Ir para o Conteúdo da página Ir para o Menu da página
Carregando Dados...
FIQUE POR DENTRO DE TODAS AS INFORMAÇÕES DAS ELEIÇÕES 2024!
* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito
Por Henrique Packter 26/06/2023 - 12:48 Atualizado em 26/06/2023 - 12:53

Em 6/6/1966 foi afastado do cargo de governador, pelo presidente da república, Castelo Branco, tendo seus direitos políticos cassados por dez anos, sob a acusação de corrupção. Teve confiscadas todas as suas condecorações.

O pretexto para a cassação do mandato de Adhemar, que fazia oposição ao regime militar, foi a acusação que Adhemar teria feito nomeações de funcionários públicos em número excessivo. A 4 de junho, dois dias antes de ser cassado, Adhemar publicou no Diário Oficial do Estado de São Paulo, nota, garantindo que as nomeações eram legais e uma necessidade administrativa. Foi substituído pelo vice-governador Laudo Natel que concluiu seu mandato e governou até 31.01.1967.

ÚLTIMO EXÍLIO E MORTE

Exilou-se, pela terceira vez em sua carreira política, em Paris, França, logo depois de ter sido o mandato de governador cassado, seu terceiro mandato político a ser cassado.

Adhemar foi operado, janeiro de 1969, de hérnia e litíase. Em 7 de março, tentou se curar no santuário e gruta de Lourdes na França, onde se acredita haver águas milagrosas. Em Lourdes teve uma síncope. Faleceu, em Paris, em 12.3.1969 aos 68 anos, metade deles dedicados à vida pública.

Seu corpo foi transladado para o Brasil. Do Aeroporto de Viracopos, que ele construíra, até SP, pela Via Anhanguera, que ele também construíra. O cortejo fúnebre chegou a dez quilômetros de extensão. Foi enterrado no Cemitério da Consolação, região central da capital paulista, em 16 de março, com grande presença de público. Foi executado o toque de silêncio para o veterano da Revolução de 1932.

HOMENAGENS

Recebeu condecoração póstuma, em 1982, pelo governador do estado de SP, Paulo Maluf, um ademarista, quando foi admitido no grau de Grã-Cruz, no Quadro Regular da Ordem do Ipiranga. Lei estadual de 1980, também da época de Paulo Maluf, dá o nome de Dr. Adhemar Pereira de Barros ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Foi homenageado, também, dando-se o seu nome à rodovia SP-340 (Rodovia Governador Doutor Adhemar de Barros), que liga Campinas a Águas da Prata. Em 1978, na capital paulista, a Escola Municipal de 1º Grau do Jardim Ipê, tornou-se a "EMPG Prefeito Adhemar de Barros". Lei estadual de 9.11.1984, institui, no estado de SP, a "Semana Doutor Adhemar de Barros", comemorada, anualmente, de 22 a 28 de abril.

Em 2001, foi comemorado o centenário de nascimento de Ademar, tendo, sua família, doado seu arquivo particular ao Arquivo do Estado de SP  e lançado site e livro sobre sua vida e obra.

Projeto do senador Henrique de La Rocque Almeida, 1980, visando à anistia a Adhemar, devolvendo-lhe suas condecorações, não prosperou, sendo arquivado em 1984.

ESTILO ADHEMAR DE GOVERNAR

Construiu usinas hidrelétricas e muitas rodovias de grande porte, continuando a tradição do ex-presidente da república Washington Luís, do qual Ademar era admirador confesso. Adhemar declarou em 27.12.1938:

“O programa rodoviário idealizado pelo ex-presidente Washington Luís será por mim integralmente realizado. Abrir estradas! Eis aí uma das acertadas soluções para o desenvolvimento econômico-financeiro do Estado. Convencido da oportunidade desta medida, estudei a realização de uma completa rede rodoviária, a unir todos os centros produtores, estes com as saídas naturais da riqueza estadual!”

"Por outro lado realizou também muitas obras e ações de caráter social, construindo escolas, bibliotecas no interior do estado, hospitais e sanatórios, afirmando, no seu manifesto de candidato à presidência em 1960, que:

“Por onde passar a energia elétrica, passarão o transporte, o médico e o livro"

Uma característica fundamental de Adhemar era a ênfase no planejamento das ações de governo, no qual foi um dos pioneiros no Brasil.

O estilo político "tocador de obra" e seu visual característico: mangas de camisa arregaçadas e suspensórios, se opunha ao populismo conservador e moralizante de Jânio Quadros. Esse estilo "tocador de obra" retornaria posteriormente, nas gestões de outros governadores, como Paulo Maluf e Orestes Quércia que, em alguns casos, incorporaram partes desse figurino ademarista de tocar obras, arregaçar a camisa e amassar barro.

Adhemar era capaz de grandes frases de efeito, e uma das suas frases mais conhecidas foi chamar, por ter grande concentração de comunistas, a atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de SP  de "Abacaxi deixado pelo doutor Armando de Sales Oliveira".

Suas campanhas eleitorais eram bem elaboradas, sendo que Adhemar e Hugo Borghi são considerados os pioneiros do marketing eleitoral no Brasil.

Um dos slogans de campanha eleitoral de Adhemar de Barros, não assumido abertamente, era "Ademar rouba, mas faz", que, apesar de ser frase cunhada por seu adversário Paulo Duarte, acabou por ser lema de sua campanha eleitoral para prefeito de SP em 1957, promovendo-se sobre as inúmeras acusações de corrupção, na época as "negociatas".

Foi acusado também de desvio de verbas públicas nos períodos em que era chefe do executivo paulista. E quanto a desvio de verbas, seus adversários diziam que existia a "Caixinha do Ademar" para financiar suas campanhas eleitorais. Em reposta à crítica, os ademaristas tinham refrão popular, composto por Herivelto Martins e Benedito Lacerda:

“Quem não conhece?
Quem nunca ouviu falar?
Na famosa 'caixinha' do Adhemar.
Que deu livros, deu remédios, deu estradas.
Caixinha abençoada!"

O mais comentado processo contra Adhemar foi, em 1956, o "Caso dos Chevrolets", que teve seu desdobramento no "Caso dos caminhões da Força Pública" (a atual Polícia Militar), levando-o a exilar-se no Paraguai, Bolívia e Argentina por 6 meses e 25 dias. Seu biográfo, Carlos Laranjeira, em "Histórias do Adhemar", lembrou que foram também 6 meses e 25 dias que o maior adversário de Ademar, Jânio Quadros, permaneceu na presidência da república. Ademar logo voltou do exílio, dizendo que queria ser absolvido pelo povo nas urnas. Foi eleito prefeito de SP em 1957.

O promotor do "Caso dos caminhões da Força Pública" foi o jurista Hélio Bicudo. Adhemar foi defendido, no "Caso dos caminhões da Força Pública', pelos advogados Ataliba Nogueira e Esther de Figueiredo Ferraz, que se tornaria a primeira mulher a ocupar o cargo de ministro de estado no Brasil. Foi absolvido das acusações pelo Tribunal de Justiça de SP por 16 votos contra 12. Adhemar publicou na revista "O Mundo Ilustrado", em 1956, relato das dificuldades que enfrentou neste seu segundo exílio. Entre outras dificuldades, Adhemar, piloto, conta que voou sem auxílio de instrumentos, guiado só por mapas e que quando chegou ao Paraguai lhe informaram de um plano para assassiná-lo.

Outro caso famoso de suposta "negociata" muito comentado foi o "Caso da Urna Marajoara" do Museu Paulista.

Adhemar adorava eleições e disputava todas que podia, mesmo quando tinha poucas chances de ganhar. Foi alvo constante de caricaturistas e humoristas e do bom humor do povo, que chamava um pequeno túnel por ele construído, no centro da cidade de SP, de o buraco do Adhemar. A dupla caipira "Alvarenga e Ranchinho", parodiando um anúncio radiofônico do remédio Melhoral, cantava:

"Ademá, Ademá, é mió e num faz má"

Também provocava risos quando, já nos tempos do Palácio dos Bandeirantes, uma suposta amante telefonava para ele e Adhemar atendia: "Como vai, Doutor Rui?… Um beijo, Dr. Rui!", segundo depoimento do jornalista Percival de Souza.

Estava sempre se revezando na prefeitura de SP e no governo do estado de SP com Jânio Quadros, seu eterno rival, e cuja política era sempre suspender suas obras. Curiosamente, ambos, Adhemar e Jânio, eram maçons, como consta na lista de maçons famosos nos sítios da maçonaria brasileira. Adhemar de Barros foi iniciado maçom em 12.12.1949 pela "Loja Guatimozin 66", conforme consta nas atas daquela loja. Na campanha presidencial de 1960, o arcebispo de POA, D. Alfredo Vicente Scherer, fez campanha contra Ademar, pedindo aos católicos que não votassem em Adhemar por este ser maçom.

