Angela Ro Ro, uma das artistas mais importantes da música popular brasileira, morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos, no Rio de Janeiro. A cantora estava internada desde o dia 17 de junho, após complicações graves de saúde que a mantiveram por mais de dois meses na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Silvestre. De acordo com informações preliminares, a artista não resistiu a uma parada cardíaca, provocada por uma hipotensão severa.
A luta contra a saúde fragilizada
A cantora vinha enfrentando sérias dificuldades de saúde nas últimas semanas. Durante sua internação, chegou a ser intubada e submetida a uma traqueostomia, procedimento necessário para garantir a respiração. A cantora também apresentou dificuldades de comunicação e coordenação motora, mas, em uma demonstração de força e resiliência, ela conseguiu voltar a falar no começo de agosto.
Com a saúde fragilizada, Angela utilizou suas redes sociais e lançou um site para solicitar doações, na tentativa de cobrir os custos de seu tratamento médico, que se mostraram insustentáveis. No mesmo período, a artista também enfrentava dificuldades financeiras, o que se somava à sua situação de saúde delicada.
Uma carreira marcada por conquistas e coragem
A artista se destacou na cena musical brasileira por sua voz única e estilo irreverente. Sua trajetória começou de forma modesta, cantando em bares do Rio de Janeiro, mas a carreira decolou em 1979, com o lançamento do disco Angela Ro Ro, que trouxe dois de seus maiores sucessos, como "Tola foi você" e "Amor meu grande amor".
Com a combinação de letras intensas e interpretações emocionadas, Angela se consolidou como um dos maiores nomes da MPB. Ao longo de sua carreira, a artista lançou mais de dez álbuns e se destacou pela autenticidade de suas composições e pela força de suas performances. A cantora teve também parcerias históricas, como com Maria Bethânia e Cazuza, e tornou-se uma figura emblemática, reconhecida pela crítica e pelo público.
Além de seu talento musical, Angela se destacou por sua coragem em um período marcado por preconceito e conservadorismo. Ela foi uma das pioneiras a assumir sua sexualidade lésbica, tornando-se um símbolo para a comunidade LGBTQIAPN+ e enfrentando o estigma com muita firmeza e dignidade. Sua relação com a cantora Zizi Possi, nos anos 1980, gerou muitos rumores e discussões, mas também ajudou a quebrar barreiras e preconceitos em uma época difícil para os direitos da população LGBTQIAPN+.
A luta financeira
Apesar do sucesso na carreira e do reconhecimento como uma das maiores artistas de sua geração, Angela Ro Ro enfrentou sérias dificuldades financeiras nos últimos anos de vida. A artista não recebia aposentadoria e vivia com apenas cerca de R$ 800 mensais provenientes de direitos autorais. Sua situação foi agravada pelas despesas hospitalares, que a fizeram recorrer a pedidos de doações em busca de auxílio financeiro.
Sua morte deixa um vazio no cenário musical brasileiro, especialmente entre os artistas que, como ela, enfrentaram desafios pessoais e profissionais em busca de espaço e reconhecimento em um cenário muitas vezes hostil. O legado de Angela Ro Ro vai além de sua voz inconfundível: ela será lembrada como uma mulher corajosa, que não só conquistou seu lugar no coração do público, mas também fez história na luta contra o preconceito e pela aceitação de todas as formas de amor e identidade.
O Brasil perde, aos 75 anos, uma das suas vozes mais poderosas e representativas, mas seu legado permanece firme e eterno.
Colaboração aqui.