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Ciclo de destruição: o vício que financia o crime

Leia a matéria que rendeu ao A Tribuna o 2º Prêmio Policiais Federais de Jornalismo na categoria Impresso
Por Francine Ferreira Criciúma, SC, 24/11/2018 - 07:00

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Ana e Pedro* talvez nunca tenham se cruzado, mas bem que poderiam. Ambos fizeram parte de dois extremos de uma mesma situação, que a cada dia tem sido mais registrada na sociedade, e que a cada novo adepto tem se fortalecido e fortalecido a propagação do crime como um todo.

Ela, ainda que com uma família tradicional e estruturada, foi usuária de drogas e chegou a se viciar em crack. Ele, um traficante que tem história de vida bem diferente, foi condenado e há cinco anos cumpre pena no sistema carcerário catarinense.

Quando você está nesse meio, não enxerga o lado ruim da situação, só quer saber de satisfazer seu desejo

Ana*, ex-usuária de drogas

“Nunca passei fome, tinha pai e mãe em casa, irmãos, estudei em boas escolas públicas e particulares e concluí, inclusive, o ensino superior. Para quem pensa que isso só acontece nas periferias - reforço -, não me faltaram oportunidades na vida e ainda assim acabei caindo nesse mundo”, conta a agora ex-dependente química, hoje com 37 anos, que, mesmo depois de ter usado maconha, cocaína e crack, consegue se manter “limpa” e longe do vício há quase uma década.

Já para Pedro, de 47 anos, o uso da droga foi justamente o que o motivou a entrar para o tráfico. Após ter começado a fumar maconha aos 11 anos e, na sequência, também ter optado pela cocaína e pelo crack, o homem que costumava trabalhar como pedreiro viu na comercialização de entorpecentes o sustento para o vício e, de quebra, uma maneira mais fácil de lucrar e ganhar a vida.

Natural do Paraná, ele conseguiu traficar durante cinco anos antes de ser preso, em Sombrio. “A gente comprava a droga de distribuidores maiores, dividia em partes menores para vender e, posteriormente, as pessoas ficavam sabendo e iam chegando, procurando. Nesse mundo o traficante fica muito conhecido, sabe? Com isso o movimento ia aumentando cada dia mais”, completa.

Pessoas em condição instável veem no tráfico a possibilidade de melhorar de vida
(Foto: Daniel Búrigo)

E, assim como ressaltou Ana, Pedro também destaca que quem comprava sempre era dos mais variados tipos e classes sociais. “Existia todo tipo de perfil de usuário, desde o morador de rua até o funcionário de banco. Todos apareciam da mesma forma e com o mesmo objetivo: comprar a droga para manter o vício. Tinha gente com um maior poder aquisitivo que chegava a comprar para se drogar nas baladas e até mesmo no trabalho. E, depois que realmente começavam a usar, viravam clientes assíduos, que eu atendia como rotina”, declara. 

Para suprir a demanda, também surgiam cada vez mais traficantes, desde os usuários como Pedro, que buscaram o sustento do próprio vício, até pessoas que não precisariam optar por aquele caminho, mas que, por livre e espontânea vontade, decidiam entrar para o crime. 

“Até porque dá muito dinheiro, isso é fato. Só que agora eu consigo ver o que quando você está no meio não imagina, que hoje, para o traficante, se continuar no mundo da droga, só dois caminhos restam: a cadeia ou o cemitério”, opina.

A curiosidade como início do problema

Em ambos os casos, foi a curiosidade de descobrir a sensação do efeito da droga que os fez, tanto Ana quanto Pedro, começar a usar entorpecentes. Iniciando pelas ditas ‘portas de entrada’: o álcool e a maconha – ele aos 11 e ela aos 13 anos.

“O primeiro que eu descobri foi o efeito do álcool, que foi maravilhoso. Em seguida conheci o cigarro e a maconha, e, com 15 anos, já frequentava os bares perto de casa. Depois daquele primeiro momento, tudo o que experimentei foi praticamente amor à primeira vista. Em relação à cocaína, conhecia pessoas que usavam, mas por muito tempo não foi o meu caso. Até que um dia resolvi experimentar o restinho do cachimbo de uma amiga, no banheiro de um bar. Foi uma sensação boa, refrescante, e, como não senti nada de ruim, dali em diante foram todos os dias. Algumas pessoas ficaram sabendo e muita gente demonstrou decepção, inclusive as próprias pessoas que usavam, por eu ter me deixado levar. Até eu tinha vergonha, tanto que usava quase sempre escondido”, lembra a ex-usuária. 