A visão dos ademaristas sobre a ascensão do janismo na política paulista é explicada assim por um líder ademarista da região de Bauru:

 

'O Brasil parou de se desenvolver quando deixaram de votar neste homem (Adhemar) para votarem em Jânio Quadros!"

A rivalidade entre o "ademarismo" e o "janismo" marcou época em SP nas décadas de 1950 e 1960. Essa rivalidade e os comícios (meetings) pelo interior de SP entraram para o folclore político do estado de SP e do Brasil, e se tornaram acontecimentos inesquecíveis para os paulistas daquela época. Ilustra essa rivalidade:

Num comício em Mogi-Guaçu, cidade a ser visitada por Adhemar e Jânio num intervalo de dois dias, o candidato do PSP, com adjetivos enfáticos e gestos agressivos começou a discursar: "Entre as várias obras que fiz em SP está o hospital de loucos. Infelizmente, não foi possível internar todos. Um desses loucos escapou e fará comício nesta mesma praça, amanhã." Para delírio do povo (ademarista), a gargalhada era geral. No dia seguinte, Jânio Quadros foi recepcionado na cidade. Um adepto janista relatou a ele tal acontecimento. No seu comício, deu o troco: "Quando fui governador de SP, construí várias penitenciárias, mas não foi possível trancafiar todos os ladrões. Um escapou e fez um comício aqui mesmo nesta praça ontem."

Três outros exemplos deste folclore político:

1.    Num comício em Jaú, Ademar, bate a mão no bolso: "Neste bolso nunca entrou dinheiro do povo!" Alguém na multidão gritou: "De calça nova, heim Doutor!"

2.    Em São José dos Campos, segundo depoimento de Mário Carvalho de Araújo, Adhemar não hesitou em descer do palanque, interrompendo seu comício, dirigindo-se a um homem que estava encostado numa árvore fumando um charuto e fumou-o com o homem, surpreendendo a todos.

3.    Em Penápolis, acontecimento inusitado: sempre ligado ao social, Adhemar escutou prostitutas no palanque, num comício, onde elas reclamaram de suas más condições de trabalho, segundo depoimento da moradora Luciana de Castro.

O COFRE DO ADHEMAR

Mesmo depois de falecido, Adhemar foi alvo de escândalo: em 18.06.1969, membros do movimento guerrilheiro VAR-Palmares assaltaram, no RJ suposto cofre de Adhemar, na casa de sua ex-secretária Anna Gimel Benchimol Capriglione, segundo algumas versões, sua amante. O episódio ficou conhecido como o "Caso do Cofre do Adhemar". O valor subtraído, que, segundo ex-membros da VAR-Palmares, contaram à Revista IstoÉ, foi de 2,596 milhões de dólares, equivalente em 2010, corrigido pela inflação da moeda americana, a 15,4 milhões de dólares. Anna Gimel, porém, declarou à polícia carioca que, no cofre, achavam-se apenas documentos. Em telegrama diplomático vazado dos EUA, o ex-embaixador John Danilovich afirma que Dilma Rousseff planejou o assalto. Um dos filhos de Adhemar, o então deputado federal Adhemar de Barros Filho, declarou à revista Veja, em 1970, que Adhemar passava por dificuldades financeiras, que não havia dinheiro algum no cofre, e que fora ele, Adhemar Filho, quem pagara as despesas do translado dos restos mortais de Adhemar, de Paris a SP.

ADHEMAR EMPRESÁRIO

Foi proprietário da fábrica de chocolates Lacta, além de possuir interesses na área imobiliária, especialmente a Imobiliária Aricanduva. Foi responsável pelo loteamento, na capital paulista, que se tornou o Jardim Leonor, nome de sua esposa.

Ajudou a desenvolver parte do bairro do Morumbi, em SP na década de 1960, quando o governo do estado comprou o Palácio dos Bandeirantes e seu vice-governador Laudo Natel, então presidente do São Paulo Futebol Clube, construiu o Estádio do Morumbi. Na década de 1940, a construção do Estádio do Pacaembu por Adhemar, dera também origem ao bairro homônimo.

Foi sócio da empresa "Divulgação Cinematográfica Bandeirantes" e da Rádio Bandeirantes. Elas, mais tarde, dariam origem à Rede Bandeirantes de rádio e televisão, hoje presidida por seu neto, Johnny Saad e localizada no bairro do Morumbi na capital paulista. Foi presidente das Fábricas Redenção e Nossa Senhora Mãe dos Homens, proprietário de fazendas no interior de SP, da Fábrica de Produtos Químicos Vale do Paraíba, da Sociedade Extrativa de Taubaté, com plantação de cacau para a Lacta, e da Sociedade Extrativa Limitada de Itapeva.

LACTA

A empresa Lacta, fabricante brasileira de chocolates, foi de propriedade de Adhemar de Barros. Após sua morte, a gestão da empresa passou a seu filho e também político Adhemar de Barros Filho. Em 1996, após brigas na família, a empresa foi vendida à Kraft Foods.

RÁDIO BANDEIRANTES

Adhemar de Barros foi o segundo proprietário da Rádio Bandeirantes de SP. A rádio foi fundada por Paulo Machado de Carvalho, e comprada depois por Adhemar. Mais tarde, Adhemar venderia sua rádio ao genro, João Saad.

HERDEIROS POLÍTICOS

Cientistas políticos não conseguem estabelecer herdeiro político do ademarismo. O estilo de governo Paulo Maluf pode ter sido influenciado nalguns aspectos pelo estilo de Adhemar, porém eles não foram aliados políticos. A carreira política de Maluf começa com sua nomeação para prefeito de SP, no dia do óbito de Adhemar: 12.03.1969.

O ademarismo continuou sendo grande força na política paulista, mesmo depois de extinto o PSP: em 1972, 60% dos prefeitos eleitos naquele ano em SP vinham do PSP.

Adhemar de Barros Filho (1929-2014), o "Ademarzinho", seguiu carreira política e chegou a se eleger deputado federal, várias vezes, entre 1966 e 1994, e foi, também, secretário de estado, em SP, na década de 1970. Os filhos de Adhemar Filho o impediram de fazer empréstimos em dinheiro para as campanhas políticas.

BIOGRAFIA SUMÁRIA

·        Deputado estadual em SP (1935–1937);

·        Interventor federal em SP (1938–1941);

·        Governador de SP (1947–1951 e 1963–1966);

·        Prefeito de SP (1957–1961).

Por Henrique Packter 20/06/2023 - 10:17 Atualizado em 20/06/2023 - 10:23

Adhemar Pereira de Barros (Piracicaba 1901, Paris, 1969) foi aviador, médico, empresário e influente político brasileiro entre 1930 e 1960.

 

VIDA

De família tradicional cafeicultora de São Manuel, interior de SP, foi prefeito da cidade de SP (1957–1961), interventor federal (1938–1941) e duas vezes governador (1947–1951 e 1963–1966). Seus seguidores, ainda hoje existentes, são "ademaristas". Concorreu à presidência da república do Brasil em 1955 e em 1960, conquistando, nas duas eleições, o terceiro lugar. Nas eleições de 1960 visitou o sul de SC; Criciúma e Urussanga. Nesta última cidade acompanhei seus movimentos, eu estava apenas a um ano em Criciúma. Num grande comício no centro de Urussanga foi desafiado pelos populares presentes a consumir leite, uva e melancia simultaneamente, pois havia o conceito que a mistura destes alimentos poderia até causar a morte. Pois não é que o corpulento Adhemar, diante da população local consumiu tudo isso e mais um pouco, sem ser minimamente afetado!

Grande parte da população de Criciúma deslocou-se para Urussanga e assistir ao comício. Lembro ainda de PAULO CARNEIRO e família e de LEANDRO MARTINHHAGO, mulher e filhos, do dentista ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS e outros, rumando céleres para a modesta Urussanga de então e assim conhecer a celebridade. 

OBRAS E ALGUMAS HOMENAGENS

Os bairros Cidade Ademar e Jardim Adhemar de Barros; a rua Governador Adhemar Pereira de Barros (em Itapetininga - SP); a avenida Adhemar de Barros (Salvador - BA); a Escola Municipal de Ensino Fundamental Prefeito Adhemar de Barros (bairro Campo Limpo; o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; o Aeroporto Estadual Adhemar de Barros (Presidente Prudente), o Estádio Adhemar de Barros (Araçatuba); a avenida Adhemar de Barros (Guarujá/SP) e a Rodovia Adhemar de Barros foram nomeados em sua homenagem.

