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Colecionadores mantêm viva a cultura dos games retrô

RetroSC promoverá evento nostálgico neste sábado, em Criciúma
Por Enio Biz Edição 13/05/2022
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

Exposições de consoles e computadores antigos, exibições de jogos e comercialização de alguns destes materiais integram a programação do 9º Encontro de Colecionadores de videogames e computadores antigos, promovido pelo RetroSC, que ocorre neste sábado (14), a partir das 09 horas, na Faculdade Senac, em Criciúma. 

O RetroSC é um grupo catarinense que surgiu em 2016 para agregar curiosos, entusiastas e colecionadores “retrô" de videogames e computadores antigos, seus jogos e acessórios.

No encontro ainda haverá vendas de materiais produzidos por colecionadores que trabalham com a modalidade de equipamentos, jogos e acessórios. Para participar é necessário fazer a doação de um quilo de alimento não perecível, que será destinado às famílias atingidas pelas chuvas da última semana na região.

Eduardo Loos é cirurgião-dentista. A paixão por video games começou exatamente em 1976.

"Eu estava com meu pai e meu irmão na praia, em Balneário Camboriú, e na frente de um bar havia uma máquina do jogo Pong, onde colocava moedas para poder jogar. Era um jogo bem simples. Mas aquilo foi paixão a primeira vista. Me chamou a atenção e me fez buscar por aquilo nos anos seguintes", revela.

Foto: Divulgação

Ele lembra que o primeiro videogame foi comprado pelo pai. "Foi um Telejogo, que foi um dos primeiros videogames lançados no Brasil. Isso foi em 1977. Tinham apenas três opções, futebol, tênis e paredão. Era um gráfico bem rudimentar, o som era apenas um bip, mas mesmo assim já proporcionava uma grande diversão entre a família", informa ele.

Logo após, Eduardo começou a ter contato com computadores 

"Isso já nos anos 80. Eram diversas linhas diferentes de computador, com seus jogos e aplicativos, e aventuras de carregar os jogos através de fita cassete, e demorava uma eternidade para ler os jogos através das fitas. Depois os disquetes, ou então digitar os jogos que vinham em revistas que comprávamos nas bancas. Nós digitávamos códigos para poder colocar os jogos no computador. Era uma época bem legal, onde fazíamos muitas amizades. Trocávamos os jogos entre amigos", lembra.

O cirurgião dentista tem dois filhos. Um de 11 e outra de 7 anos. "Tenho dois filhos, um de quase 12 anos e outra que fará 8 anos. Eles foram bem educados. Desde que começaram a ter contato com isso, eu fui mostrando os jogos clássicos e outros consoles para eles terem a base de onde vieram esses jogos modernos que eles jogam hoje, mostrando para eles que muito das mecânicas dos jogos atuais vieram lá de trás. Há muitas coisas semelhantes. E também a evolução dos gráficos, do som, e mostrar que jogo bom não precisa ter o gráfico de alta definição ou som marcante. Uma boa idéia, mesmo com gráfico simples, já pode interter por horas e horas", frisa.

Foto: Divulgação

Para Eduardo Loos, os eventos promovidos por colecionadores têm várias finalidades. "O intercâmbio de informações entre as pessoas e mostrar equipamentos que muitas vezes as pessoas não tiveram acesso ou outros que nunca chegaram no Brasil. Através dos colaboradores, você pode ter oportunidade de ver, jogar e conhecer melhor, trocando informações sobre manutenção e novas tecnologias que podem ser aplicadas, computadores antigos, além da confraternização. Fazemos muitos amigos, pois são pessoas que tem afinidade em uma área que também temos. Mesmo sendo pessoas diferentes, mas há algo em comum que une a todos. Isso é muito legal", pontua ele.

na região sul há aproximadamente 30 colecionadores de videogames e computadores antigos. 

"O nosso grupo, chamado Retro SC, foi fundado em 2016 com o objetivo de reunir os colecionadores catarinenses. Porque até os anos 2000, esses eventos e grupos eram mais restritos ao Rio de Janeiro e São Paulo. Aqui em Santa Catarina haviam pessoas que gostavam do assunto e por isso pensando em criar o grupo. Hoje contamos com aproximadamente 315 membros, de mais de 50 cidades do estado. Na região sul, eu acredito que estamos em torno de 30 pessoas, de cidades da região, que são colecionadores. E aos poucos o grupo vai crescendo, onde vamos conhecendo outras pessoas e através dos eventos, vamos divulgando o grupo. Estamos sempre abertos a todos que queiram participar", informa.