Foi a partir desse período que o barco começou a afundar.

Ana lembra que, antes, nunca chegava a faltar ao trabalho ou à aula, mas que depois passou a não se importar mais em virar noites drogada, sem se preocupar em faltar ao trabalho ou chegar no emprego fedendo, e sem se dar conta porque estava dormente e anestesiada.

“Quando você está nesse meio, não enxerga o lado ruim da situação, só quer saber de satisfazer seu desejo imediato. Essa fase te transforma em uma pessoa fria, que não se preocupa se deixou a mãe chorando e esperando em casa, ou se terá alguém para atender no trabalho. É basicamente uma cegueira, e a perda do sentido de tudo”, reconhece.

Crack: a chegada ao fundo do poço

Para a ex-dependende química, o crack chegou como uma substituição à cocaína, que estava em falta no ponto de tráfico em um dia de extrema necessidade.

“E também foi amor à primeira vista, algo que proporcionou uma sensação muito boa, que logo passou e que, por isso, logo eu queria mais. Nesse momento da vida, eu não queria saber de mais nada, a família parou de importar. Todo recurso do caixa eletrônico, cheques, tudo o que eu tinha em casa e que achava que valia algum dinheiro, coisas da minha mãe, tudo o que pude transformar em droga transformei, porque só queria saber de usar mais”, relata.

“Nesse período, cheguei a atravessar Criciúma a pé e sozinha, para encontrar uma boca de fumo. Tinha até um lugar onde era uma criança que me atendia de madrugada, que passava o bracinho pela grade e me entregava a pedra. A partir daí, o vazio de sentido da vida que vai surgindo chegou a me fazer pensar, em algumas vezes, em terminar a minha vida, porque é um inferno em que você adoece e adoece a toda a sua família. Minha mãe trancava a porta do próprio quarto em momentos em que eu morava com ela, quando já estava desacreditada de mim”, reconhece Ana.

Depois do fundo do poço, o estalo para a necessidade de mudança chegou de forma inusitada, quando ela se encaminhava para um ponto de tráfico, para comprar mais entorpecentes. 

Com apoio da família, foram 11 meses afastada em uma fazenda – em uma terceira tentativa de internação, dessa vez e principalmente por conta do consentimento e vontade própria de Ana – que fizeram com que a jovem conseguisse ficar limpa.

O suporte dos pais como fator determinante

Hoje com um filha de oito anos, Ana nem cogita mais chegar perto das drogas e, agora, entende o que passou sua própria mãe nos anos em que permaneceu drogada.

“Ela ficava desesperada, porque a pessoa não espera que vá acontecer dentro da própria casa, principalmente quando não tem motivos para começar a usar. Por isso, eu digo ao adolescente: não experimente, de maneira nenhuma. Mas se chegar a cair nesse mundo, peço que procure ajuda enquanto é tempo, porque, por mais que ache que está dando prazer, o que vem pela frente é devastador, literalmente um inferno”, alerta.

“Tem que acreditar que a recuperação existe sim, e eu sou a prova disso. Os usuários não são vagabundos que não querem saber de nada, e sim pessoas que estão passando por um problema, por uma doença, e que ficam cegas para os malefícios de seus atos. Por isso, peço que as famílias também não percam as esperanças e que, mesmo assim, os pais sejam firmes. Não é passando a mão na cabeça e sentindo pena do filho que o problema vai ser resolvido. É possível sair dessa, mas com ajuda e rigidez para mostrar os trilhos do caminho certo novamente”, conclui, como exemplo vivo de que o conselho pode se tornar realidade na prática. 

Se tem quem vende, é porque tem quem compra

É unânime entre os profissionais das áreas de prevenção e segurança: quem compra e consome os entorpecentes é o principal financiador do tráfico. No entanto, de acordo com o membro do Conselho Municipal Antidrogas (Comad) de Criciúma, psicólogo Manoel Rozeng, a partir do momento em que está mergulhado no mundo do vício, e apesar de ter ciência disso, o usuário não tem consciência de seus atos. “A pessoa até tem a informação, mas não se dá conta do que significa. Ou seja, pode saber que é um dos responsáveis pelo financiamento do tráfico, mas não desenvolve a consciência do que isso representa para a sociedade”, explica. 