Formação acadêmica e a Revolução de 1932

Formou-se em Medicina em 1923 pela Escola Nacional de Medicina, (atualmente pertencente à Universidade Federal do RJ). Especializou-se no Instituto Oswaldo Cruz. Estudou nos EUA e fez residência médica em várias cidades europeias, onde se tornou aviador, retornando ao Brasil em 1926. Poliglota, Adhemar era fluente em alemão, francês, inglês e espanhol.

Em 6.04.1927 casou-se com Leonor Mendes de Barros, tendo o casal quatro filhos: Maria Helena Pereira de Barros Saad, Ademar de Barros Filho (o Ademarzinho), Maria Pereira de Barros (a Mariazinha) e Antônio Pereira de Barros.

Clinicou até 1932, ano em que se engajou nas fileiras da Revolução Constitucionalista de 1932, como o fizeram, também, grande parte dos jovens paulistas da época. Com a derrota do movimento constitucionalista, exilou-se no Paraguai, onde se alistou como médico na Guerra do Chaco, e na Argentina. Nos seus governos sempre procurou beneficiar os ex-combatentes de 1932 com pensões e homenagens, tendo, em 1947, iniciado a construção do Monumento do Soldado Constitucionalista, em SP.

Guilherme Figueiredo, filho do Coronel Euclides Figueiredo, que atuou no comando do Exército Constitucionalista, afirmou em entrevista de 1977, que Adhemar de Barros já era próximo de Getúlio Vargas e de Filinto Muller desde aquela época e também atuava como agente e informante do governo federal. Ele cita, como prova, carta do Coronel Benjamin Ribeiro da Costa, de dezembro de 1932, quando este estava no exílio argentinio junto aos demais líderes do levante, incluindo o Coronel Figueiredo. O conteúdo da carta era a respeito de informações coletadas por Ribeiro da Costa para elaboração de plano para novo levante contra o regime Vargas. Adhemar de Barros, na qualidade de mensageiro único, teria sido o responsável pela entrega de uma cópia dessa correspondência à polícia de Vargas. O fato foi revelado anos depois pelo jornalista e historiador Hélio Silva, autor de 1932: a guerra paulista, que pesquisava para o seu livro, descobrindo a carta nos arquivos de Vargas.

Vida pública

Primeiros passos

Lançado na política partidária por um tio, ex-senador estadual na República Velha, José Augusto Pereira de Resende, chefe político do Partido Republicano Paulista (PRP) da região de Botucatu. Em 1934 elegeu-se deputado estadual constituinte pelo PRP, fazendo forte oposição ao governador Armando de Sales Oliveira, denunciando principalmente desmandos na administração do Instituto Butantã na gestão daquele governador.

Como deputado estadual defendeu a cultura do café, apoiou o candidato José Américo de Almeida, que disputava contra Armando de Sales Oliveira, a presidência da república nas eleições que deveriam ocorrer em janeiro de 1938. Defendeu presos políticos, entre eles Caio Prado Júnior, e foi oposição ao governo federal de Getúlio Vargas.

Foi deputado estadual até 10.11.1937, quando Getúlio deu golpe do Estado Novo cerrando todas as casas legislativas do Brasil.

Interventor federal (1938–1941)

Durante o Estado Novo foi nomeado interventor federal em SP pelo presidente Getúlio Vargas, recomendado por Benedito Valadares e Filinto Müller. Governou SP, como interventor, de 27.4.1938 a 4.6.1941.

Getúlio, em 1950, assim narrou, para Revista do Globo, a escolha de Ademar:

“A escolha de Adhemar de Barros para a interventoria em SP foi uma prova de meu esforço de dar ao Brasil novos líderes. Adhemar fora me apresentado não me recordo por quem (Benedito Valadares) e passara a visitar-me frequentemente em palácio, trazendo notícias de SP. Ora vinha com novidade sobre a política ora com detalhes sobre o progresso da indústria no estado bandeirante. Com o tempo as visitas se tornaram mais repetidas de sorte que eu ficava ao par de tudo o que acontecia em SP … (Em São Lourenço), convidei-o apenas para interventor e tracei-lhe as diretrizes que deveria tomar. Não o conhecia muito bem e, era necessário, portanto, fazer-lhe algumas observações. (O repórter pergunta se Adhemar foi indicado por alguém): "Não, Mas suspeito que ele era protegido de Filinto (Müller)!".

 Inaugurou, no seu primeiro governo, visitas frequentes às pequenas cidades do interior do estado, antes ignoradas pelos governadores. Foram 58 cidades do interior visitadas por Adhemar, somente nos dois primeiros anos da interventoria. Visitou, em 1939, no extremo oeste do estado, em Andradina, o Rei do Gado, Antônio Joaquim de Moura Andrade.

Como interventor, cabia a Adhemar, nomear todos os prefeitos do estado, através do "Departamento das Municipalidades" que prestava assessoria às prefeituras. Adhemar preferiu nomear jovens técnicos para as prefeituras, demitindo todos os prefeitos do estado, logo que assumiu o governo, renovando o quadro político de SP e preterindo políticos do antigo PRP.

Iniciou, em 1939, a construção do Edifício Altino Arantes, sede do Banco do Estado de SP, inaugurado por Adhemar (1949), no seu segundo governo. Iniciou a construção do atual edifício-sede da Secretaria da Fazenda de SP.

Criou e organizou em 5.12.1938, a Casa de Detenção de SP, extinguindo a Cadeia Pública e o Presídio Político da Capital. Este decreto previa a separação de réus primários dos presos reincidentes e a separação dos presos pela natureza do delito. Iniciou em 1940 a construção das atuais dependências da Academia de Polícia Militar do Barro Branco.

Iniciou, em 1939, as obras da Rodovia Anchieta, a primeira rodovia brasileira com túneis. Iniciou as obras da Rodovia Anhanguera em 1940. Ambas as rodovias seriam duplicadas no seu primeiro mandato como governador (1947–1951). Ampliou o Aeroporto de Congonhas. Iniciou a retificação do Rio Tietê. Iniciou a construção do Hospital das Clínicas da USP  e do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros. Construiu no complexo do Hospital do Mandaqui, hospital para portadores do pênfigo foliáceo, (fogo selvagem), doença que não recebia, na época, nenhuma assistência.

Para dar impulso às grandes rodovias, reformou o DER, Departamento de Estradas de Rodagem, criando nele, setor especializado em grandes empreendimentos rodoviários, por decreto estadual de 30.5.1939, a "Comissão Especial para Construção de Estradas de Rodagem de Alta Classe". No mesmo ano, instituiu ainda a Diretoria de Esportes do Estado de SP, por meio do decreto, nomeando como seu primeiro diretor o então capitão Sylvio de Magalhães Padilha, atleta olímpico brasileiro, quinto colocado nos Jogos Olímpicos de Berlim,1936.

As escolas estaduais, mesmo as rurais, recebiam, no tempo da interventoria, material escolar para as crianças.

Iniciou a eletrificação da Estrada de Ferro Sorocabana e terminou a Estação Júlio Prestes daquela ferrovia. Iniciou o prolongamento da Estrada de Ferro Araraquara, de Mirassol a Santa Fé do Sul, fator decisivo para o povoamento daquela região, a Alta Araraquarense, na década de 1940. O plano de Adhemar era estender a Araraquarense até Cuiabá.

Construiu o Estádio do Pacaembu, em parceria com o então prefeito de SP Prestes Maia, para ser utilizado na Copa do Mundo de 1942, a qual acabou não acontecendo pela Segunda Guerra Mundial. Também, em parceria com Prestes Maia, realizou o Plano de Avenidas de SP, inaugurando, em 1938, com presença de Getúlio Vargas, o túnel da Avenida 9 de Julho.

Construiu e entregou o primeiro autódromo brasileiro, Interlagos. Organizou o Instituto de Previdência do Estado de SP.

Em 1940, confiscou o jornal O Estado de SP, pertencente à família Mesquita e ao seu desafeto político Armando de Salles Oliveira. O jornal só foi devolvido aos seus proprietários em 1945.

Acusado de corrupção foi exonerado do cargo de interventor federal pelo presidente Getúlio Vargas (1941), mas, provou sua inocência no Tribunal de Contas do Estado de SP em 1946.

1945–1951: o PSP e o primeiro mandato como governador

Em 1945 foi permitida novamente a existência de partidos políticos, os quais haviam sido extintos em 1937. Adhemar se filiou à UDN e apoiou o brigadeiro Eduardo Gomes para presidente da república nas eleições de 2.12.1945.

