratado em produções audiovisuais que despertaram empatia e até fascínio por um assassino confesso. A nova produção brasileira levanta o debate sobre até que ponto o entretenimento contribui para transformar condenados em personagens de ficção admirados pelo público.

Repercurssão nas redes sociais

Nas redes sociais, o impacto foi imediato. Comentários se dividem entre quem critica a exposição de histórias marcadas pela violência e quem demonstra curiosidade ou simpatia pelos personagens. A própria Suzane von Richthofen chegou a agradecer o apoio de seguidores, enquanto Cristian Cravinhos afirmou que “a série não mostra tudo”, reforçando o interesse popular pelas versões dos envolvidos.

O Fascínio por crimes reais

Segundo a psicóloga Melânie Vargas Inácio Bardini, o fascínio por crimes reais não significa, necessariamente, uma atração pela violência, mas sim um mecanismo de busca por compreensão e segurança.“O interesse por crimes reais une instinto de vigilância, curiosidade e busca de compreensão. Ao se interessar por histórias assim, não quer dizer que a pessoa goste da violência o cérebro busca entender o que a assusta para se sentir mais seguro”, explica.

Ela acrescenta que não há indícios de predisposição patológica entre os fãs desse tipo de conteúdo, embora certos traços de personalidade possam tornar algumas pessoas mais propensas a ele.

O papel das redes sociais 

As redes sociais, segundo a psicóloga, também exercem papel importante nesse processo.“Essas plataformas funcionam por meio de reforços variáveis. O cérebro aprende a buscar constantemente o próximo estímulo, o que gera um ciclo de consumo”, afirma Bardini. “Isso acontece pela combinação de recompensa dopaminérgica, reforço social, viés cognitivo e exposição constante a estímulos de alta carga emocional”, acrescenta.

A psicóloga conclui que a transformação de crimes em produtos de entretenimento exige responsabilidade por parte das produções. “Quando pessoas que cometeram crimes são transformadas em personagens midiáticos, o crime deixa de ser um fato a ser compreendido e passa a ser um produto a ser consumido. Isso revitimiza quem sofreu e dessensibiliza quem assiste.”

Efeitos jurídicos e sociais da exposição midiática

A discussão também alcança o campo jurídico. Para a juíza Débora Zanini,a exposição midiática dos criminosos pode influenciar a percepção social sobre crime e punição. “Quando a mídia ou as redes sociais dão muita visibilidade a pessoas envolvidas em crimes, existe o risco de se perder a noção da gravidade dos fatos. A sociedade passa a enxergar o criminoso como um personagem interessante, quase um ‘anti-herói’. Isso cria uma distorção: o crime vira história para consumo, e não um problema social sério que precisa ser enfrentado com responsabilidade.”

Julgamentos e riscos legais

A juíza alerta para o risco de julgamentos paralelos promovidos pela opinião pública.“Quando um caso vira espetáculo, as pessoas acabam julgando nas redes antes de o processo começar. O problema é que, na internet, não há contraditório, nem espaço para analisar provas há apenas emoções. E todos parecem ser ‘pós-doutores’ em Direito Penal, o que pode gerar injustiças e rótulos difíceis de reverter.”

Ela lembra que existem limites legais para a exposição de pessoas condenadas ou investigadas.“Mesmo quem cometeu um crime tem direitos. A lei garante dignidade e proteção à imagem, inclusive dentro do sistema prisional. A Constituição Federal ensina que até o julgamento final ninguém pode ser tratado como culpado. Quando uma produção ultrapassa esses limites, reforça estigmas e prejudica o direito de defesa.”

Por fim, Débora Zanini reforça que a liberdade de expressão deve caminhar junto com a responsabilidade social.“A liberdade de expressão é essencial sem ela, não há democracia. Mas liberdade vem junto com responsabilidade. Quando uma produção transforma o crime em algo atraente, há o risco de banalizar o sofrimento das vítimas e até inspirar comportamentos nocivos. É possível contar histórias reais e provocar reflexão, mas sem esquecer que por trás de cada caso existem pessoas e vidas afetadas.”

 

 

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