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Recuperação ambiental dos rios é um desafio na Região Carbonífera

Fórum Permanente de Restauração do Rio Mãe Luzia ganha destaque na Rádio Som Maior; reportagem do 4oito recupera outros casos de rios sem vida na região
Por Heitor Araujo Criciúma - SC, 08/06/2020 - 11:37 Atualizado em 08/06/2020 - 11:38
Rio Mãe Luzia (Fotos: Lia Cristiam Nascimento dos Santos / Fórum Permanente de Restauração do Rio Mãe Luzia)
Rio Mãe Luzia (Fotos: Lia Cristiam Nascimento dos Santos / Fórum Permanente de Restauração do Rio Mãe Luzia)

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O Fórum Permanente de Restauração do Rio Mãe Luzia trabalha para despoluir o rio em conjunto com a comunidade. O curso de água que nasce em Treviso, passa por sete municípios e desagua no Rio Araranguá, está poluído há décadas, decorrente da atividade carbonífera na região. O Mãe Luzia é um entre muitos exemplos de cursos de água poluídos ao ponto de não registrar a presença de peixes no Sul catarinense. 

A presidente do Fórum, doutora em ciência da saúde Miriam da Conceição Martins, traçou um panorama da missão de revitalização do rio, em entrevista ao Programa Adelor Lessa, da Rádio Som Maior, nesta segunda-feira, 8. Para a bióloga, além dos trabalhos técnicos e científicos, o desafio é integrar a missão de cuidar do rio com a comunidade.

"O rio continua poluído, mas estamos desenvolvendo ações. É um processo lento. O fundamental é que a gente sensibilize e conscientize a população a cuidá-lo. Quando a gente faz qualquer atividade técnica e científica tem que ter o envolvimento da comunidade. Fazer essa parceria e com que as pessoas consigam enxergar que todos nós somos responsáveis por ele", disse.

De acordo com a especialista, não há novos focos de poluição ativos no rio. Os metais pesados, oriundos da atividade carbonífera na região, permanecem nas águas de tempos remotos e o trabalho para remoção demanda mais tempo do que a poluição por efluentes como o esgoto. 

"O rio nasce limpo na Guanabara, comunidade em Treviso, e quatro quilômetros abaixo já começa a poluir, por conta dos poluentes da mineiração do carvão, coisa do passado", afirma. O Fórum tem como parceiro a Fundação de Meio Ambiente de Treviso (Funtrev), que desde o início do ano tem um projeto no município em parceria com o Ministério Público Federal (MPF) "Nesse projeto vamos fazer levantamento de outros pontos de poluição, a Unesc já tem alguns dados", aponta Miriam.

Mãe Luzia nasce na Guanabara

O projeto em questão é o Desenvolvimento Antrópico Tecnológico e Ambiental (Data), gerido pela Funtrev. Em dezembro do ano passado, quando o coronavírus ainda não era uma realidade no mundo, o engenheiro ambiental da Fundação, Vinícius Pasquali, explicou como funcionaria o Data, colocado em prática com a aquisição de materiais com recursos angariados junto ao MPF, de R$ 250 mil.

"A aquisição de equipamentos ajuda os técnicos na função de fiscalização. Poderemos visualizar as melhorias na qualidade da água. Vamos adquirir sonda, drone, estação eteorológica, equipamento topográfico, computadores e tudo mais", afirmo o engenheiro na época. "Com essa destinação, vamos transformar a nossa fundação uma das mais bem equipadas do Estado", ressaltou.

Miriam disse à Som Maior que, mesmo com a pandemia, as ações de despoluição do Rio Mãe Luzia continuaram. As visitas técnicas na nascente indicaram a presença de 40 espécies de aves e a ideia é criar um programa de educação ambiental nas escolas de Treviso. 

O forçado isolamento social diminui as ações humanas nocivas ao meio-ambiente. "Esse ano não tivemos muita informação de focos de poluição, mas quando acontece atividade diferente, no ano passado por exemplo, a gente percebia em alguns momentos a gente a mudança da cor da água. Agora percebemos que não está acontecendo", destacou Miriam.

Ela relacionou à queda da poluição no planeta como um todo em meio ao isolamento social decorrente do coronavírus. "Por conta desse isolamento forçado, a gente diminuiu lançamento de gases do efeito estufa, as empresas reduziram suas produções e a gente recebe relatos em várias partes do mundo de lugares inóspitos que começa a surgir vida. Se diminuir a carga poluidora, o próprio planeta dá uma resposta positiva. É a própria ação do homem que estraga", disse Miriam. 

"Temos que ter consciência que a gente não tem vida se não tem água. É fundamental para a vida a água de qualidade. No Estado, a nossa região é a mais rica em recursos hídricos, mas é a área mais crítica do Estado, porque não tem como consumir essas águas neste momento", acrescentou a bióloga.

A poluição dos rios é uma realidade latente na região Carbonífera. A aparição de peixes nas águas acaba sendo um evento, pois os moradores ribeirinhos mais novos nunca haviam visto nos rios. No Rio Mãe Luzia, peixes foram vistos em outubro do ano passado, o que segundo Vinícius Pasquali já era um reflexo do processo de despoluição, que deve durar ainda longos anos.

Em fevereiro deste ano, peixes foram vistos no Rio Criciúma, o que causou surpresa aos moradores do bairro Santa Bárbara, que capturaram o momento em vídeo. A recuperação ambiental na região é uma pauta que conta com a participação do MPF. 

Em Urussanga, em setembro do ano passado, uma audiência pública foi convocada pela Comissão de Turismo e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, para tratar do processo de recuperação do Rio Carvão. Na época, a reportagem do Portal 4oito conversou com o procurador Demerval Ribeiro Vianna Filho sobre a poluição nos rios da região e a recuperação cobrada junto às carboníferas e ao governo federal. 

"Os rios (das bacias Araranguá, Urussanga e Tubarão) continuam muito poluídos. Algumas empresas carboníferas quebraram, o que atrasou o processo. São 1,2 mil quilômetros de rios impactados, sem falar nos lençóis freáticos, que não despoluíram nada. O que nós precisamos é determinar um prazo para quando essa situação vai ser resolvida", avaliou. 

Os prazos para recuperação dos rios são longos. "A poluição é com metais pesados, então não é um processo muito simples. Esse tipo de poluição leva mais tempo para retirar, é mais difícil. Não tem como dizer que vai resolver isso amanhã. O que cada um de nós pode fazer é não achar que o rio é um depósito para colocar um monte de porcaria", ressalta a bióloga Miriam; o processo é de dezenas de anos.

"A gente percebe que há várias propriedades em que o rio passa. O rio faz parte da nossa vida, fazem-se essas ações de longo período, iniciando neste ano. Mesmo durante a pandemia, com esse momento de isolamento, as ações continuam para reverter essa situação do Rio Mãe Luzia", conclui.

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