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Técnico com maior invecibilidade no Brasileirão, Tcheco fala com o 4oito

No comando do Cascavel, são 22 jogos sem perder, em período de quase cinco meses
Por Heitor Araujo Cascavel, PR, 04/09/2021 - 10:00 Atualizado em 04/09/2021 - 14:05
Foto: Felipe Fachini / Divulgação
Foto: Felipe Fachini / Divulgação

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Tcheco destacou-se como um exímio cobrador de faltas e escanteios, um meio-campista com bom passe e visão de jogo e, algo incomum nos camisas 10 do futebol brasileiro, um jogador determinado e de entrega ao sistema tático das equipes que defendeu. É um ídolo recente de Coritiba e Grêmio, no Brasil, e Al Ittihad, na Arábia Saudita, onde jogou o Mundial de Clubes de 2005.

Atualmente com 45 anos, Tcheco é um dos técnicos promissores do futebol brasileiro. Pelo Futebol Clube Cascavel, mantém a maior sequência invicta entre os 108 clubes que disputam as quatro divisões do futebol brasileiro: perdeu pela última vez no dia 15 de abril, 2 x 0 para o Avaí na Copa do Brasil - a única em 29 partidas pelo clube. De lá para cá, são 22 jogos sem derrotas. 

Nesse meio tempo, venceu Coritiba, empatou com Athletico Paranaense e está invicto na Série D. Há uma rodada do fim da primeira fase, o Cascavel é o líder  do Grupo 8, à frente de clubes tradicionais como Joinville, adversário deste sábado, 4, e Caxias. No Paranaense, também invicto, o clube avançou com a segunda melhor campanha, deixou para trás o Maringá nas quartas de final e empatou o primeiro jogo da semifinal contra o Athlético. 

Tcheco falou com exclusividade ao Portal 4oito na última sexta-feira: privilegiando a individualidade dos atletas no setor ofensivo e com o entendimento de que a bola parada pode decidir partidas, o treiandor contou como foi a transição de jogador a auxiliar e posteriromente a técnico, elogiou o trabalho de Paulo Baier e a retomada do Criciúma no cenário nacional, projetou o restante da temporada para o seu clube e um possível retorno aos clubes em que se destacou como jogador. Confira. 

4oito: São quase cinco meses sem perder um jogo, enfrentando nesse meio tempo clubes tradicionais como Coritiba, Athletico Paranaense, Caxias e Joinville. A que se deve esse rendimento?

Tcheco: "Ninguém faz as coisas sozinho. Tenho uma grande comissão, um auxiliar técnico que me completa. Uma boa leitura e entendimento por parte dos atletas, aí vem a qualidade deles também.

O que a gente passa é para os atletas entenderem a nossa ideia de jogo, foi tudo acontecendo naturalmente. Conseguimos classificação na Série D com antecedência e tivemos a primeira semifinal no Paranaense contra o Athletico, jogo difícil com dois gols nos acréscimos. Com o comprometimento de todos as coisas ficam mais fáceis".

- Como está a expectativa para o Paranaense e o restante da Série D, quando zera tudo?

"Estamos com dificuldade grande no Paranaense, só podem jogar os inscritos no primeiro semestre. O estadual se alongou muito por causa do calendário do Athletico. Saíram jogadores, de goleiro temos só o Ricardo, titular, inscrito. Temos dois jogadores com Covid-19, temos só 14 ou 15 jogadores para o jogo de volta, isso nos compromete um pouco, mas acredito no potencial para buscar essa inédita final.

No Brasileirão, entramos na reta final, contra o Joinville é disputa pela primeira colocação. Temos um elenco maior e conseguimos ter a sustentação para buscar o objetivo, que é a Série C. Nossa pretensão é tentar fazer história"

- Na Série D tens o desafio parecido com o Criciúma, de enfrentar os paulistas pelo acesso. Como tu vês esses confrontos pro teu time?

"Primeiro lugar, fico feliz pelo Criciúma reencontrando um bom caminho no futebol, de posições em cima na tabela. Paulo Baier está fazendo um grande trabalho, fico feliz por ser um ex-jogador entrando neste mercado, com mais embasamento e respeito. E o Criciúma tem um grande CT e torcida, não pode ficar longe da elite do futebol.

Vamos enfrentar agora paulistas e cariocas, que são os grandes centros. É uma dificuldade a mais, pelo nível financeiro que eles têm. Estou confiante, os atletas estão jogando com naturalidade e confiança, nos dá expectativa para chegar nas cabeças na reta final".

- Um colega de Caxias disse que o Cascavel colocou o Caxias na roda. O que tu pedes para os jogadores e queres do teu time em campo?

