Um estudo da Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc) aponta que o Extremo Sul catarinense está entre as regiões mais expostas aos impactos do tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. A nova alíquota de 50% pode atingir até 88% das exportações da região para o mercado norte-americano, o maior percentual do Estado.
Os dados foram apresentados pela economista Mariana Guedes durante a reunião de diretoria da Associação Empresarial de Criciúma (Acic) nesta semana, que contou com a presença também de representantes das associações de Içara, de Cocal do Sul, de Urussanga, de Orleans e de Araranguá.
A cerâmica não vitrificada é o setor que mais exporta para os EUA: representa 40% dos produtos vendidos ao país. No entanto, entre os 11 setores que mais exportam, os mais impactados pelo tarifaço são produtos do agronegócio, como a madeira em forma (99% das exportações da região é para os EUA) o mel (80%), o amido (82%) e as farinhas de legumes (70%).
A situação se agrava ainda mais para o mel e produtos de madeira, pois os Estados Unidos são responsáveis pela compra de 70% da produção mundial destes produtos. Além disso, o Brasil está entre os cinco maiores fornecedores de mel e de madeira ao país.
Diversificação
O presidente da Acic, Franke Hobold, reforça que a diversificação dos mercados é um caminho estratégico diante do cenário e cita como exemplo a experiência da carne suína em relação à possibilidade de buscar novos destinos para os produtos."Até quatro anos atrás, 60% da carne suína exportada pelo Brasil tinha como destino a China e Hong Kong. Hoje, esse percentual caiu para 13% em relação à China, porque abrimos o mercado das Filipinas, que já representa 23% da exportação", ressalta."São exemplos claros de que há alternativas, mas isso exige tempo, planejamento e ação coordenada. É fundamental que as empresas da região invistam em diversificação, ao mesmo tempo em que acompanhamos a judicialização do tema nos Estados Unidos, que pode ter uma decisão até outubro e solução consolidada no próximo ano", acrescenta Hobold.
Para o conselheiro fiscal da Facisc, Edio Kunhasky Junior, é preciso pensar em políticas de longo prazo como alternativa às empresas, para que possam ampliar a venda a outros mercados e sofrerem menos os impactos de futuras crises geopolíticas."O estudo da Facisc mostrou que a maior parte dos 11 setores do Extremo Sul que mais exportam aos EUA também têm como potenciais compradores países como Canadá, Austrália, Romênia e República Tcheca. Ainda há outros países como México, Turquia, Eslováquia e Filipinas, que aparecem como potenciais compradores dos produtos da região", avalia o conselheiro.
Mesorregião
Estudo elaborado pelos economistas Leonardo Alonso Rodrigues e Alison Fiuza, também apresentado à diretoria da Acic na reunião anterior, aponta setores e municípios que podem ser mais atingidos em razão de sua pauta de exportações. Nesse caso, considerando o volume negociado em 2024 pela mesorregião Sul, que engloba a região de Tubarão, além das regiões de Criciúma e de Araranguá, contempladas pelo levantamento da Facisc.
Somente Criciúma movimentou US$ 17,7 milhões para os Estados Unidos no ano passado, representando 1% do total estadual. Entre os produtos mais embarcados no Sul do Estado, destacam-se artigos cerâmicos, químicos e plásticos, enquanto Criciúma tem como principais itens exportados cerâmica, químicos e materiais plásticos.
Grande parte desses produtos está fora da lista de exceções divulgada pelo governo americano, o que torna a região mais vulnerável. "Esse é um ponto de alerta, já que grande parte da nossa base exportadora não foi contemplada pelas isenções. Setores tradicionais do Sul catarinense podem sentir os efeitos de maneira mais direta, com impactos sobre produção, competitividade e empregos", alerta Rodrigues."O tarifaço exige que as empresas busquem alternativas, diversifiquem mercados e se adaptem às novas regras internacionais. É um desafio que pode gerar perdas no curto prazo, mas também abrir caminhos para inovação e reposicionamento", entende Fiuza.