Foto: Arquivo Pessoal

Confraternizar e preservar a história são os objetivos do grupo que reúne os colecionadores. "Cada colecionador é um pequeno museu, onde a coleção está em seu poder, onde a pessoas quer conservar, fazer manutenção e trocar informações entre pessoas. Estamos fomentando essa cultura retro e todos esses jogos antigos que você pode traçar um paralelo com filmes e música. Não é porque são antigos que não são bons. Muito pelo contrário. Grandes clássicos e obras, tanto em cinemas ou outras artes, e nos jogos não é diferente. Temos jogos que são fabulosos e equipamentos que foram poucos explorados no Brasil, talvez ficaram pouco tempo no mercado, e não aproveitaram todo o seu potencial. E com a internet hoje podemos ter acesso e negociar esses equipamentos para nossas coleções", finaliza.

Foto: Arquivo Pessoal

Rodrigo de Fáveri Rocha é advogado e colecionador há 10 anos. Para ele, jogar videogame é um reecontro com a infância.

"Todo mundo tinha quando criança um videogame como brinquedo. Isso era direcionado mais para as crianças. Lembro que tinham muitas opções, muitas novidades e muita coisa no mundo do videogame, mas por opções dos pais, tínhamos pouco acesso com os jogos. E aí muitas vezes trocávamos os jogos com os amigos até porque não tínhamos condições de comprar determinado jogos porque eram caros. Aí depois crescemos, temos a nossa vida, vida financeira independente, e com condições de comprar os aparelhos. Apesar do vídeogame ser um significado de infância, sempre fica na memória. Hoje, com condições de comprar, lembram do passado e acabam comprando e colecionando. É um reencontro com a infância", conta.

O primeiro videogame de Rodrigo foi um Dynavision 3. "Na verdade era do meu irmão, e era um jogo de naves. Isso foi entre 1994 e 1995. Era muito difícil e eu criança jogava, mas só jogava no início porque era muito difícil. Mesmo assim me deixou apaixonado por videogame. Tanto que, até hoje, quando eu jogo aquele jogo, a música e a tela já vem automático na minha mente. Na época não tínhamos muitos jogos", lembra o advogado.

Ainda criança, quando estava no momento de trocar de videogame, Rodrigo de Fáveri Rocha relembra que tinha que se desfazer do aparelho que tinha para, só depois, adquirir um novo. Durante a adolescência, o interesse por games dominuiu. 

"Eu lembro que meu pai comprava um videogame, mas quando queríamos outro, nós tínhamos que vender aquele que não queríamos mais. Na minha adolescência, eu vendi o único videogame que eu tinha, até porque chega uma fase da vida que a gente muda nossas vontades, e acabei ficando um tempo sem jogar e sem colecionar".

Foto: Arquivo Pessoal

Já adulto e casado, ele ficou caseiro, e a vontade de jogar voltou. "Fiquei mais caseiro e voltou o interesse. Acabei comprando uns videogames. Hoje, eu tenho, mais ou menos, uns 30 aparelhos e consegui comprar aqueles que tinha na minha infância. Comprei da Dynavision, Super Nintendo, o Atari, que nem é da minha época, e são aparelhos que só via em revistas, reportagens e fotos. Eram videogames raros e difíceis de encontrar", conta Rodrigo.

O advogado não tem preferência de jogos. "Eu jogo de tudo. Colecionar videogame é diferente de outras coleções. Há quem coleciona moedas, selos, latinhas, e essas coisas servem mais para mostrar para as pessoas. E o videogame a gente tá sempre jogando. Estamos sempre abrindo o aparelho, mexendo e fazendo manutenção até porque o videogame não pode ficar parado.Então todos os videogames que tenho eu costumo jogar, inclusive os atuais, os mais modernos".

Rodrigo é casado, tem uma filha e a esposa está grávida. A prioridade dele, hoje, é a família. No entanto, quando tem um tempo, ele volta para o video game.

