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Em 2020, colégio militar em Criciúma

Governo pretende aprovar lei que permite que oficiais da reserva possam fazer a gestão das unidades
Bruna Borges / Vanessa Amando Criciúma, SC, 13/03/2019 - 07:50
Fotos: Daniel Búrigo / A Tribuna
Fotos: Daniel Búrigo / A Tribuna

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Criciúma deve ganhar em 2020 o seu primeiro colégio militar. É essa a expectativa do comandante da 6ª Região de Polícia Militar, coronel Cosme Manique Barreto. “Eu tenho confiança e fé que vai acontecer o colégio, acredito que em 2020 a gente possa estar inaugurando a unidade aqui do Sul, se não tiver um óbice muito grande, se for mantida essa vontade política, nós vamos ter em 2020 um colégio policial militar em Criciúma”, disse o comandante.

A ideia não é uma novidade e vem sendo debatida nos últimos anos. A unidade mais cotada até então era a Escola Heriberto Hülse, no Bairro Próspera, mas a possibilidade não agradou a comunidade escolar e provocou protestos de professores. A situação fez surgir um novo nome, o da Escola Rubens de Arruda Ramos, no Bairro Ceará, que fica a um quilômetro de distância da sede do comando militar. 

Idealizador desde que estava em campanha, o agora deputado estadual Jessé Lopes afirma que não existe a necessidade de que o projeto seja implantado em uma escola específica. “A escola militar é uma das minhas bandeiras e já está bem encaminhada. Existe a polêmica da Escola Heriberto Hülse, que se manifestou contrária, mas isso já era um projeto do ano retrasado e que nós só demos continuidade a ele”, declara Lopes.

“A escola em si não nos importa muito onde vai ser, a gente quer é fazer a escola. Estamos em conversa, a Gered (Gerência Regional de Educação) já aceitou, o secretário de Educação, o comando-geral, já está tudo alinhado, só falta o aval do governador para trazer para Criciúma”, acrescenta o deputado.

Deputado Jessé Lopes está liderando o projeto de uma escola militar em Criciúma

Proximidade entre os locais

A unidade no Ceará é, segundo Lopes, uma alternativa. “O Arruda é uma outra opção, mas quem vai nos dar a melhor opção é a própria Gered, que é ela que vai ver qual a escola é mais ociosa, juntamente com o comando da Polícia Regional, porque também tem que ser uma logística boa para o próprio comando que vai trabalhar lá”, observa. 

Para o comandante, a proximidade da escola com o comando é um benefício, mas não é obrigatória. “É independente do ambiente, lógico que, se o colégio for próximo da instituição policial militar, fica mais fácil para uma troca de atividades, de serviços que possam decorrer à própria administração do colégio. Mas não há essa necessidade de dizer que sem isso não pode acontecer”, declara Barreto. 

“Qualquer escola com as condições mínimas e que tenha possibilidade ser fechada pelo número diminuto de alunos tranquilamente pode ser encampada para o projeto”, complementa.

Coronel Cosme Manique Barreto confiante que em 2020 o colégio entra em funcionamento

Participação de oficiais da reserva

A resistência de escolas em receber a novidade não é o maior empecilho para que o Governo do Estado leve adiante o projeto do colégio militar. A ideia esbarra, principalmente, em uma necessidade prevista no estatuto de polícia militar, que, segundo Lopes, coloca como obrigação que as atividades sejam desenvolvidas por policiais da ativa. 

“O que dificulta para nós é ter que tirar gente da ativa para jogar para a escola e é onde o comando-geral não gosta muito da ideia. Mas a gente vai trabalhar para reformular esse estatuto e trazer, inclusive, professores da rede pública para desonerar um pouco a Polícia Militar também, porque, no final das contas, é uma escola pública”, comenta Lopes.

Para esta dificuldade, o secretário de Estado da Educação, Natalino Uggioni, já adiantou que o Governo estuda como solução desenvolver uma lei que crie a possibilidade de utilização de oficiais da reserva.