Adhemar logo se afastaria da UDN, fundando em 1946 o Partido Republicano Progressista (PRP), que se fundiu com o Partido Popular Sindicalista  (Miguel Reale e José Adriano Marrey Júnior) e o Partido Agrário Nacional ( Mário Rolim Teles), formando o Partido Social Progressista (PSP), que se tornou o maior partido político de SP entre 1947 a 1965, e o único partido político com diretórios em todos os municípios do estado de SP.

Com o retorno de Armando Sales de Oliveira, do exílio, em 1945, Ademar tentou se reconciliar com ele, porém não conseguiu pela recusa da família de Armando Sales.

Eleito governador em 1947, governou SP até 31.1.1951. A Coligação PSP-PCB de Ademar causou protestos entre os membros da Igreja Católica paulista.

Neste período tiveram continuidade importantes obras iniciadas em sua época de interventor, como a construção da segunda pista da Rodovia Anhanguera e a segunda pista da Rodovia Anchieta, ambas pavimentadas e que se tornaram as duas primeiras rodovias brasileiras de pista dupla. As rodovias Anhanguera e Anchieta foram as primeiras rodovias brasileiras com duas faixas de rolamento de cada lado. Adhemar seguiu uma tradição de antigos governantes paulistas, como Washington Luís, que dizia que "governar é abrir estradas".

A pavimentação de estradas, com asfalto e concreto, uma inovação na época, feita por Adhemar, era malvista e criticada por muitos políticos, que a consideravam processo muito caro. Muitos políticos da época entendiam que os recursos públicos estariam melhor empregados se fossem usados na construção de novas estradas de terra e na manutenção e conservação das estradas de terra já existentes.

Seu lema era "São Paulo não pode parar", tempos depois reiterado por Paulo Maluf. Este lema tornou-se ideal da maioria dos políticos de SP.

Neste seu segundo governo estadual, o prefeito da capital paulista era de livre nomeação do governador do estado, o que fez com que Adhemar controlasse também a prefeitura de SP. Em 1947, Adhemar nomeou para a prefeitura de SP, Paulo Lauro, primeiro negro a ocupar o cargo de prefeito da capital paulista.

Criou o Plano Hidrelétrico de SP, base da atual infraestrutura energética do estado e plano convertido em lei (1955). Criou o Ceasa, Centrais de Abastecimento de SP, para distribuição de alimentos no atacado, administrado atualmente pelaCompanhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de SP  (CEAGESP).

Criou, depois de violenta greve nos transportes na capital, a Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), empresa estatal de linhas de ônibus urbanos, 1947. Inaugurou o Museu de Arte de SP (MASP) em 1948. Instalou em 1949, na capital paulista, a primeira linha de trólebus do Brasil e inaugurou, em 1951, a rodovia Presidente Dutra, na época chamada de BR-2, rodovia duplicada apenas em pequeno trecho de SP até Guarulhos, obra iniciada por Adhemar em 1947.

Criciúma não tem seu buraco do prefeito? Pois durante sua gestão foi construída passagem de nível no Vale do Anhangabaú, sob a Avenida São João, que ganhou o apelido popular de "Buraco do Adhemar".

Investindo muito em sanatórios, Ademar torna Campos do Jordão centro nacional de tratamento da tuberculose. A primeira-dama Leonor Mendes de Barros criou em Campos do Jordão (1947), o Hospital "Bandeira Paulista contra a Tuberculose". Sanatórios eram importantes naquela época porque não havia ainda a vacina BCG contra a tuberculose.

Ao assumir o governo, Ademar encontrou deficientes mentais misturados aos presos nas cadeias de SP, e os transferiu para hospitais psiquiátricos. Somente no início de 1947, foram transferidos 947 doentes. Criou a FEBEM, Fundação para o Bem-Estar do Menor, e a Campanha do Agasalho e o "Natal das crianças pobres".

Também enviava, junto com a primeira-dama paulista, Dona Leonor Mendes de Barros, cartas, agasalhos e presentes para pacientes dos sanatórios que construiu.

Em 1947, Ademar terminou o balneário de águas terapêuticas de Ibirá, cujas obras, iniciadas por particulares, estavam paralisadas. Foram desapropriados imóveis e executados projetos para a construção da cidade universitária da USP. Através de lei estadual levou a USP para o interior do estado. criando, entre outras, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, e a Escola de Engenharia de São Carlos, (por intermédio do deputado federal Miguel Petrilli, cuja base eleitoral era São Carlos), dando origem ao Pólo Tecnológico de São Carlos.

Oficializou o Palácio do Horto Florestal de SP como residência de verão do governador do estado. Criou, em 1948, o salário-família para o funcionalismo público estadual. Iniciou a construção do Aeroporto de Viracopos, terminado no seu segundo mandato como governador.

Criou, em 10.1.1948, a Polícia Rodoviária do Estado de SP, por decreto estadual. Composta inicialmente por 60 ex-pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), a Polícia Rodoviária de SP foi popularizada, na década de 1960, pelo programa Vigilante Rodoviário da TV Tupi.

Criou, em 14.12.1949, por  decreto estadual, a primeira Polícia Ambiental da América do Sul. Criou, em 16.8.1950, por Boletim Geral, a Delegacia da Polícia Militar, atual Corregedoria de Polícia Militar do Estado de SP.

ACUSAÇÕES DE CORRUPÇÃO

Talvez as acusações mais conhecidas tenham sido o sumiço das urnas marajoaras, uma bobagem.

Também acusado de corrupção na Estrada de Ferro Sorocabana e em obras viárias, por deputados estaduais, entre eles Caio Prado Júnior, do PCB, fez sua defesa, na Assembleia Legislativa de SP.

Em 1950, Adhemar não se candidatou à presidência, apoiando como governador, ao candidato Getúlio Vargas, constituindo uma aliança entre PTB e PSP que nomearia de "Frente Populista". O apoio de Ademar foi decisivo para a eleição direta de Getúlio à Presidência da República em outubro daquele ano. Getúlio teve, em SP 25% do total de seus votos. Adhemar esperava que, em contrapartida, Getúlio o apoiasse nas eleições presidenciais de 1955.

Outro motivo de Ademar não se candidatar à presidência, em 1950, era que teria que deixar o governo de SP com seu vice-governador e adversário político Luís Gonzaga Novelli Júnior, genro do presidente Eurico Dutra.

Adhemar elegeu como seu sucessor, em 1950, o engenheiro Lucas Nogueira Garcez, que governou SP de 1951 a 1955. Durante seu governo, Lucas Garcez rompeu politicamente com Ademar, não o apoiando na sua tentativa de voltar ao governo de SP, nas eleições de 1954, vencidas por Jânio Quadros. (Continua e finaliza na próxima semana). 

Por Henrique Packter 12/06/2023 - 07:00

Em 1970, não havia garoto que não exibisse nos pés os calçados KICHUTE. Ainda hoje, saudosistas da marca famosa, comovem-se quando leem a respeito nos jornais ou suplementos literários.

No outro dia, contemporâneo meu escreveu sobre a VARIG num jornal carioca e foi o suficiente para despertar torrentes de emoções contidas a custo.

Em 1970, ano do lançamento do KICHUTE pela indústria Alpargatas e ano do tricampeonato mundial, seu uso alcançou a década de 90. O calçado era de cor preta, feito de lona, tinha um reforço na frente e era próprio para resistir às piores condições de terreno, do areião ao asfalto. O número de pares de calçados vendidos anualmente era de 9 milhões e teve Zico como seu garoto propaganda (KICHUTE: calce esta força!).

Não cheguei a usar o calçado, mas meus filhos, sim. Foi o ano abençoado em que vivi no Rio de Janeiro com minha família, graças a uma bolsa de estudos na área de Oftalmologia no Hospital dos Servidores do Estado, o IPASE.

Por Henrique Packter 05/06/2023 - 08:00

 

Joviano e Evaldo

Joviano de Rezende e Evaldo Machado dos Santos fundaram os Oculistas Associados do Rio de Janeiro em 1965. Trata-se de Empresa de Pequeno Porte, Sociedade Simples Limitada. Funcionava nas dependências do Hospital da Cruz Vermelha Brasileira, centro da cidade do RJ. Em 1970 frequentei a clínica e conquistei a amizade de vários de seus componentes, sobretudo de Joviano, excelente professor de Oftalmologia e de Evaldo, gaúcho de Jaguarão e coronel-médico da Aeronáutica. Evaldo especializara-se em Plástica Ocular e Estrabismo, operando com grande desenvoltura. Sílvio Provenzano, outro componente dos Associados, foi grande profissional que conheci na ocasião. O grupo propiciou formação especializada a mais de 300 oftalmologistas espalhados por todo territ&ó e;rio nacional por meio do Centro de Estudos e Pesquisas Oculistas Associados - CEPOA - credenciado ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Atualmente, a Clínica está localizada no bairro de Botafogo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro.

