O Morro dos Cavalos, em Palhoça, é mais do que um trecho problemático da BR-101: é um ponto que historicamente isola o Sul de Santa Catarina. Em um intervalo exato de um ano, (abril de 2024 e abril de 2025), o trecho sofreu dois bloqueios severos. O primeiro durou mais de 48 horas devido à queda de barreiras, afundamento da pista e abertura de crateras. A concessionária do trecho, Arteris Litoral Sul, chegou a instalar banheiros e disponibilizar água para as pessoas trancadas.
No segundo, um caminhão carregado com álcool etílico tombou e explodiu, incendiando 24 veículos e ferindo cinco pessoas, paralisando a rodovia por 16 horas. Esses episódios evidenciam a urgência de uma solução definitiva para o gargalo, que afeta vidas, economia e mobilidade.
Impactos econômicos e prejuízos reais
O empresário Ramiris Fontanella, do setor de transporte, descreve a rotina afetada pelo gargalo. Ele explica que utiliza a BR-101 entre 40 e 50 vezes por dia, com cerca de 20 a 25 caminhões em cada direção, transportando cargas para São Paulo e outras regiões. “A BR-101 é o principal elo de ligação do Sul do Estado com o resto do país. Sem esse elo, o Sul fica isolado. O último impacto direto que tivemos foi em abril deste ano, quando um caminhão carregado com álcool etílico tombou, explodiu e incendiou outros 24 veículos. Só na nossa empresa, considerando a tarifa de frete para São Paulo, o prejuízo foi de cerca de R$500 mil por dia. Imagine na economia geral quanto isso impacta”, relata Ramiris.
Ele reforça que não há rotas alternativas viáveis na região, e que o aumento de custos em desvios, como via BR-116 passando por Porto Alegre, inviabiliza o transporte local.
Vidas e saúde em risco
Para o diretor tesoureiro da Acic e conselheiro da Fiesc, José Carlos Sprícigo, o problema vai além da economia. “Não são apenas prejuízos logísticos: vidas humanas estão em risco. Cada bloqueio aumenta o tempo de resposta em emergências, dificulta o transporte de pacientes e a entrega de insumos essenciais. O Morro dos Cavalos é um problema de saúde pública, segurança e competitividade ao mesmo tempo”, alerta Sprícigo.
Estatísticas confirmadas
Diariamente na BR-101, em Pallhoça, no trecho do Morro dos Cavalos circulam em média 50 mil veículos, conforme levantamento repassado pela Polícia Rodoviária Federal. Segundo a concessionária do trecho, Arteris Litoral Sul, entre janeiro de 2023 e agosto de 2025 ocorreram 43 interdições no trecho, incluindo acidentes, quedas de barreiras, detonação de rocha e incêndios. O maior bloqueio foi em 6 de abril de 2025, com explosão de caminhão e outros 24 veículos, mantendo a rodovia interditada por 13h37min.
Dados apurados junto a PRF apontam que de janeiro de 2024 a agosto de 2025, foram registrados 63 acidentes no Morro dos Cavalos, com 59 feridos e três mortos.
Mas o que aconteceu com a obra?
A obra, que estava nos planos originais da duplicação da BR-101, iniciada em meados dos anos 1990, é esperada há mais de 20 anos. Em 2016, o Tribunal de Contas da União (TCU) suspendeu o edital para a construção do túnel na região, citando redução orçamentária e atrasos nas duplicações das BRs 280 e 470. Desde então, o projeto não foi retomado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT). Atualmente, os estudos para a execução, estimada em R$ 1 bilhão, estão sendo discutidos para inclusão na otinizaçao dos contratos de concessão da rodovia federal. O Ministério dos Transportes e o TCU analisam também proposta encaminhada pelo Fórum Parlamentar Catarinense, após diversos econtros com lideranças, empresários e comunidade, para transferir a concessão do trecho do Morro dos Cavalos, que pertence a Arteris, para a empresa que administra a parte Sul da rodovia, a CCR ViaCosteira Motiva.
A perspectiva indígena
A líder indígena do Morro dos Cavalos, Kerexu Yxapyry, ressalta que os povos locais acompanham todo o processo da duplicação da BR-101 e apoiam a construção dos dois túneis, que já possuem estudos ambientais concluídos e licenciamento vigente. "O processo de demarcação da terra indígena foi concluído e registrado em cartório. Desde 2000 acompanhamos todas as propostas para o Morro dos Cavalos, seja via aérea, túnel único ou dois túneis. Defendemos a solução dos dois túneis, considerando a preservação da fauna, flora e nosso território", declara.
Ela critica as propostas políticas recentes que desconsideram a participação indígena. "O que faltou foi a execução dos túneis. Houve discussões, estudos e licenciamento, mas a obra foi deixada de lado. Sempre que algo avançava, os indígenas eram responsabilizados. Agora temos a solução pronta e seguimos aguardando que se realize", reforça.
Ouça a líder indígena, do Morro dos Cavalos, Kerexu Yxapyry:
Decisão política e prioridade
O presidente do Fórum Parlamentar Catarinense, deputado federal Pedro Uczai (PT) aponta que, por décadas, o Morro dos Cavalos careceu de prioridade política. “Faltou decisão política tem muito discurso, mas pouca ação concreta. O Governo Federal otimizou o contrato da BR-101 Norte, buscando solução para o Morro. Depois, passou a ser prioridade número um. Agora, a questão é definir quem fará a obra. A solução mais rápida é transferir o trecho para a CCR Motiva, que tem menor tarifa de pedágio e capacidade de execução. O ministro da Infraestrutura confirmou que isso é viável”, explica.