"Minha esposa ela entende perfeitamente e apoia esse meu hobby. Até porque em casa a minha prioridade é a minha esposa e a minha filha. Geralmente eu aproveito quando elas dormem para dar uma brincada com mais tranquilidade. É claro que não dá pra fazer o que eu fazia antigamente, ficar de 3 a 4 horas jogando direto, mas em uma semana, jogar uma ou duas horas, já está bom demais. Minha filha tem dois anos, ela não joga, mas ela gosta de me ver jogando", revela.

Foto: Arquivo Pessoal

O colecionador confidencia que com a realização dos encontros está conhecendo muitas pessoas e fazendo mais amigos. "Amigos virtuais, aqui em Criciúma, ainda não tenho muito contato. Estou começando a ter agora até com o próprio encontro que teremos, a gente acaba conhecendo muuitas pessoas. Mas, geralmente conheço muita gente em grupos do Facebook, Whatsapp, e o Telegram também. Inclusive o pessoal do Retro SC, nos conhecemos pela internet. Já fizemos compras e negócios já há um bom tempo, e agora vamos nos encontrar no sábado", conta ele.

Para Rodrigo, novidades e aprendizado não faltarão no encontro de sábado, em Criciúma. 

"Eventos como o de sábado sempre apresenta novidades. Nós aprendemos muito com as pessoas nesses encontros. Um evento como esse, na nossa cidade, vai servir como um termômetro. Ficamos um pouco receoso de fazer um encontro porque não sabemos se vai ter um público expressivo ou não. Se a cidade vai abraçar o evento. Até porque é o primeiro que está sendo feito após a pandemia. O pessoal do Retro SC, que organiza eventos em Florianópolis, aceitou fazer uma espécia de evento itinerante, e foi escolhido a região sul. A nossa expectativa é que venha um público considerável e ver quantas pessoas daqui tem a mesma paixão e se dá pra fazer novos eventos".

Foto: Divulgação

Alexandre Bevilacqua Meneguetti, diretor da Faculdade Senac de Criciúma, parceira do evento, ressalta a importância de um evento deste porte, principalmente porque ele já jogou, e muito, videogame.

"A faculdade fez uma parceria com os organizadores do evento. É um evento que já foi realizado em outros lugares de Santa Catarina, mas devido a pandemia, eles pararam com o evento, e agora vem para a nona edição, em Criciúma. É um evento incrível para a família, crianças, adultos e não tem faixa etária. O evento conta de uma forma muito prática e muito visual a história da tecnologia das últimas décadas. Então, você vai poder ver um jogo de há 10 anos, um de 30 e 40 anos, de grandes marcas mundiais, além de computadores também".

O Senac abriu espaço para este evento devido a tecnologia estar inserida em diversas profissões. "Nós temos um curso, que é no ensino médio, de informática, de programadores, além da nossa graduação em análise e desenvolvimento de sistemas, e todos esses profissionais podem se inserir no mercado de games que é extremamente amplo e cresce muito no mundo inteiro, principalmente impulsionado pela pandemia. O Senac tem uma conexão direta com esse evento que será um sucesso. Eles estão esperando um público apaixonado por games e computadores, mas também aquele público que gosta de ir em um lugar diferente. E os aparelhos estarão em funcionamento, ligados, jogos de 30, 40 anos atrás", frisa o diretor.

Foto: Arquivo Pessoal

O Encontro irá colocar frente a frente a antiga e a atual geração, de acordo com Meneguetti. 

"Há 30 anos a tecnologia dos games ela ainda conectava o jogo na televisão, em uma fita cassete. Era uma tecnologia que o jovem de hoje, que tem acesso aos jogos por smartphones nas mãos, nem imaginam como eram que nós jogávamos naquela época. Vale muito a pena ir para esse evento e ver o quanto nós evoluímos em poucas décadas. Hoje, falamos de 3D, óculos, de realidade virtual, chegando aí o 5G e a revolução dos games, onde você está aqui e joga com outra pessoa do outro lado do mundo. Antigamente, você reunia os seus amigos na casa, conectava o jogo na TV e era a diversão", conclui.

O diretor da Faculdade Senac frisa que equipamentos extremamente raros estarão em exposição no evento. "São equipamentos que não se encontra em outros lugares. Por isso é uma grande oportunidade, não apenas para se divertir, mas é uma aula de história. Quando olhamos o passado, começamos a compreender uma série de situações, ou seja, como as coisas aconteciam, e se começa também a permitir que façamos projeções do futuro", finaliza.

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