Evaldo operou sob grande sigilo o presidente Figueiredo no RJ portador de lacrimejamento incômodo e persistente que desafiava a perícia de todos os oftalmologistas consultados. Já fora operado por duas vezes do olho afetado sem sucesso. Vem de Brasília para ser examinado por Evaldo, pai de duas filhas. Num domingo, auxiliado por ambas, opera o presidente no centro cirúrgico vazio do Hospital São Francisco de Paula no RJ. Evaldo retorna para casa e atende ligação telefônica num mundo ainda sem celulares. Do outro lado a voz inconfundível do governador Leonel de Moura Brizola:

- Doutor Evaldo: estou sabendo agora que o senhor operou o presidente Figueiredo hoje, mas não sei onde. Peço-lhe que transmita ao presidente que meu governo está à sua inteira disposição para qualquer coisa que venha a precisar.

Bem diferente daquilo que a imprensa propalava, que ambos se odiavam, que os dois viviam às turras. Evaldo transmite dia seguinte ao presidente o recado de Brizola. Figueiredo observa:

- “De todos esses políticos que andam por aí, este é o único grato pelos benefícios que tenho a ele prodigalizado”. Quem diria!

Joviano foi meu examinador em concurso para provimento de cargo de Oftalmologista no Hospital dos Servidores do Estado no RJ, o IPASE, 1971. Fui aprovado em 1º lugar. Joviano e Tancredo faleceram no mesmo dia, 21.04.1985. Viajei para o enterro de Joviano no RJ. A certa altura da cerimônia fúnebre, Sílvio Provenzano aproximou-se, e, falando pelo canto da boca, hábito seu, sussurrou:

- ‘Tás sabendo que vão operar hoje em SP, novamente, o Tancredo, não sabes?

- Não, não sabia. Coitado, do que vai ser operado?

Sílvio segredou-me:

- Do ouvido! Jesus está chamando o homem esse tempão todo e ele não escuta!

Joviano e sua Eliane, ela também oftalmologista, viajaram o mundo. Conheci-os na Sociedade Brasileira de Oftalmologia, na época na rua México, centro do RJ. Estávamos sentados, o casal e eu, ocupando as extremidades da longa mesa em que empilháramos alguns livros para consulta. Eu ainda não os conhecia. Joviano pergunta pelo meu nome e de onde eu era. Disse-lhe. Com grande tato, informou-me que lendo artigo de Ruy Costa Fernandes, outro monstro-sagrado da oftalmologia de então, viu nome absolutamente correto para designar o outro olho ao se discorrer sobre um olho:

-O outro olho? Olho contralateral? O segundo olho? Joviano lera no artigo a denominação absolutamente precisa: Olho adelfo!

Ele era assim: gostava de compartilhar conhecimento. Voltando de uma viagem a Paris, pega pedaço de giz e rascunha no quadro negro do centro cirúrgico no Hospital da Cruz Vermelha, Av. Mem de Sá, RJ, ao mesmo tempo em que esclarecia:

- Casal recém-casado, prepara-se para a lua de mel enquanto promete à sogra do rapaz mandar relatórios diários do desenvolvimento do início da vida em comum dos pombinhos.

Joviano escreve a primeira mensagem telegráfica, do jovem na lousa do Centro Cirúrgico:

-7.13.3 (c’est três étroit). A sogra, mais que depressa responde:

-6.7,13.3.7.9 (si c’est tréze étroit c’est neuf). O jovem encerra a correspondência com:

-6.7.9.7.10.20 (si c’est neuf c’est divin).

Rápido perfil de dois gigantes da oftalmologia nacional

Joviano era a elegância personificada. Acho que nunca foi visto sem paletó. Tinha gestos e linguagem refinadas. Em congressos, suas falas eram ouvidas e aplaudidas com entusiasmo. O exercício de oratória educacional possibilitava-lhe uso mais econômico e racional das palavras. O estilo de Evaldo era bem diverso: pele mais escura, largo sorriso, bom bebedor de cerveja e uísque, natural de Jaguarão no RS, sempre manifestava-se grato ao grande oftalmologista gaúcho Ivo Corrêa Mayer por tê-lo influenciado a buscar a Aeronáutica como maneira de exercer a oftalmologia. Ria-se gostosamente, em gaitadas, como ele próprio dizia. De que maneira duas pessoas tão diferentes foram sócios na mesma clínica sem que nunca se ouvisse qualquer palavra  de cada um deles que desabonasse o outro?

Em novembro de 1974, numa reunião no RJ da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, resolvem, o Dr. Eduardo Soares (BH), Dr. Eloy Pereira (Campo Grande) e o Dr. Evaldo Machado dos Santos (RJ) criarem o Centro Brasileiro de Cirurgia Plástica Ocular, cuja meta era congregar os oftalmologistas interessados na especialidade, divulgar os conhecimentos e desenvolver a Plástica Ocular no país. A presidência do Centro primeiramente foi assumida pelo Dr. Eduardo Soares, com um mandato de dois anos.

Em 8 de setembro de 1979, durante o XX Congresso Brasileiro de Oftalmologia, assumiu a presidência do Centro Brasileiro de Cirurgia Plástica Ocular, o Dr. Eurípedes da Motta Moura (SP), que juntamente com o Dr Waldir Portellinha, secretário, regularizaram juridicamente a entidade, transformando-a em Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular (SBCPO), o que permitiu que ela se afiliasse ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia dois anos mais tarde. A SBCPO é sociedade civil de caráter científico e sem fins lucrativos, com as mesmas metas anteriormente formuladas pelo Centro Brasileiro de Cirurgia Pl ástica Ocular. Em 1997, foi lançado o livro Cirurgia Plástica Ocular, editado por Eduardo Soares, Eurípedes da Mota Moura e João Orlando Gonçalves, com participação de 49 especialistas em Cirurgia Plástica Ocular. A SBCPO, em 1999, em evento coordenado pelo Dr. Hélcio Bessa, comemorou 25 anos de sua fundação com um encontro científico e homenagem aos fundadores da entidade.

Evaldo Machado dos Santos

Nasceu em Jaguarão (RS) em 29.05.1916 formando-se em 1941 pela Faculdade de Medicina da Universidade do RS. Foi discípulo do prof. Ivo Correa Meyer. Fundou o Serviço de Oftalmologia do Hospital Central da Aeronáutica, RJ. Especialista em estrabismo e cirurgia plástica ocular, foi presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (1960 e 1961). Em 1965, com Joviano Rezende fundou os Oculistas Associados onde exerceu clínica particular durante 30 anos. Faleceu no RJ em 5.12.1999.

Evaldo, entre outras coisas, era célebre no RJ e alhures, também pelo open-house que produzia todos os anos em sua cobertura no Leblon. O local era famoso porque um grupo de criminosos tomou de assalto supermercado local, enclausurando funcionários do estabelecimento no seu frigorífico. O apartamento de Evaldo localizava-se exatamente em frente ao supermercado assaltado. O open-house começava em certo dia de dezembro quando Evaldo convidava meia dúzia de pessoas, revelando dia, local e hora da efeméride. Havia a possibilidade de convidados doarem gêneros, acepipes, bebidas e até tira-gostos. No dia aprazado longa fila de convidados-de-boca e de convidados de convidados, engrossava o já intransitável redut o da família Evaldo Machado dos Santos. A frequência era variada: sambistas, chorões, colegas de farda da aeronáutica do anfitrião, o mundo oftalmológico da Cidade Maravilhosa e adjacências, socialites, jornalistas, artistas, bicões, políticos em evidência, futebolistas, craques de outras modalidades esportivas, grande número de botafoguenses e udenistas, escritores, empresários, colunistas sociais, radialistas, compositores, carnavalescos... o mundo!

O Café Soçaite

Miguel Gustavo compôs o samba satirizando a alta sociedade carioca (1955). Eram tempos em que surgiam as colunas sociais, graças ao jornalista Ibrahim Sued, do jornal O Globo, e também a Jacinto de Thormes, da revista O Cruzeiro. A música é cheia de referências a lugares, personalidades e termos utilizados na época. O sucesso de “Café Soçaite” – a mais tocada do ano – rendeu frutos. Em 1956 Jorge Veiga lançou o LP “Café Soçaite em ritmo de samba”, com músicas de Miguel Gustavo (1922-1972). Em 1957, Gustavo compôs continuação da música.

Letra de Café Soçaite

Doutor de anedota e de champanhota
Estou acontecendo num Café Soçaite
Só digo enchanté, muito merci, all right
Troquei a luz do dia pela luz da Light.