"(Sobre colocar na roda) Acho que foi um pouco generoso, concordo que fizemos uma grande partida, o Caxias pouco atacou, mas nosso modelo é muito ofensivo. Não dou muita importância em números, mas fizemos 25 gols e tomamos 13. O Joinville tomou seis gols, mas fez 15. Procuro fazer nosso time ofensivo.

Na parte ofensiva, dou total liberdade para os atletas fazerem o trabalho que bem entenderem, ir para o drible, fazer a jogada tradicional do futebol brasileiro, que ficou engessado. E na defesa tem que ser organizado. Lógico que sendo ofensivo, vai sofrer um pouco defensivamente. 

Concluímos muito a gol, isso dá confiança aos atletas dentro da minha ideia de jogo, vai passando um futebol mais vistoso, dentro das possibilidades. Vem alinhado ao jogo ofensivo. Quando chegamos aqui, entendíamos que os atletas tinham essa condição".

- No futebol brasileiro, em anos anteriores, tinha-se a ideia de treinar a defesa e deixar os jogadores resolverem por si na frente. Hoje fala-se que é difícil ter time ofensivo nas divisões inferiores. Como tu faz pro teu time ter essa boa produção ofensiva na Série D?

"O ditado diz que o bom time começa pelo bom goleiro, de ter uma boa organização defensiva. Parto do princípio de dentro do propósito ofensivo, ter uma boa ideia defensiva. As dificuldades no futebol brasileiro é porque se vendeu a ideia de marcar muito, baixar o bloco, jogar na última linha. Dificulta nas questões dos espaços.

Sempre induzo, provoco e desafio os jogadores a irem para cima. Pode ser contraditório, mas peço para eles errarem lá na frente, porque no momento em que acertarem vai ser o perigo. Não pode errar lá atrás. A gente treina muito cruzamento, finalizações, exijo muito a questão do passe, o jogo começa pelo passe.

Essas cobranças e exigências podem sim serem feitas na terceira e quarta divisão. Tudo parte do princípio das suas ideias, convicções e vender o peixe aos atletas".

- Tua carreira foi como jogador de alto nível. Fora do campo, começou como auxiliar técnico, depois foi assumindo clubes pequenos. Como tu avalias essa transição?

"Foi tudo bem planejado. Parar é um momento difícil, o Coritiba deu a oportunidade de eu ficar na comissão técnica e procurei fazer daquilo um estágio privilegiado. Passaram vários treinadores, Celso Roth, Eduardo Baptista, Marquinhos Santos, (Péricles) Chamusca, Dado (Cavalcanti)... Dentro daquilo que eu entendia para as minhas ideias ia acrescentando, o que não achava interessante, deixava de lado.

Tive o convite para ser treinador do Coritiba, mas achava que não deveria assumir, uma camisa de peso e muito tradicional, tem que ter embasamento para assumir uma equipe desse porte. Fui buscar desafios em equipes menores para aprender o dia a dia do vestiário, um outro estilo de jogo.

As coisas aconteceram da maneira que eu planejei. Você vai aprendendo muito dentro de campo, mas também como lidar com diretor, com torcida quando as coisas não vão bem. Isso me dá embasamento para quando chegar na elite do futebol eu ter minhas convicções e me manter por um bom tempo".

- Qual o projeto do Cascavel como clube?

"Tem um projeto audacioso, chegar à elite do futebol até 2027, digo uma Série B. O grande espelho, em termos de cidade, logística e de maneira como é trabalhado dentro da equipe, são Chapecoense e Operário. Cascavel tem aeroporto, perto de Foz do Iguaçu, é um grande centro da agropecuária, assim como Ponta Grossa e Chapecó.

O time começou com acionistas, fazendo caixinha por mês, para sustentar encargos menores, alimentação, fisioterapia e impostos. Os patrocínios honram com compromissos salariais. Tem um grande estádio, capacidade para 30 mil pessoas e muito confortável. Um grande CT, dois campos e meio, para trabalhos físicos e técnicos. Todos os departamentos de futebol funcionando".

- Tu passaste pelo Barra em 2019. O Júnior Rocha falou que em 10 anos eles serão a grande equipe de SC. É por aí?

"Está no caminho. Naquela região de Camboriú, ITajaí, é a única equipe profissional que tem o CT. Está prestes a subir, estou torcendo para que aconteça. Os investidores alemães têm possibilidade ainda de fazer o estádio. Todo o clube que é organizado e tem os objetivos delineados, as coisas acontecem mais facilmente. Vai ser das grandes equipes do Estado, com certeza".

- Tu foste ídolo no Coritiba, Grêmio e Al Ittihad. Projetas voltar a uma dessas equipes?