“O que nós temos tratado e que deve ser levado à Assembleia Legislativa é o Colégio Militar Catarinense, é uma relação de parcerias, sim, só que nesse caso nós usaríamos policiais da reserva, tanto policiais militares quanto do Corpo de Bombeiros, aqueles que tiverem interesse em nos ajudar na gestão das escolas”, explica Uggioni.

“Aí, sim, nós teríamos esses policiais da reserva nos ajudando na gestão e a nossa equipe de professores executando as atividades didático-pedagógicas”, completa o secretário.

Secretário Natalino Uggioni estuda um convênio com o Colégio Militar Catarinense

Disciplina, foco e continência

A expectativa do Governo, de acordo com o secretário, é de que, após superada essa questão legal, o sistema militar possa ser implantado em aproximadamente 40 escolas catarinenses, entre estaduais e municipais. As cidades e unidades já estão sendo mapeadas pelas equipes da Secretaria de Educação e da Polícia Militar. 

O modelo buscado é o que tem militares na direção da escola e professores da rede responsáveis pelas aulas. “Esse é o modelo que tem dado muito certo em alguns estados e com os resultados, principalmente nos indicadores da educação por parte dos alunos, bem melhores também”, afirma Uggioni. 

O deputado comenta que visitou uma escola que segue o sistema militar em Florianópolis e relata que os estudantes terão suas aulas normalmente, mas com algumas diferenças, em especial na questão da disciplina. 

“Tem algumas exigências, mas principalmente na parte daquilo que realmente precisa saber para passar no vestibular: foco. Eles trabalham com foco, sem coisas mais amplas, a não ser o foco naquilo que eles precisam saber para passar no vestibular”, declara Lopes.

Costumes vistos em batalhões seriam replicados na escola. “Lá eles têm mais essa rigidez, têm que bater continência, tem que hastear bandeira todos os dias, têm disciplina para entrar, troca de turno, troca de professor”, conta o deputado.

“Dando esse respeito, os próprios alunos gostam disso, eu fui lá e vi o orgulho que eles têm de bater continência para o diretor, todo o respeito, eles se sentem mais seguros. Isso faz com que sejam mais cobrados também em suas notas e eles mesmos fazem essa autocobrança e os pais gostam da mudança que o aluno tem no comportamento em casa depois que vão para uma escola militar”, acrescenta. 

Comunidades das escolas citadas não querem sediar colégio militar

Escola Heriberto Hülse já se mobilizou contra o projeto

A instalação de um colégio militar em Criciúma colocou duas escolas estaduais no radar do deputado estadual Jessé Lopes (PSL) e da própria Polícia Militar (PM): a Governador Heriberto Hülse, no Bairro Próspera, e a Rubens de Arruda Ramos, no Bairro Ceará, esta segunda localizada ao lado do 9º Batalhão da PM. No entanto, a questão não é vista com bons olhos pela direção e a comunidade escolar destas instituições de ensino.

A diretora da E.E.B. Rubens de Arruda Ramos, Eli Dal Magro Nuernberg, lembra que esta não é a primeira vez que a Polícia Militar demonstra interesse na estrutura da escola para a implantação do colégio militar. “A PM já mostrou interesse uma vez, em 2017, depois desistiu, não sabemos o porquê, e agora os rumores voltaram”, conta. No entanto, segundo ela, não há nenhuma informação oficial até o momento por parte da Gerência Regional de Educação (Gered) da Associação dos Municípios da Região Carbonífera (Amrec).

Questionada sobre o colégio militar, Eli afirma que não é contra, mas que “tanto a direção, quanto a comunidade escolar é contra usar a nossa estrutura física para isso. Hoje, fazemos um trabalho de excelência na região e o nosso prédio é melhor do que outros que existem nos arredores, o número de alunos também é maior. Penso que o Arruda Ramos, como estrutura para o colégio militar, deveria ser a última opção. Deveriam abrir mão de uma escola com uma estrutura um pouco inferior do que a nossa, fazer melhorias e aí sim instalar o colégio militar”.