Agora estou somente contra a Dama de Preto
Nos dez mais elegantes, eu estou também
Adoro Riverside, só pesco em Cabo Frio
Decididamente, eu sou gente bem.

Enquanto a plebe rude na cidade dorme
Eu ando com Jacinto, que também é de Thormes
Terezas e Dolores, falam bem de mim
Eu sou até citado na coluna do Ibrahim.

E quando alguém pergunta: como é que pode?

Papai de Black-tie, jantando com Didu
Eu peço outro Whisky
Embora esteja pronto
Como é que pode? Depois eu conto... FIM

Parte 3 de 3 

Por Henrique Packter 29/05/2023 - 08:00

 

Cortejo fúnebre e enterro

Dia seguinte, a Globo exibiu imagens do cortejo fúnebre do Instituto do Coração ao Aeroporto de Congonhas, em SP. Multidão de dois milhões de pessoas se despediu de Tancredo Neves nas ruas da capital paulista. O telejornal acompanhou todo o trajeto do corpo em Brasília e em BH, mostrando de perto as demonstrações de apreço e tristeza da população. O enterro de Tancredo em São João del Rei, a 24.04.1985, foi transmitido ao vivo pela Globo. A editora Sílvia Sayão lembra que a montagem do equipamento para a transmissão foi complicada, durando quase um dia inteiro. No desfecho do sepultamento, o repórter Carlos Nascimento interrompeu a narração e as imagens mostraram o lento trabalho do coveiro João Aureliano, cercado de autorida des e parentes de Tancredo.

Nascimento relembra o episódio: “O enterro foi à noitinha, às sete horas mais ou menos. Durante a tarde, Boni queria esquentar a programação e me mandou narrar o que estava acontecendo. Só que não estava acontecendo nada, porque os políticos iam começar a chegar depois. Mas ele me mandava falar. Eu ia, subia no telhado e pensava: ‘Vou falar o que, meu Deus?’ Aí, eu narrava as montanhas de São João del Rei, o pôr-do-sol, descrevia e falava do Tancredo e o sino tocava… e ficava aquela coisa poética. Boni falava: ‘Ah, está ótimo!’ Foi assim a tarde inteira. Até que, enfim, à noite, houve o sepultamento e aquela cena incrível do sujeito com a pá. Quando eu comecei a falar, o Boni disse: ‘ A única hora que não é para falar é agora! Deixa, deixa!’ Então ficou aquele som do coveiro.”

A morte do oftalmologista Joviano de Rezende Filho, criador dos oculistas associados 

Joviano de Rezende Filho, grande mestre que marcou a história da Especialidade e um dos pioneiros no moderno tratamento das doenças da retina no Brasil. Joviano nasceu em Porto Novo do Cunha, MG, em 03.04.1912, filho primogênito do médico Joviano de Medeiros Rezende e de Kerma de Araújo Rezende. Formou-se em Medicina pela então Faculdade de Medicina da URJ, atual URJ, então na Praia Vermelha. Antes mesmo de graduar-se começou a atuar como interno na I Enfermaria do Hospital São Francisco de Assis e, logo depois tornou-se Assistente da Clínica Oftalmológica da então Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (renomeada em 1937), sob a direção do Professor Octávio do Rego Lopes, onde ficou até 1942. Nas décadas de 30 e 40 do séc ulo passado, consolidaram-se os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) de várias categorias profissionais, principais meios para a prestação de assistência médica aos trabalhadores. Joviano obteve o primeiro lugar no concurso para médico oftalmologista no antigo Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (IAPI), tornando-se chefe do serviço até sua aposentadoria compulsória, mesmo depois da unificação dos vários IAPs no órgão que depois se transformou no atual INSS. Joviano conseguiu que o seu serviço não ficasse adjunto a um hospital do próprio Instituto, mas sim em hospitais terceirizados, o que lhe dava mais autonomia. Conseguiu, desta forma, transformar seu serviço em referência nacional em tratamento, principalmente cirúrgico, e também como centro informal de ensino da especialidade, da mesma forma que seu consultório particular, sempre aberto para os colegas oftalmologistas de todo o Brasil que quisessem aprender a Oftalmologia da época. Iniciou suas pesquisas sobre descolamento de retina com o famoso oftalmologista espanhol Hermenegildo Arruga que no final da década de 30 e os anos 40, esteve no Brasil refugiando-se da situação política conflituosa em seu país.

Depois, Joviano contatou com expoentes mundiais dos estudos retinianos como Jules Gonin e Marc Amsler. Na década de 50, além do serviço no IAPI e no consultório particular, Joviano também foi presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO). Nesta época passou por dificuldades, seu pai ficando impossibilitado de clinicar, tendo ele que assumir tal responsabilidade. Na década de 60, ocorre o primeiro grande avanço sobre semiologia das doenças da retina e seus tratamentos. Meyer- -Schwikerath, na Alemanha, construiu o primeiro fotocoagulador de xenônio para a destruição de tumores retinianos. Nesta época, Joviano frequentava congressos internacionais e, com Nelson Moura Brasil, foi a Essen (Alemanha). Decidem comprar de Schwikerath o fotocoagulador de xenônio, pr imeiro a ser instalado no Brasil. Na mesma época, Charles Scheppens, em Boston, desenvolveu técnicas, instrumental cirúrgico e componentes para a cirurgia de descolamento de retina, objeto de estudos de Joviano. Baseado na experiência adquirida, Joviano elaborou o trabalho “Diatermia e fotocoagulação no tratamento do descolamento da retina”, apresentado e publicado nos Anais do XII Congresso Brasileiro de Oftalmologia, em BH, 1962, quando recebeu o importante Prêmio Adaga. Joviano passou a ser referência nacional em Descolamento de Retina. Na época, as cirurgias eram complexas, duravam em média de 3 a 4 horas e os resultados que alcançavam 50% de recuperação visual eram considerados excelentes.

Em 1965, seu consultório particular não tinha mais como expandir-se fisicamente e Joviano trabalhava praticamente sozinho. Nesta mesma época, o Hospital Gaffré Guinle, onde estava instalado o serviço de Joviano. Em 1965, seu consultório particular não tinha mais como expandir-se fisicamente e Joviano trabalhava praticamente sozinho. Nesta mesma época, o Hospital Gaffré Guinle, onde estava instalado o serviço de Joviano. Joviano passou a ser referência nacional em Descolamento de Retina. Nesta mesma época, o Hospital Gaffré Guinle, onde estava instalado o serviço de Joviano (já INPS – Instituto (*) Liane Nogueira Nascimento de Rezende passava por dificuldades administrativas e Joviano buscava novos desafios. Recebeu então proposta do presidente da C ruz Vermelha Brasileira no RJ para instalar um serviço de oftalmologia. O teto do andar térreo do velho prédio do hospital tinha o pé direito baixo para a época e, jocosamente, chamado de porão, embora tivesse área superior a mais de 300 m². Foi lá que Joviano instalou seu consultório. Para isto precisou vender um sítio, as salas que possuía em prédio do centro da cidade, empregando todas as suas economias. Para o novo consultório também foram os oftalmologistas Maria Lessa, Fernando Dantas Coutinho, Sylvio Provenzano, Evaldo Machado Santos, Raphael Benchimol, João Andó, Mario Bonfim , Humberto Sampaio, Davi Gryner, Edson Cavalcanti, Murilo Fontoura de Carvalho, Augusto Duarte e Flavio Rezende Dias.

A atitude de Joviano, organizando grande grupo de médicos numa clínica particular foi considerada pelos colegas como absurdo. Para dar nome à clínica, Joviano escolheu Oculistas Associados, a primeira clínica particular com vários colegas trabalhando em conjunto, contrariando a ideia até então consolidada que somente em universidades isto seria possível. Na nova clínica, Joviano estabeleceu a sistemática de reunir todos os médicos três vezes por semana para estudar e dar aulas sobre assuntos relacionados com a Oftalmologia, com grande sucesso. Assim começou o embrião do Centro de Estudos e Pesquisas Oculistas Associados - CEPOA. O ambulatório também começou a ser frequentado por colegas recém formados que não enc ontravam lugar para se especializar e assim surgiu a necessidade de formar um curso de especialização em Oftalmologia, que evoluiu e foi credenciado pelo CBO durante o Congresso Brasileiro de Salvador, 1972.

