Puberdade precoce cresceu após a pandemia; especialista fala sobre causas, sintomas e tratamentos
Uso de telas, má qualidade de sono e obesidade são fatores desencadeadores da condição
O número de meninos e meninas entrando na puberdade de maneira precoce tem chamado a atenção de especialistas do mundo todo. Um estudo publicado em agosto de 2023 pelo Journal of the Endocrine Society aponta um aumento dos casos, principalmente após a pandemia. Os motivos são diversos, mas o uso de telas e a alimentação de má qualidade foram fatores primordiais do período.
Segundo a médica endocrinologista pediátrica, Tamires de Souza Garcia Tomazi, a puberdade precoce pode ser definida como o desenvolvimento das mamas nas meninas antes dos 8 anos e do aumento dos testículos nos meninos antes dos 9 anos de idade. Outros sintomas também comuns são odor nas axilas, aparecimento de cravos e espinhas, além do surgimento de pelos pubianos.
“A puberdade precoce é mais comum em meninas e, na maioria das vezes não dá para identificar exatamente os motivos que levaram a isso. Nos meninos, no entanto, a puberdade precoce costuma exigir uma investigação mais cuidadosa, pois é mais frequentemente associada a causas orgânicas, como tumores. Por isso é fundamental que os pais e os médicos estejam bem atentos, tanto aos sintomas quanto aos fatores de risco”, alerta a médica.
Segundo a especialista, fatores como obesidade, exposição a disruptores endócrinos - presentes em cosméticos ou alimentos, por exemplo - histórico familiar e alterações no sistema nervoso central podem estar relacionados. “Não existe uma forma garantida de prevenção, mas manter uma alimentação equilibrada, evitar exposição desnecessária a cosméticos e incentivar um estilo de vida saudável, contribuem para reduzir os riscos”, explica.
Ainda segundo o estudo do Journal of the Endocrine Society, entre as meninas que tiveram puberdade precoce no período da pandemia foi identificado que elas passavam cerca de duas horas por dia usando dispositivos eletrônicos, comprovando os efeitos da luz azul na puberdade. Além disso, mais de 88% delas interromperam qualquer atividade física no período.
Quando procurar ajuda médica
Segundo a médica endocrinologista pediátrica, Tamires de Souza Garcia Tomazi, os sinais da puberdade precoce devem ser observados com atenção. “Os pais devem procurar o endocrinologista pediátrico se perceberem sinais como crescimento acelerado, aparecimento de mamas antes dos oito anos, aumento de testículo antes dos nove anos, pelos pubianos ou axilares e alterações comportamentais. Quanto mais cedo a avaliação, melhor o acompanhamento e a decisão sobre a necessidade ou não de tratamento”, destaca.
O diagnóstico começa de maneira clínica, com anamnese, e com exames de sangue e de imagem. A médica da URC com foco em exames de pediatria, Amanda Pizzolatti, lembra da importância dos exames para auxiliar na identificação e no tratamento. “Além de exames como dosagens hormonais, os especialistas utilizam também exames de imagens para identificar a condição. Os mais comuns são a radiografia de mão e punho, para avaliar a idade óssea da criança e, nas meninas, também a ultrassonografia pélvica. Outro recurso também disponível é a ressonância magnética de crânio, que pode ser indicada, principalmente em crianças pequenas, antes dos seis anos, ou com sintomas neurológicos associados. São exames que auxiliam no diagnóstico e ajudam os profissionais a terem mais segurança na escolha do tratamento adequado”, explica a médica.
Tratamento
Um dos principais prejuízos da puberdade precoce é na altura de meninos e meninas que ocorre pelo fechamento precoce das cartilagens de crescimento. “E isso pode comprometer a altura final. Além disso, o início precoce da puberdade pode gerar sofrimento emocional e psicológico, principalmente se a criança não estiver preparada para lidar com essas mudanças em um ambiente onde os colegas ainda não passaram pelas mesmas transformações”, lembra a endocrinologista pediátrica, Tamires de Souza Garcia Tomazi.
Segundo a especialista, o tratamento da puberdade precoce depende da causa. “Nos casos de puberdade precoce central, o mais comum, o tratamento é feito com medicamentos chamados análogos do hormônio liberador de gonadotrofina. Eles agem ‘pausando’ temporariamente a puberdade, bloqueando os hormônios que estimulam o desenvolvimento sexual precoce. Já nas puberdades precoces causadas por alterações hormonais fora do cérebro, como problemas nas adrenais ou ovários, o tratamento é direcionado à causa de base”, detalha.
A orientação é que o cuidador fique atento ao desenvolvimento e ao comportamento da criança e que busque ajuda médica o mais breve possível caso apareçam os sintomas.