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Descontrole na distribuição de medicamentos ou uma cidade doente?

Dados sobre saúde em Criciúma, divulgados pelo Observatório Social, foram debatidos no Programa Adelor Lessa (áudio)
Por Clara Floriano Criciúma - SC, 07/11/2017 - 10:55 Atualizado em 07/11/2017 - 11:28
(foto: Clara Floriano)
(foto: Clara Floriano)

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O Observatório Social de Criciúma divulgou nesta semana números em relação a saúde no município em relação ao período entre 2014 e 2016. Foram divulgados gastos com funcionário e outros dados importantes. O que mais chamou atenção, no entanto, foi o gasto da população com medicamentos.

Segundo dados da Secretaria de Saúde, foram consumidos em torno de 200 tipos de medicamento, que somam um total de 30.628.284 unidades de comprimidos. Na manhã desta terça-feira (7) Moacir Dagostim, diretor-administrativo do Observatório Social, e Rose Sartor, coordenadora da Câmara da Saúde do Observatório Social, estiveram no Programa Adelor Lessa para explicar os dados.

Como o observatório chegou à esses números?

Moacir Dagostin- Fazemos muitos trabalhos de levantamento. Neste ano já estamos atrasados na atualização dos dados, mas com a mudança de governo tivemos um pouco de dificuldade. Os dados de 2017 pretendemos divulgar em abril de 2018. Nossa base é pegar no Portal de Transparência da Prefeitura e também na Secretaria de Saúde. A Secretaria sempre abriu as portas pra nós, mas teve dificuldade no sistema para recolher essas informações.

Como é feito o levantamento?

Moacir Dagostin- O Observatório observa e faz levantamentos baseados em dados oficiais. E todos os dados que divulgamos são oficiais e fornecidos pelos próprios órgãos. Quem forneceu esses dados para nós foi a própria estrutura da secretaria. Nós compilamos esses dados num relatório de forma que se torne mais fácil passar para a população aquilo que realmente ocorreu, haja visto que a Unesc, por exemplo, também distribuiu medicamentos só que não está nesse levantamento, sendo que é público também. Está aqui só a parte municipal.

A Unesc também distribui medicamentos fornecidos pela prefeitura?

Moacir Dagostin- Não, se não estou enganada ela recebe verbas federais e estaduais à parte desses dados da prefeitura. E isso, se a gente observar, em 2016 foram gastos R$ 241 milhões pela Secretaria da Saúde, isso representa em torno de 40% da receita total do município, é um valor expressivo.

Sobre os mais de 30 milhões de comprimidos, vocês fizeram as contas de quanto isso custou?

Rose Sartor- Gastos com medicamentos foram R$ 2. 941. 134, 00. Fizemos um levantamento mês a mês.

Moacir Dagostin- Foram três anos de levantamento. Nós temos dados de 2014, 2015 e 2016.

A média de consumo entre os anos é a mesma ou houve um acréscimo de um ano por outro?

Moacir Dagostin- Quando fizemos em 2014, tínhamos esse primeiro dado de que o Omeprazol, por exemplo, foram consumidos 2,7 milhões comprimidos. Em 2015 foram 2,1 milhões. Aqui a gente fez uma campanha muito grande conscientizando, procurando ver na secretaria o que estava acontecendo e a gente verificou que na época tinha falhas na distribuição. Então a pessoa podia pegar o medicamento em um posto e depois em outro, por exemplo. Com a nossa visita eles implantaram um sistema bastante rígido.

Pelo que foi apurado, esses números expressivos significam descontrole na distribuição, indícios de desvio ou é porque Criciúma é uma cidade mais doente que a média?

Moacir Dagostin- Na realidade constatamos o descontrole em 2014 e quando a gente conversou verificamos que existe um controle muito bom hoje, informatizado, a pessoa não consegue pegar em dois laboratórios diferentes. A gente não verificou nenhuma fraude aparente, não constatamos isso.

Depois desses levantamentos qual a dica que o observatório dá para o setor público de Criciúma?

Moacir Dagostin- Gostaríamos de fazer uma campanha, junto ao pessoal da saúde, pra gente conscientizar a população de que muitos desses medicamentos podem fazer mal à saúde. Gostaríamos que fosse feito esse trabalho.

Opinião do ex-secretário de Saúde

À época o Secretário de Saúde do Município era Vitor Benincá, que também foi entrevistado sobre o tema.

Esse número, 30 milhões de comprimidos em 2016, é um número que impressiona. Esses números são normais, apontam para uma falta de controle na distribuição ou seria algum outro problema?

Vitor Benincá- Eu vejo como dois pontos. Primeiro do administrativo, como secretário, a gente já tinha identificado esse ponto do excesso de custo em cima da medicação. Esse número é até pior do que parece. A gente tentou, durante o ano de 2016, fazer com que as pessoas migrassem para a farmácia privada e tirasse isso do município e da Secretaria de Saúde. Mas acabamos não conseguindo fazer essa migração. As pessoas que iam pegar na farmácia privada iam pegar os medicamentos gratuitamente através de um programa do Governo Federal.

A segunda coisa que eu vejo é a que a nossa cobertura municipal é uma das maiores do Brasil. Então é inerente que as pessoas elas tenham maior com o SUS e acabam utilizando mais o sistema. A partir do ano de 2015 e 2016, tivemos uma massificação das pessoas no SUS com a diminuição de verbas das famílias. As pessoas que utilizavam remédios comprados começaram a utilizar remédios fornecidos pelo SUS.

Tínhamos um problema de distribuição dupla, pessoas que até se preocupavam em faltar o remédio e faziam o estoque. Então acredito que até conseguimos encerrar esse processo.

O que se pode concluir é que Criciúma é uma cidade doente?

Vitor Benincá- Não, é uma cidade que utiliza muito o SUS. A última opção que tivemos foi essa abordagem que fizemos em cima do excesso de medicação. Talvez o próximo passo seriam políticas públicas de retirada da medicação, como nos casos do Omeprazol e do Rivotril. Mas um medicamento como o Captopril, por exemplo, eu particularmente fico muito feliz que tenha um crescimento, porque mais pessoas estão sendo cobertas.

Então há um problema de gestão no receitar os medicamentos?

Vitor Benincá-Eu acho que não é receitar demais, é a falta de desreceitar. Eu acho que as pessoas fazem o uso de uma medicação, melhora o problema, mas não faz o feedback ou o retorno pra ver até quando ela vai usar a medicação. Esse tipo de retorno deveria ser feito.

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