Além disso, contribui também para o mercado de entorpecentes a falta de conhecimento da população – inclusive de certa parcela dita intelectualizada – sobre a própria substância, os efeitos e danos que causa, e os motivos e necessidades que levam a pessoa a usar.

Em um primeiro momento, você não vê nada demais, apenas o alívio da dor e, quando percebe, não consegue mais ficar sem

Manoel Rozeng, membro do Comad

“O usuário pode ter sua capacidade de aprendizado e memória limitada, o funcionamento cerebral comprometido e de órgãos vitais alterado, prejudicando todo o corpo e sistema neurológico, pulmões, coração, fígado, estômago, intestinos e órgãos reprodutores”, afirma o psicólogo.

Para o cidadão atingir esse ponto, diversos fatores de risco se evidenciam ao longo do caminho. O primeiro é o fácil acesso, seguido pela curiosidade e por outras demandas individuais, como a busca por descanso, desestresse ou calmaria. “Em muitos casos, o usuário desconhece que tem certa condição mental, usa a substância e acaba a endeusando, por pensar que lhe faz bem, quando na verdade o que ele tinha era, já anteriormente, um problema e uma predisposição. É como ter uma dor e, de repente, encontrar algo que alivia essa dor. Em um primeiro momento você não vê nada demais, apenas o alívio da dor, e quando percebe não consegue mais ficar sem. Na questão da droga a pessoa não sabe que dor é essa, mas tem certeza de que com a droga ela é aliviada”, esclarece Rozeng.

O uso de drogas e os filhos

Ao fazer o uso de substâncias entorpecentes, o dependente torna-se mais propenso a passar aos futuros filhos alguma predisposição a vícios. Conforme o membro do Comad, não é possível deixar de associar o aumento indiscriminado de uso de drogas com o aumento de crianças nascendo com transtornos mentais, como problemas de aprendizagem e atenção, ou imperatividade. 

“E aí surge mais um problema, porque a maioria das famílias não está preparada para lidar com isso. Dessa forma, a recomendação é que a mulher que queira engravidar não coloque mais nem uma gota de álcool na boca, e muito menos outras drogas, pelo menos seis meses antes da gestação, porque já pode afetar o feto”, alerta.

Nas unidades prisionais,  a evidência do problema

Que a comercialização de entorpecentes está sendo cada vez mais percebida na sociedade, não é novidade para ninguém. E o reflexo dessa afirmação se vislumbra e confirma, inclusive, nas unidades prisionais de Criciúma. Conforme a Vara de Execuções Penais, nas três prisões do município quase 44% da população carcerária existente na atualidade está ligada ao crime de tráfico de drogas. 

Dos 797 detentos do Presídio Santa Augusta, 287 estão presos por conta do crime; já na Penitenciária Masculina Sul, dos 722 presos, 326 cumprem pena por tráfico; e por fim, na Penitenciária Feminina Sul, das 222 detentas, 148 foram condenadas pelo delito.

Na Comarca de Criciúma, a responsável pela Vara de Execuções Penais e pela Corregedoria é a juíza Débora Driwin Rieger Zanini. De acordo com a magistrada, a maioria dos traficantes no município são homens jovens e, no fim, são as mulheres que acabam assumindo a situação quando o companheiro é preso.

“Embora o tráfico de drogas seja altamente lucrativo, o que se vê, na prática, é a prisão de traficantes pequenos e pobres. Infelizmente, o sistema não abrange os grandes, das altas camadas sociais, porque eles não aparecem. É muito raro ver um grande traficante preso em nossa região, e os pequenos jamais delatam o traficante maior ao serem presos, preferindo assumir sozinhos e arcar com a responsabilidade, certamente com medo de morrer”, avalia.

