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Luto: Morre Ladinho, craque do passado no futebol catarinense

Abelardo Madalena jogou em diversos clubes. Ele faleceu na noite desta quinta-feira em Tubarão
Por Denis Luciano Tubarão, SC, 24/03/2022 - 22:35 Atualizado em 24/03/2022 - 22:43
Ladinho com a camisa do Joinville / Divulgação
Ladinho com a camisa do Joinville / Divulgação

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Abelardo Madalena, o Ladinho, fez história no futebol de Santa Catarina. Ele faleceu na noite desta quinta-feira (24), aos 75 anos, no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão. Ladinho viveu longo período de enfermidade e acabou vencido por uma infecção generalizada. A informação foi divulgada pelo torcedor Jefferson Nascimento pelas redes sociais.

Natural de Tubarão, onde nasceu em 24 de janeiro de 1947, Ladinho iniciou carreira na sua terra natal em 1964, no Ferroviário, pelo qual jogou até 1969. "Em Tubarão, sempre foi uma rivalidade. O pessoal de Oficinas (Ferroviário) não ia ao Centro (Hercílio) e eles não iam para o Oficinas. Não podia nem passar sobre o trilho". Essa, e outras declarações que em seguida aparecerão por aqui, foram dadas pelo próprio Ladinho em uma entrevista ao jornalista João Lucas Cardoso para o jornal Diário do Sul, por volta de 2010. Na época, o ex-jogador curtia a aposentadoria em uma cháraca no bairro Cruzeiro, em Tubarão mesmo. 

Pelo Ferroviário, Ladinho chamou a atenção de outros clubes e defendeu o América de Joinville em 1969, a Portuguesa em 1970 e 71 e chegou ao Athletico Paranaense em 74. "Tive uma boa passagem. Fiz 11 gols no Paranaense de 74", lembrava. Na mesma entrevista, Ladinho contou que se destacou em 77, quando acabou contratado pelo Grêmio do técnico Telê Santana a partir de uma indicação de Lauro Búrigo, que o treinou no América em Joinville em 71. "Na época o zagueiro tinha que ser no estilo guarda-roupa. Eu era magrinho e franzino, por isso me colocaram na ala. E foi na posição que cheguei aos times maiores".

Ladinho com 63 anos, em Tubarão

E assim ele se tornou o Ladinho, por jogar sempre pelas laterais. Pelo Grêmio, costumava dizer que pouco perdeu Grenais. "Nas minhas contas, joguei 12 clássicos. Só perdi dois: o primeiro e o último", recordava. Ladinho defendeu o Grêmio até 79. "O que os alas fazem hoje, de chegar no gol, eu já fazia naquela época". Depois do Grêmio, ele ainda defendeu o Joinville em 80 e 81 e encerrou a carreira no Avaí, em 82. Em seguida, começou uma curta carreira de técnico.

Mais lembranças

A coluna "Que fim levou", do portal Terceiro Tempo, do jornalista Milton Neves, informou em 2015 sobre o estado de saúde de Ladinho, que à época submetia-se a sessões de hemodiálise, "uma rotina que cumpria resignadamente nos últimos três anos e meio", narrava o texto. Abaixo, o que escreveu o jornalista Léo Saballa Jr sobre o dia em que Ladinho deslocou-se de Tubarão até Joinville para passar por um transplante de rim, uma vitória importante que garantiu mais alguns anos ao antigo craque:

Neste momento, tocou o telefone e ele foi convocado pela Fundação Pró-Rim a se deslocar com urgência até Joinville para disputar o jogo mais importante da sua vida. Assustado e emocionado, ficou sabendo que uma família generosa acabara de perder um ente-querido e doou um rim para ele. Finalmente a fila avançou e chegou o tão esperado dia do transplante.

 

Nos 300 quilômetros que separam as duas cidades, Ladinho foi transportado pelo filho mais velho, em uma viagem tensa, porque o paciente precisava estar no hospital até as 14h30min. Saíram por volta das onze horas. Não haveria tempo de acréscimo, como ocorre no futebol. Fora do prazo, o órgão se deteriora e coloca em risco a vida do receptor. Então, toda essa logística teria sido em vão.

 

O filho estava focado na estrada, em alta velocidade e Ladinho permanecia calado, quase o tempo todo. Nada agora dependia dele. Em outros tempos, bastaria usar a sua velocidade, na lateral do campo, para decidir a história de um jogo. Lamentou que pudesse, depois de tudo, perder esse jogo por um simples capricho do tempo, por um inesperado congestionamento no trânsito ou alguma falha mecânica no carro. Na sua cabeça, um misto de ansiedade, insegurança, mas, ainda assim, uma ponta de esperança.

 

Neusa, a esposa de Ladinho, sua companheira dos últimos 40 anos, naquele momento, não estava ao lado dele, como sempre fazia nos episódios marcantes. Ela precisou arrumar malas com roupas e documentos. Para o marido ganhar tempo, ela viajou um pouco mais tarde, na companhia do outro filho.  

Para não deixar o filho mais tenso ainda, Ladinho disfarçava sempre que olhava para o relógio no celular. O tempo passava rápido demais, voava, mas a distância que faltava ser percorrida parecia cada vez maior.  

Retrocedeu no tempo. Lembrou do sucesso que obteve na sua profissão e das sólidas amizades que conquistou a partir do seu trabalho. Resgatou momentos dos jogos memoráveis contra o Santos de Pelé, o Flamengo de Zico e o Botafogo de Gerson, entre tantos outros gigantes do futebol. Recordou também dos vários títulos de campeão, que contam a trajetória vitoriosa da sua vida. Emocionou-se outra vez com os gols que marcou, outros tantos que evitou e a alegria constante que proporcionava aos seus torcedores.   

 

Ladinho perdeu a função renal por conta do excesso de automedicação, para combater uma dor crônica na perna. Analgésicos e antiinflamatórios eram ingeridos sem nenhuma orientação médica.

 

A gravidade da doença renal foi diagnosticada numa véspera de Natal, após sintomas de anemia. Os exames confirmaram que os rins do ex-jogador não cumpriam mais as suas funções. Na etapa seguinte, veio a máquina de hemodiálise, mas, sempre de olho no transplante.    

 

O relógio marcava exatamente 14h15min. Portanto, com apenas quinze minutos antes do prazo, o carro estacionou no Hospital Municipal São José de Joinville. Ladinho e o filho se abraçaram chorando, sem dizer nada. Nem precisava.

 

Ele foi levado rapidamente ao Centro Cirúrgico, onde a equipe o esperava. Estava de volta à Joinville. Desta vez, o palco do jogo não era o estádio Ernestão. Na torcida não havia bandeiras do América nem do JEC. No lugar da bola, uma parafernália médica. Naquele momento, apenas o filho torcia, em uma sala de espera. Os médicos e enfermeiros, estes sim, participavam ativamente do jogo e também torciam silenciosamente.

Assim como no futebol, mais uma vez Ladinho não decepcionou. O transplante foi um sucesso. Três horas depois ele se encontrava em recuperação. Em breve, estará de volta ao seu sítio, no Bairro Cruzeiro, em Tubarão, para cuidar do pomar, da horta e da criação. Vai ter muito tempo para assistir futebol na TV, para brincar com os netinhos e viajar com a Neusa, livre da dependência da máquina de hemodiálise.

 

Mais um jogo inesquecível. Para Ladinho, o maior e o mais disputado entre todos.

 

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