"Pretendo, sim. É um sonho e um objetivo. Tentar fazer história como treinador, passa pela minha cabeça e torço para que isso aconteça".

- Como tu avalias o momento do Grêmio no Brasileirão?

"É um pouco delicado, diferente do tradicional. Uma equipe que joga do meio da tabela para cima, buscando títulos. Às vezes acontecem esses deslizes, a gente fica assustado e não sabe o que tá acontecendo lá dentro. Mas a gente entende que tem elenco para não ficar nessa situação, tem o segundo turno inteiro. 

Só não pode ficar nesse de que daqui a pouco sai, porque o tempo vai passando. A pressão aumenta, olha o que a nossa torcida acabou fazendo nessa semana, isso pode intimidar vários atletas, principalmente os mais novos ou que não têm personalidade, pode fazê-los se esconderem dentro do jogo. Espero que a equipe engate duas ou três vitórias para dar tranquilidade e sair dessa situação incômoda".

- Tu hoje és gremista de coração?

"As equipes que eu tive esse carinho, esse reconhecimento, eu sempre torço. Grêmio, Coritiba, vários torcedores do Ittihad mandam mensagem, apesar de ser em árabe, a gente vai no tradutor para retribuir o carinho. Com certeza, sou gremistão. O carinho sempre fica por tudo o que aconteceu".

- Teu Instagram tem luta contra quero-quero, chegada no CT ouvindo Creedence em alto volume... É um personagem ou teu dia a dia no clube é assim?

"Sou assim mesmo, não é personagem, não. Os atletas eu trato de uma maneira mais leve, com meu vocabulário. Procuro não falar bonito, mas sim falar o linguajar do jogador. Às vezes um português errado, que faz parte das nossas raízes. Tem que ser leve, mostrar o lado humano do treinador.

Teve um momento que mostrei (no Instagram) o dia a dia do nosso CT, como é a sala de comissão, a alimentação, academia... Muitos têm essa curiosidade. Não sou daqueles que fica bitolado em não mostrar as coisas ou se mostrar, porque quando se faz as coisas bem coerentes e tranquilas, não tem porque não mostrar o que é".

- Tu concluiste o curso licença A da CBF e trazes esse linguajar do jogador. Tu te consideras um meio termo nessa dualidade entre o boleiro e o técnico dito estudioso?

"Pode ser um dos diferenciais. Vejo os treinadores, e isso não é uma crítica, é só um ponto de vista, que às vezes querem colocar palavras bonitas, que fogem do nosso mundo, até mesmo para os torcedores, uma classe até mais humilde. 

Procuro ser o meio termo, para que seja um diferencial, mas principalmente para não perder a nossa essência, de a gente vir de uma classe humilde. Eu entender que os jogadores entendem assim mais fácil, e o torcedor mais humilde também, que é o que faz movimentar o clube e crescer nossas condições de trabalho"

- Aqui em Criciúma, o Paulo Baier assumiu e logo o time marcou um golaço de falta. Ele passa isso no treinamento. Tu eras um grande batedor de faltas e escanteios, tu passas isso aos teus jogadores?

"Esse ano tivemos quatro gols de faltas. E nas cobranças de pênalti, apenas um perdido. É uma exigência que a gente faz. Pergutaram para mim recentemente porque saem poucos gols de falta, eu coloco também no crescimento dos goleiros, da preparação. Não só nas bolas paradas, mas também para sair jogando com os pés. A agilidade deles é impressionante.

Os jogadores precisam de mais tempo para treinar, pegar a batida, a forma de bater. É primordial para dar confiança no dia de jogo. O Paulo Baier era um exímio batedor e sabe o que eu tô falando. O escanteio faz muita diferença. Contra o Athletico, foram dois gols de bola parada. A forma tática é muito exigida e a bola parada continua sendo um diferencial grande para decidir jogos".

- Em 2006, no Grêmio, tu tiveste que parar de treinar faltas direto para o gol. Isso acontece por cansaço e acúmulo de treino hoje?

"Em 2006 a pubalgia me atrapalhou muito. Tomava injeção todos os jogos, fiquei uns 20 dias sem jogar, porque quando ia bater escanteio já ia chorando, a dor era insuportável. Falta eu deixava para os outros. 

Quando não se tem lesão, só tem que ter dimensão do cansaço muscular dos atletas. Com organização de carga de trabalho, dá para fazer os atletas treinarem as faltas. Peço treinos de escanteio, dois ou três jogadores batendo, vamos entendendo a melhor situação, se é a bola aberta, fechada, enfim. É uma exigência, porque decide jogos".

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