Nesse meio, outras situações podem ser encontradas com frequência, permeando os julgamentos de réus acusados do tráfico de drogas. “O Poder Judiciário não pode aceitar uma condenação sem provas. Assim muitas vezes as testemunhas se omitem e usam subterfúgios para não prestar depoimentos perante a autoridade, esvaziando as provas, talvez por medo ou receio de represálias. E também convém lembrar que os juízes não são legisladores. Logo, se atualmente os traficantes e criminosos em geral possuem uma série de direitos e benefícios, esses direitos advém das leis, que são feitas pelos deputados e senadores, no Congresso Nacional”, acrescenta a juíza.

O tempo de condenação e aplicação da pena

Pela legislação brasileira, os usuários, flagrados com quantidades de entorpecentes apenas para consumo, não podem mais ser presos. Já em relação ao tráfico de drogas, as condenações acontecem quando houver prova de que o entorpecente apreendido seria destinado ao comércio ilícito.

A pena para o tráfico começa em cinco e pode chegar a 15 anos de reclusão. No entanto, se for privilegiado, com pouca quantidade de entorpecentes e com um réu primário, pode ser reduzida em até dois terços. “Essa pena se inicia em um ano e oito meses de reclusão e, dependendo do caso, o regime pode ser aberto.”, alerta Débora.

Há também os direitos previstos em lei à progressão de regime, saída temporária, trabalho externo, remição de pena, prisão domiciliar, livramento condicional, indultos, comutações, entre outros. “Então, na prática, o condenado fica muito menos tempo preso do que o que foi fixado em sentença. Eu, particularmente, nunca apliquei o regime aberto ao sentenciar traficantes, sempre fixei o regime fechado e, em alguns casos peculiares e menores, o semiaberto. Tenho um perfil mais conservador e, por conta disso, já tive sentenças minhas reformadas pelos tribunais superiores, em casos de recursos”, complementa a juíza.

(Foto: Rodrigo Medeiros/Arquivo)

Nas forças policiais, o combate e a repressão

A droga cria uma verdadeira bomba dentro da família. Acaba, desestrutura, varre até a própria ligação de pai e filho

Cosme Manique Barreto, coronel da Polícia Militar

Com o constante aumento no número de traficantes e drogas comercializadas, torna-se cada vez mais importante o trabalho desempenhado pelos órgãos de segurança, nestes casos, em especial pelas Polícias Militar e Civil. O primeiro reforça o policiamento ostensivo nas ruas, buscando encontrar e impedir pessoas em flagrante delito; e o segundo trabalha com a investigação, buscando identificar, prender e condenar os grandes chefes do tráfico. 

Do início de 2017 até o fim do último mês de março, a Polícia Militar de Criciúma já havia apreendido mais de 222 quilos e 61 pés de maconha; 4,7 quilos de crack; quase 4,6 quilos de cocaína; 89 micropontos de LSD; e mais de 650 comprimidos de ecstasy.

Esses números são reflexo, de acordo com o comandante da 6ª Região de Polícia Militar (RPM), coronel Cosme Manique Barreto, do aumento expressivo desse tipo de crime, uma vez que tanto no planeta quanto no país já se tornou comum a existência de guerras entre organizações criminosas, em virtude da posse de corredores para a comercialização de entorpecentes. 

PM reforça o policiamento ostensivo em busca de flagrantes
(Foto: Daniel Búrigo)

“O tráfico é extremamente lucrativo e criou dentro do Brasil essa formação de grandes facções, que se organizam e procuram sempre se instalar perto dos portos, no litoral. Nesse meio, acaba se perdendo uma grande parcela da juventude. Principalmente depois que o crack começou a ser inserido na sociedade, pudemos perceber que houve um aumento exponencial da violência e de detidos nas unidades prisionais, uma destruição daquele grupo de garotos na faixa de seus 20 anos, que entraram nesse mundo e acabaram aniquilados”, lamenta.

Por não ter uma área portuária próxima, segundo o comandante, a região costuma ser apenas uma rota de passagem e registra o conhecido “tráfico de fim de linha”, em que o traficante compra dos distribuidores e comercializa para o consumidor final, neste caso, o usuário. Para tanto, a maior parte das drogas é trazida da Bolívia, Paraguai e Peru, onde são produzidas normalmente em grande escala. 

“E o grande problema é que tem quem compra. Isso causa uma destruição da sociedade, das pessoas que acabam tendo problemas familiares por conta de parentes envolvidos com entorpecentes. Se perguntar, todas vão dizer o calvário que é ter que conviver com um usuário, que evidencia o pior da degradação humana e, em muitos casos, se torna praticamente um zumbi dentro de casa”, critica Barreto.