Recém formado, Joviano frequentava a Enfermaria de Oftalmologia da Santa Casa do RJ, serviço da Faculdade de Medicina da Universidade, cujo departamento de oftalmologia era dirigido por José Antônio de Abreu Fialho, professor titular. Este tempo foi aproveitado para estudo de aparelhos oftalmológicos comprados pela universidade e instalados na Santa Casa. Entretanto, cedo Joviano percebeu que por injunções da política universitária não conseguiria progredir na carreira naquela instituição. Décadas mais tarde, um grupo de médicos fundou a Faculdade de Medicina de Volta Redonda, que contava com subsídio da Companhia Siderúrgica Nacional. O projeto original previa escola de excelência, que formasse no máximo 90 médicos por ano. Isto func ionou até que o governo militar do presidente Costa e Silva dirigiu comunicado ao diretor da faculdade sobre a necessidade de aumentar o número de alunos para 250 por turma. O corpo docente opôs-se ao aumento das vagas. Diante disso, a subvenção da CSN seria reduzida substancialmente. Joviano imediatamente avisou que daquela data em diante não mais receberia um centavo da faculdade e sugeria que aqueles professores que tivessem condições fizessem o mesmo. Foi a maneira que o mestre oftalmologista encontrou para opor-se à arbitrariedade. Na faculdade era responsável pela Cadeira de Oftalmologia e vice-diretor (julho/1974 a julho/1978) e também diretor interino (agosto de 1977). Permaneceu na faculdade até 10.04.1985, vindo a falecer em 21.04.1985.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE RETINA E VÍTREO Na década de 60, um novo mundo se abria para a retina: novos aparelhos, novas técnicas cirúrgicas e de diagnóstico e novos procedimentos. Sergio Cunha, que estagiara com Scheppens, Francisco Mais, do Instituto Penido Burnier, Luiz Assumpção Osório, do RS e Cristiano Barsante, do serviço do Professor Hilton Rocha passaram a promover reuniões para discutir problemas relacionados com o tema. Em 1970, Francisco Mais, presidente do Congresso Brasileiro de Oftalmologia convidou o professor Shimizu, do Japão, para falar sobre angiofluoresceinografia, e Alice McPherson para falar sobre cirurgia (nesta época Roberto Abdala Moura ainda trabalhava com ela em Houston, ambos vindos da escola de Scheppens). O te ma oficial do congresso versava sobre retina. Era o momento da retina e as conversas sobre a possibilidade da formação de uma sociedade tinham como quartel general a casa e a clínica de Joviano. A primeira reunião oficial foi um curso realizado na véspera do Congresso Brasileiro de Oftalmologia do RJ, setembro de 1977, que teve como convidado de honra o professor Charles Scheppens. A Sociedade passou a realizar reuniões, cursos e congressos. Hoje conta com elevado número de associados, sede própria.

HERANÇA Era uma pessoa elegante no trato e com cuidado e atenção especial à ética. Discreto, evitava promoção pessoal. Recebeu homenagens que nunca divulgou. Em 1978 recebe o título de Cidadão do RJ e em 1980 durante o I Congresso das Entidades Médicas foi eleito Médico do ano. Não entrou para a Academia Nacional de Medicina apesar dos insistentes pedidos do amigo Nelson Moura Brasil. Durante o Congresso Brasileiro de Oftalmologia (1975, Fortaleza), foi indicado para presidente do CBO, mas declinou da honraria em favor de Paiva Gonçalves Filho: “você foi preparado por mim. Você veio estudar Oftalmologia comigo, é minha cria e para mim é um orgulho que seja você o novo presidente. O progresso a contece quando o aluno consegue suplantar o mestre. Vá em frente e conte com o meu voto”.

EU E JOVIANO Liane conheceu Joviano quando tinha três anos de idade. Ele era médico da Venerável Ordem da Penitência, hospital importante na época e era oftalmologista da família. Tínham 25 anos de diferença em idade. Aos 6 anos ele passou a ser seu oftalmologista. Quando terminou o curso científico, era sua intenção seguir Medicina, mas teve a oposição da família. Na década de 50, as mulheres ainda não tinham crédito para a profissão e só aos 30 anos, Joviano e ela iniciaram vida matrimonial, recebeu dele apoio e entusiasmo para prestar vestibular e estudar Medicina. Formou-se em 1977. Ele sempre a apoiou, mas nunca a protegeu. Ela escolheu a Oftalmologia, algo que o encantou, até po r que, não tiveram filhos e ela era a única da família a escolher Medicina.

Parte 2 de 3 I Texto continua na próxima semana...

Por Henrique Packter 23/05/2023 - 09:15 Atualizado em 23/05/2023 - 09:27

João Figueiredo ainda no poder, Tancredo mostrava-se alerta com lição aprendida de Vargas: “No Brasil, não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse!” Exibia uma inteligência que podia ser alegre e erudição que podia ser agradável.
 
Político marcante da história brasileira, passando pelo governo Vargas, pelo Parlamento após o primeiro golpe contra Jango, foi quadro central do MDB e, finalmente, por eleição indireta durante o processo de abertura após quase 40 dias de agonia, e comoção nacional, Tancredo Neves morreu em 21.04.1985, um domingo, sem assumir o cargo para o qual fora eleito.
 
Eleição e morte de Tancredo Neves

Derrotada a emenda Dante de Oliveira, líderes peemedebistas, mais parcelas do PDS se articularam na Aliança Democrática para disputar em 15.01.1985, as eleições para presidente da República no Colégio Eleitoral. Candidato daquela frente partidária, Tancredo Neves vence (480 votos contra 180) o candidato governista Paulo Maluf. A eleição indireta de Tancredo Neves foi recebida com entusiasmo pela maioria do povo. Seria ele, finalmente, o primeiro presidente civil do país após mais de 20 anos. Presidente eleito, Tancredo jamais assumiu o governo. Véspera da sua posse, foi internado no Hospital de Base, Brasília, com fortes dores abdominais. Seu vice, José Sarney, assumiu a Presidência dia seguinte, 15.03.1985. 
 
Equipe e estrutura

O jornalismo da Globo cobriu amplamente doença e padecimentos de Tancredo Neves. O planejamento da edição especial do Jornal Nacional mobilizou quase todo o jornalismo da emissora. Em 12 de abril, frente ao agravamento da saúde de Tancredo, Luís Edgar de Andrade, chefe de redação, é nomeado como responsável pelo esquema de colocação do JN especial no ar. Era sua incumbência escalar as equipes de plantão (chefes e subchefes dos estúdios, redatores, produtores, apresentadores e entrevistadores), checar as escalas do Centro de Produção de Notícias, toda a estrutura da Divisão de Operação e da Engenharia. Deveria também controlar os turnos de plantão, realizar testes de prontidão nos e stúdio do RJ, SP e Brasília. Os testes eram completos, indo desde a leitura das primeiras páginas do script até conferir as matérias nos equipamentos de VT. 
 
Participaram da cobertura 15 repórteres: André Luiz Azevedo, Carlos Tramontina, Caco Barcellos, Carlos Dorneles, Tonico Ferreira, Ana Terra, Leila Cordeiro, Sandra Moreyra, Neide Duarte, Leonel Da Mata, Fernanda Esteves, Valéria Sffeir, Geraldo Canali, Álvaro Pereira e Pedro Rogério, entre outros. O repórter Carlos Nascimento destacou-se por entrar ao vivo no Jornal Nacional e narrar longos textos de improviso, sem erro. A equipe contou com a ajuda de profissionais da Divisão de Esportes e de emissoras afiliadas à Globo. 
 
Todos trabalharam intensamente durante o período em que Tancredo Neves ficou internado. Tonico Ferreira achava, no final, que “a gente ia morrer junto com ele de tão cansados que ficávamos. Fui dormir pensando que no dia seguinte ia fazer a cobertura da posse. Estava tudo preparado: as divisões de matérias, quem iria fazer o quê. E à noite fomos informados que o homem tinha ido para o Hospital de Base! Uma parte da equipe ficou cobrindo a doença do Tancredo e outra cobriu a posse do Sarney. Depois, Tancredo foi transferido de Brasília para o INCOR em SP. Nós ficamos uma eternidade, na frente daquele hospital. A Globo pontificou com importantes entradas ao vivo, do Tramontina e do Nascimento, que comunicavam diariamente todo o noticiário com detalhes sobre qual antibi&ó e;tico Tancredo estava tomando. Foi bem difícil e dramática aquela cobertura: o povo ali na frente, o país parado. Cobertura inesquecível pelo lado triste e pelo cansativo.” (Tonico Ferreira).
 
A música Coração de Estudante, autoria de Wagner Tiso originalmente para homenagear outro mineiro, Teotônio Vilella, famosa na voz de Milton Nascimento, tornou-se uma espécie de hino patriótico, louvação a Tancredo Neves.
 
