Quando se fala em produção de energia no Brasil, atualmente, os holofotes recaem sobre fontes renováveis como solar, eólica e hidrelétrica. Os avanços tecnológicos e o investimento das universidades e CTE&I, em pesquisas para desenvolvimento de outras fontes de energia, provenientes da reciclagem e do reaproveitamento de rejeitos, domésticos e industriais, tem sido testados na matriz energética nacional. No entanto, um pilar fundamental que tem garantido a segurança e estabilidade do sistema elétrico brasileiro, há décadas, e não parece estar próximo de ser plenamente substituído, é o sistema termoelétrico, que gera energia por meio da queima do carvão mineral.
Um exemplo emblemático está em Capivari de Baixo, no Sul de Santa Catarina, onde a Diamante Energia, sucessora da Termoelétrica Jorge Lacerda, completa 60 anos de operação (inaugurada em 3 de julho de 1965). A empresa é referência nacional na geração de energia a carvão e opera o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda (CTJL), a maior termelétrica a carvão da América Latina. Recentemente a companhia adquiriu uma nova operação, no Estado do Ceará, a Usina Termelétrica Pecém I.
O carvão ainda é relevante
Apesar dos avanços na incorporação de novas tecnologias em energias limpas, o carvão mineral mantém um papel estratégico na matriz energética. Diferentemente das fontes renováveis, que são gerações intermitentes, o carvão oferece estabilidade e previsibilidade essenciais para evitar apagões, garantindo o funcionamento contínuo de siderúrgicas, indústrias, hospitais, escolas e cidades inteiras. Mundialmente, as usinas movidas a carvão, respondem pela geração de energia a 38% das residências, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA). O carvão, como fonte energética, embora deva ser gradualmente substituído, e no Brasil em especial, é uma fonte que vem perdendo representatividade na matriz e, atualmente, responde por cerca de 2% de participação na matriz energética. Um indicativo positivo, é que o carvão é a principal e mais relevante fonte de energia utilizada por todo o mundo. Nos EUA, esta fonte acabou de receber novos impulsos para incremento de sua aplicação na geração de energia. Na China, responde por 80% da matriz, e na Índia é disparadamente a principal fonte.
O Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda fornece cerca de 21% da demanda de eletricidade de Santa Catarina, movimentando cerca de R$ 2 bilhões por ano na economia local e gerando mais de 21 mil empregos diretos e indiretos em aproximadamente 15 municípios da região. A cadeia produtiva do carvão envolve mineração, transporte, geração de energia, indústria do cimento e maquinaria, contribuindo significativamente ao desenvolvimento econômico regional.
Eficiência e sustentabilidade na prática
Em 2023, conforme dados extraídos do Instituto de Energia e Meio Ambiente, e da Agência Internacional de Energia, o CTJL gerou aproximadamente 3,6 milhões de MWh líquidos com uma eficiência térmica líquida média de 32,42%. O consumo específico de carvão foi de 0,599 toneladas por MWh. A usina adota tecnologias avançadas para reduzir impactos ambientais, incluindo filtros que retêm 99,9% dos particulados e monitoramento constante da qualidade do ar. No Brasil, em 2023, as 67 termoelétricas fosseis, geraram 26,9 TWh de eletricidade. Para esta geração, emitiram 17,9 milhões de toneladas de carbono, equivalentes a CO2e.
Esta eficácia, acima da média nacional, na Diamante Energia, provém de estratégias tipo a reutilização de mais de 600 mil toneladas de cinzas anualmente na indústria do cimento e investe em projetos de captura e armazenamento de carbono, alinhando sua operação com as metas de descarbonização. O compromisso com a sustentabilidade também se reflete em projetos sociais e culturais, como o Parque Diamante +Energia, do qual tenho a imensa honra de estar presidente de seu conselho deliberativo, que além de proporcionar lazer para a comunidade, promove educação ambiental e cultura.
Olhando para o futuro
A Fundação InoversaSul, firme no cumprimento de suas finalidades institucionais, de sua missão, e do indissociável comprometimento, presente em nosso DNA, com a promoção e o desenvolvimento regional, compreende e entende que não é possível olvidarmos de não nos afastarmos da relevância e significância de toda cadeia produtiva do carvão mineral para região sul do Estado de Santa Catarina, ao mesmo tempo e com a mesma celeridade que se avance na descoberta e viabilização em escala produtiva, de fontes alternativas de energia, assegurando a transição segura e justa.
Convictos deste comprometimento, buscamos pontes fortalecidas com outras CT&Is como o IFISC/TB, a UFSC/Ar; Sigma Parque, e empresas privadas como a Higienelar e estamos nos aproximando da Diamante Energia, instituições comprometidas e compromissadas em pesquisar e desenvolver soluções metodológicas e tecnológicas, efetivas e alinhadas com os compromissos e responsabilidades social corporativos, através da essência funcional da quadrupla hélice da inovação, comprometidos com o presente e o futuro da Planeta e das pessoas.
Juntos estamos discutindo como viabilizar projetos de transição energética justa, ao mesmo tempo que assegure o engajamento social às ações de ESG corporativos, mas não deixando de lado a responsabilidade por assegurara continuidade ininterrupta das atividades empresariais ao longo de toda cadeia produtiva do carvão mineral.
As fontes alternativas de energia a partir dos rejeitos nos diversos arranjos produtivos local, como os resíduos sólidos, residencial e industrial; casca do arroz; casca do camarão; dejetos suíno e da avicultura; ... Mas também incluindo alternativas para estimular e apoiar ações de recuperação das áreas degradadas pelo carvão, ao longo de toda cadeia produtiva, como é o caso de sucesso do Parque Diamante Energia.
Finalizando esta reflexão pública, vejo essencial discutir eficiência energética hoje é compreender que o futuro será construído sobre bases sólidas. A história da Diamante Energia demonstra que inovação e tradição podem coexistir, viabilizando uma transição energética justa e segura para Santa Catarina e o Brasil. O carvão mineral, longe de ser uma fonte obsoleta, é o seguro energético que sustenta a expansão das renováveis e assegura a confiabilidade do sistema elétrico nacional, o que não dispensa os esforços e realizações, para que gradualmente siga reduzindo sua expressão na matriz nacional de geração de energia, e ao mesmo tempo, siga evoluindo as tecnologias de mitigação dos efeitos da extração e da queima do carvão, enquanto, simultaneamente, a transição vai evoluindo e ganhando escala.
Referências: dados operacionais 2023 da Diamante Energia, Relatório de Sustentabilidade 2023, impacto econômico e social no Sul de SC, investimentos em sustentabilidade e projetos culturais na região. Relatório do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), dezembro de 2024. 4º Inventário de Emissão Atmosférica em Usina Termoelétrica, Agencia Internacional de Energia. 2024.
Valter Alves Schmitz Neto, Presidente da Fundação InoversaSul, Administrador, especialista em economia empresarial e gestão estratégica de instituições de ensino superior e de pesquisa. Mestre em Educação, com ênfase em gestão estratégica de instituições de ensino superior. E larga experiência de processo de promoção e desenvolvimento regional integrado.