O coronel ainda ressalta o ponto de que, mesmo nas famílias com alto padrão de vida e extremamente estruturadas, o crime permanece sendo registrado em diversas oportunidades. “Infelizmente entra em todos os ambientes, em todas as classes sociais, já que enquanto há dinheiro, o usuário vai consumindo. A droga cria uma verdadeira bomba dentro da família. Acaba, desestrutura, varre até a própria ligação de pai e filho. E quem financia esse cenário lastimável é quem compra, quem permite que o usuário fique andando pelas ruas, e até mesmo quem dá o dinheiro para aquele familiar comprar mais”, salienta.

Tableau Infográfico

A busca constante pelos chefes do tráfico

Investigações podem levar meses para comprovar a ação de um criminoso
(Foto: Daniel Búrigo)

É por conta do objetivo de atingir os traficantes mais sofisticados, que ocupam vagas nas cadeias de comando nas regiões e organizações criminosas, que existe o trabalho da Divisão de Repressão de Entorpecentes da Polícia Civil de Criciúma, vinculada à Divisão de Investigação Criminal (DIC). 

Esses criminosos são aqueles que simplesmente nem tocam na droga, segundo o delegado responsável pela Divisão de Repressão de Entorpecentes de Criciúma, Eduardo Ferraz, uma vez que possuem os subordinados para levar, buscar e transportar as substâncias. “Para chegar nesse grande traficante, o trabalho de patrulhamento não vai resolver, porque esse tipo de ação acaba pegando sempre a ponta da quadrilha, que no fundo é o menos importante, já que quando um é detido, no dia seguinte surgem milhões de substitutos para assumir o serviço. Então acaba não mudando nada na estrutura do tráfico. É aí que a Polícia Civil entra, para ir além e buscar o traficante que tem poder de decisão, que quando prendemos, acabamos abalando a estrutura da quadrilha”, afirma.

Para chegar nesse tipo de criminoso, o trabalho investigativo envolve muita informação. “Porque ele nunca está com a droga, então é preciso buscar provas para vincular o traficante com os entorpecentes em questão. É bem complexo até conseguirmos comprovar que é bastante, um crime de relevância, e levarmos a um julgamento e condenação”, argumenta Ferraz.

O dinheiro que a pessoa dá para o traficante é usado para financiar todas as outras formas de crime, porque o tráfico é a base da criminalidade

Eduardo Ferraz, delegado da Polícia Civil

Os números de apreensões e prisões realizadas pela Polícia Civil de Criciúma nos últimos anos comprovam a efetividade das ações. De 2016 para cá foram apreendidos mais de 176 quilos e 65 pés de maconha; mais de 8,2 quilos de crack e outros 8,2 quilos de cocaína; 1.485 comprimidos de ecstasy; e 288 micropontos de LSD. Além disso, foram detidas 49 pessoas em flagrante. 

Assim como na Polícia Militar, os trabalhos na Civil também envolvem traficantes das periferias e das áreas de mais alto porte financeiro. “Continuamos fazendo trabalhos nas áreas mais carentes, onde o tráfico é mais comum, mas além disso estamos buscando atuar atrás de traficantes mais elaborados, que fornecem para a classe média e alta”, pondera o delegado.

Por fim, para a autoridade policial, é simples definir quem financia o tráfico de drogas como um todo. “São os usuários, porque a cadeia se retroalimenta. O dinheiro que a pessoa dá para o traficante é usado para financiar todas as outras formas de crime, porque o tráfico é a base da criminalidade. O furto do dia a dia é causado por um usuário que não tem dinheiro para comprar a droga, ou por algum membro de facção que está devendo e não quer ser morto. As armas compradas pelos traficantes e organizações criminosas são caras e precisam ser pagas de alguma forma, normalmente com o dinheiro da comercialização de entorpecentes. A maior parte dos homicídios que temos na região é de disputas por pontos de drogas. Ou seja, dá de perceber que praticamente 90% dos crimes que vemos na sociedade estão ligados direta ou indiretamente ao tráfico de drogas”, finaliza Ferraz.

Os nomes de "Ana" e "Pedro" são fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.

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