O senador Esperidião Amin reforça que a obra é prioridade absoluta, mas lembra que o processo se arrasta há anos por questões administrativas e políticas. “Faltou decisão e execução. Agora, com a responsabilidade de execução para o contrato sul, esperamos que os passos sejam concretos. Perdemos tempo, e o transtorno só aumentou. Temos carga emocional maior, mas agora existe caminho definido”, destaca
Infraestrutura como investimento em segurança e desenvolvimento
Para a reitora da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), Gisele Coelho Lopes, a resolução do gargalo do Morro dos Cavalos, deve ser tratada como um investimento estratégico em segurança pública e no desenvolvimento regional. Segundo ela, a infraestrutura adequada não apenas garante mobilidade, mas protege vidas e fortalece a economia local. “Estamos com uma estrutura viária que é essencial para o escoamento da produção e para a segurança de todos. Investir na BR-101 não é só questão de estética ou conforto: é um investimento em segurança e desenvolvimento, e a região precisa dessa atenção urgente”, destaca a reitora.
Ela também salienta que a parceria entre setor público e iniciativa privada pode ser a chave para viabilizar o projeto. “É preciso sensibilizar os entes públicos e a iniciativa privada para que esse sonho coletivo se realize”, disse.
“Morro dos Cavalos – Solução Já!” e mobilização em Brasília
Lançada em julho pela Associação Comercial e Empresarial de Criciúma, a Acic, a campanha “Morro dos Cavalos – Solução Já!” mobilizou empresas, comunidade e políticos. A campanha conta com ações digitais, como postagens nas redes sociais, assim como ações na mídia tradicional e adesivos veiculares. O movimento envolve também a mobilização das lideranças políticas, para que a obra entre no plano de ação do Governo Federal. Nesses três meses de mobilizaçao foram realizadas audiências públicas regionais e dois fóruns parlamentares, um na região de Florianópolis e outro na região Sul.
A ação chegou a Brasília, com audiência pública na Câmara dos Deputados em 21 de outubro. O Ministério dos Transportes avalia três possibilidades: execução pela Arteris Litoral Sul, transferência para a CCR Via Costeira ou execução pelo DNIT, com licenciamento ambiental vigente para os dois túneis já aprovados pelo Ibama, mediante inclusão no orçamento federal.
As empresas Arteris e Via Costeira manifestaram disposição em negociar a melhor alternativa.
O encontro foi solicitado pelo deputado federal Luiz Fernando Vampiro e contou com a presença do presidente da Acic, Franke Hobold, além de integrantes do Fórum Parlamentar Catarinense, representantes do Ministério dos Transportes, Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), DNIT, Tribunal de Contas da União (TCU), Ibama, concessionárias e lideranças empresariais. “O Morro dos Cavalos impacta diretamente 17 municípios do Sul, responsáveis por mais de 40% da economia do Estado. Pedimos celeridade: seja por túnel ou outra alternativa, precisamos de uma solução urgente. A mobilização é contínua, e a pressão precisa permanecer até que a obra saia do papel", sublinha o presidente da Acic, Franke Hobold.
A campanha engloba também as associações empresariais de Araranguá (Aciva), Içara (ACII), Tubarão (ACIT), Orleans (ACIO) e Braço do Norte (Acivale).
Uma linha do tempo de desafios
2007-2012: O início do projeto
- Outubro de 2007: Contratação da empresa para o projeto de um túnel duplo.
- Novembro de 2010: Conclusão do projeto básico.
- Agosto de 2012: Assinatura de aditivo com a Arteris para incluir o Morro dos Cavalos na concessão, com a responsabilidade da obra repassada ao DNIT.
2016-2018: A longa espera e a licença ambiental
- Outubro de 2016: Publicação do edital de licitação.
- Abril de 2017: O Tribunal de Contas da União (TCU) recomenda a suspensão da licitação por falta de verba garantida para obras na BR-470 e BR-280.
- Maio de 2017: A licitação é suspensa.
- Dezembro de 2018: O Ibama expede a licença ambiental para o projeto.
2022-2024: Acidentes e interdições
- Dezembro de 2022: A rodovia é interditada por mais de um dia após um deslizamento de terra.
- Outubro de 2023: O DNIT solicita a renovação da licença ambiental ao Ibama.
- Abril de 2024: Um deslizamento de encosta causado por chuvas fortes abre uma cratera e interdita a BR-101 por seis dias.
2025: Mobilização e definições
- Abril de 2025: Um caminhão-tanque explode na região após tombar, incendiando outros 24 veículos.
- Julho de 2025: A Acic lança a campanha "Morro dos Cavalos – Solução Já" para pressionar por uma resolução.
- Outubro de 2025:
- Realizada uma audiência pública na Câmara Federal sobre o tema.
- O Ibama confirma o licenciamento ambiental do projeto do DNIT.
O próximo passo: Quem irá construir?
A definição de quem executará a obra aguarda uma decisão do Ministério dos Transportes, com as seguintes possibilidades em análise:
- Arteris
- CCR
- DNIT
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