Atualmente, a escola conta com 300 estudantes do sexto ano do Ensino Fundamental ao terceiro ano do Ensino Médio distribuídos nos períodos matutino, vespertino e noturno, além de um quadro com cerca de 40 funcionários. Com 12 salas em funcionamento, a diretora destaca, inclusive, que a instituição teria capacidade para, aproximadamente, mais 600 alunos. Caso o colégio militar fosse instalado no Arruda Ramos, ela indaga:

“Como realocar todos esses estudantes? Pelo que entendo de colégio militar, nossos alunos não vão poder continuar no Arruda Ramos se ele virar um colégio militar. Sem contar que muitos dos nossos estudantes são de área social de risco, com problemas familiares, alguns pais até têm problemas com a polícia, então nem tem como juntar esses alunos. Esse é um fator. O outro é que fazemos um trabalho pedagógico muito intenso com eles, o trabalho social também é grande, conseguimos uma mudança de comportamento visível, então não podemos perder isso”, salienta Eli.

No Rubens de Arruda Ramos a diretora não apoia a transformação

Falta de diálogo

Ela pontua que, caso o interesse nas escolas seja mantido, deveria ser feita uma reunião entre as partes envolvidas, algo que não aconteceu até o momento. “O deputado que está levantando essa questão não entrou em contato de nenhuma forma com a Arruda Ramos, nem para conhecer o espaço, nem para saber como trabalhamos. Penso que seria interessante se todos os envolvidos pudessem sentar e conversar, ele poderia ficar sabendo o que pensam as direções das duas escolas, as APPs (Associações de Pais e Professores), as comunidades escolares como um todo”, sugere Eli.

O diretor da E.E.B. Governador Heriberto Hülse, Sidnei Ferreira, tem a mesma opinião, já que a instituição também não foi procurada pelo deputado Jessé. Conforme Ferreira, ele e os demais funcionários ficaram sabendo da movimentação através da imprensa, no ano passado. “A partir disso fizemos reuniões com os professores, pais, alunos e todos são contra. Na verdade, a gente não é contra a escola militar, desde que seja colocada em outro local”, explica.

Manifesto pela não militarização

As reuniões com a comunidade escolar serviram, inclusive, para a criação do Manifesto Pela Não Militarização da E.E.B. Governador Heriberto Hülse. O documento reúne informações sobre os encontros, as opiniões de alunos, pais, responsáveis e do corpo docente, e também mostra o que foi tratado em reunião com a Gered e o Conselho Estadual de Educação. Além disto, os alunos estão realizando um abaixo-assinado junto à comunidade para mostrar a contrariedade à possibilidade de usar o colégio Heriberto Hülse como sede de uma escola militar na cidade.

Diretor da Heriberto Hülse e o manifesto contra a militarização

Com quase 50 funcionários, Ferreira conta que o colégio atende em torno de 350 estudantes de Ensino Médio nos três períodos escolares, sendo que 75 deles ficam o dia todo na instituição e realizam atividades no contraturno escolar. Ele ressalta, ainda, que muitos alunos vivem em situação de vulnerabilidade social, enquanto outros já estão trabalhando, mas, mesmo assim, se esforçam para concluir os estudos.

“Temos estudantes que passam o dia na escola, fazem refeições aqui e, às vezes, são as únicas refeições que eles têm, pois vivem em situações difíceis mesmo. Por esse e outros motivos é que a nossa luta é pelos alunos, pelo bem deles. Um colégio militar usa recursos públicos, espaço público, me pergunto por que atender uma única classe, que são os filhos de militares? Sei que tem uma porcentagem de vagas para a comunidade, mas, para serem aceitos, esses alunos devem fazer um teste e não é todo mundo que passa”, conclui o diretor.

O que diz a Gered

De acordo com a gerente da Gered, Ronisi Cristina Agostinho Silva Guimarães, o deputado estadual Jessé Lopes procurou a Gerência no início de fevereiro. “Ele esteve na Gered conversando e apresentando a ideia dele. Reconhecemos a qualidade do ensino aplicado em escolas militares e sabemos que existe essa campanha pelo colégio militar em Criciúma, mas também sabemos que é uma bandeira do deputado, um desejo dele”, afirma Ronisi.

Ainda segundo ela, não existe um posicionamento oficial da Secretaria de Estado da Educação. “Não temos nenhuma orientação da Secretaria por enquanto, não tem nada decidido oficialmente e aguardamos a posição da Secretaria”, declara a gerente.

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