Isabela Assumpção concordava: “A gente tinha escalas para ficar na frente do Incor. Um repórter ia rendendo o outro por horário. Lembro que peguei um turno que começava à meia-noite indo até de manhã. Durante dias, fiquei nesse turno. Dava até para cochilar um pouco no carro. Os técnicos das UPJs (Unidades Portáteis de Jornalismo) ficavam acordados; acontecendo algo eles avisavam.” Apesar do cansaço, o trabalho foi de grande aprendizado para os jornalistas (Carlos Tramontina): “Período em que vivemos importante experiência, o país acompanhando tudo que ocorria na porta do Incor e nós evoluíndo profissionalmente. Aprendemos como falar sobre coisas técnicas de maneira simples, compreendidas pela população. Pess oas esperavam nossos telejornais para saber dos níveis de potássio e creatinina no organismo presidencial. Assuntos e termos médicos passaram a fazer parte do dia-a-dia das pessoas.”
 
Enterrado Tancredo, Luís Edgar de Andrade escreve à redação agradecendo a colaboração dos profissionais, realizando verdadeiro mutirão de telejornalismo: “Merecem cumprimento especial àqueles que, repetidamente, dobraram o expediente, trabalhando 12, 14 e até 16 horas por dia, sacrifícando lazer e convívio familiar, varando madrugadas, script na mão e os que passaram noites editando nas ilhas do ENG.”
 
O sofrimento de Tancredo Neves

Jornal Nacional exibiu matérias sobre a doença de Tancredo Neves desde 14/3, além de boletins ao vivo sobre seu estado de saúde. A princípio, essas matérias dividiam espaço com outras sobre a implantação da Nova República. Aos poucos, a saúde do presidente ocupou praticamente todo o noticiário. Vivemos clima de comoção nacional, acompanhando a agonia de Tancredo, desde a transferência de emergência para SP até a série de sete operações a que foi submetido. Contínuas manifestações de solidariedade da população em frente ao Instituto do Coração, SP, davam ar mais dramático aos fatos. O país passou semanas aguardando pelos boletins sobre a saúde do presidente, l idos diariamente pelo jornalista Antônio Britto, que deixara o cargo de editor-regional da Globo de Brasília e assumira o de porta-voz da Presidência. Naquele período, o JN contava sempre com a entrada de um repórter – em geral, Carlos Nascimento – direto do hospital. O último bloco do noticiário, de 15 minutos, era dedicado integralmente ao assunto. Carlos Nascimento atualizava as informações sobre o estado de saúde de Tancredo, do Instituto do Coração, em SP.
 
Em 21/4 após 39 dias de agonia, Tancredo Neves morreu no Instituto do Coração, vítima de infecção generalizada. O comunicado oficial do falecimento, domingo, às 22h30, por Antônio Britto, foi notícia dada no Fantástico. Carlos Tramontina, no hospital, deu ao vivo a informação. Logo após o Fantástico, foi ao ar Jornal Nacional especial apresentado por Sérgio Chapelin, com quatro horas de duração. Foram exibidos retrospectiva dos fatos, desde a eleição de Tancredo no Colégio Eleitoral até sua morte, e resumo da sua trajetória política, mostrando sua atuação como ministro da Justiça de Getúlio Vargas e como primeiro-ministro em 1961-62, a eleição para o governo de Min as Gerais em 1982 e sua decisiva participação na campanha das diretas.
 
Entrevistas foram realizadas, algumas delas no estúdio da Globo, RJ, com políticos e personalidades, como o sociólogo Gilberto Freyre. O historiador Raimundo Faoro falou ao repórter Paulo Henrique Amorim sobre questões legais relativas à permanência do vice José Sarney como presidente. Sobre esse assunto, o professor de direito constitucional Célio Borja foi entrevistado por Leda Nagle e pelo telefone, a repórter também conversou com o jurista Afonso Arinos. Artistas e personalidades de diferentes áreas prestaram depoimentos e homenagens a Tancredo Neves. Fafá de Belém inovou cantando o Hino Nacional com acompanhamento apenas de piano, com arranjo e andamento diferentes do usual. Videocharge de Chico Caruso mostrou rosto de Tancredo numa bola de gás subindo aos céus. Terminada a edição especial do JN, a Globo continuou apresentando plantões com informações sobre a repercussão da morte de Tancredo.

Parte 1 de 3 I Texto continua na próxima semana...

Por Henrique Packter 15/05/2023 - 10:20 Atualizado em 15/05/2023 - 10:26

UNESC

No outro dia (na verdade já faz dois meses), participei de evento na UNESC aqui em Criciúma, sul de SC. Foi à noite e dele participaram diversas autoridades como Joster Favero, empresário do setor gastronômico de Criciúma e Diretor-presidente da Fundação Cultural de Criciúma, o Dr. Eduardo Pinho Moreira, ex-deputado federal, ex-prefeito de Criciúma, ex-diretor da CELESC, ex-governador, ex-cardiologista. Ainda vai aparecer algum gaiato para dizer: ex-quase tudo. A FCC foi criada no governo municipal de Eduardo Pinho Moreira em 15.03.1993.

A UNESC

A Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), universidade comunitária criada em 1968 no município de Criciúma, sul de SC, foi a primeira instituição de nível superior implantada no sul catarinense. Ensino, pesquisa e extensão em várias áreas do conhecimento, tem a professora doutora Luciane Ceretta, eleita em 2017 pela comunidade acadêmica, como atual reitora da UNESC.

Você já viu o pátio para estacionamento de veículos (automóveis, motos, ônibus, vans), da UNESC, em noite de aula?

Sempre repleto, um mar de transportes urbanos. Larguei minha duas acompanhantes na porta do salão onde ocorreria o evento e saí à procura de vaga para minha condução. Depois de mito buscar deixei-a (mal estacionada) na única vaga encontrada. E para sair?

Muito procurei e voltei desconsolado e de mãos abanando. Solução encontrada pelas acompanhantes: sentar na grama-verde e esperar o campo ser esvaziado de carros. O que sobrasse deveria ser o nosso...

O QUE É A UNESC

Em 2016, a UNESC foi classificada pelo R.U.F (Ranking Universitário Folha) como a melhor universidade catarinense não pública no quesito pesquisa. Já em nível nacional, no mesmo segmento, a UNESC foi classificada como a sexta melhor universidade brasileira entre as não públicas. A UNESC também apareceu no Censo de Educação Superior do MEC 2015, em primeiro lugar no quesito internacionalização entre as Instituições de Ensino Superior privadas do Sul do Brasil (SCRSPR).

A UNESC tem Parque Científico e Tecnológico, o Iparque, que atende organizações do setor público e privado com serviços de pesquisa e análise de qualidade. Integra cinco institutos, que englobam laboratórios de análises ambientais, alimentos, engenharia e tecnologia, pesquisa socioeconômica, tecnologia educacional, incubadora de ideias e negócios, para novos empreendedores.

Tem mais: o Colégio UNESC - englobando o Ensino Fundamental do 1º ao 9º ano, e Ensino Médio; além do Museu de Zoologia Morgana Gaidzinski e a Unidade Judiciária de Cooperação, as Clínicas Integradas, Clínica Escola que atende gratuitamente a comunidade. A UNESC recebe alunos de AngolaBenimCabo VerdeEspanhaFrançaHaitiÍndiaParaguaiPeruRepública Democrática do CongoSenegal e Uruguai. Tem 43 acordos internacionais com 17 países, que recebem acadêmicos da UNESC.

HISTÓRIA

A Fundação Educacional de Criciúma (Fucri) foi criada em 22.06.1968, com cursos voltados para o Magistério, e, ao longo do tempo, com o crescimento do Sul catarinense foram criados outros, visando satisfazer a demanda empresarial. Reconhecida de utilidade pública por Decretos Federal, Estadual e Municipal, a Fucri iniciou suas atividades nas dependências do Colégio Madre Tereza Michel. Em 1971 passou a funcionar na Escola Técnica General Oswaldo Pinto da Veiga - SATC - e, em junho de 1974, mudou para o atual Campus Universitário, no Bairro Universitário, em Criciúma.

A FUCRI, mantenedora da primeira escola de nível superior criada no Sul de SC, emergiu de movimento comunitário regional. Contou com concurso de educadores, intelectuais, políticos, magistrados, lideranças comunitárias da sociedade civil organizada e imprensa.

Até setembro de 1991 a FUCRI mantinha 4 Unidades de Ensino: a Faculdade de Ciências e Educação de Criciúma (Faciecri), a Escola Superior de Educação Física e Desportos (Esede), a Escola Superior de Tecnologia de Criciúma (Estec) e a Escola Superior de Ciências Contábeis e Administrativas (Escca). Algumas ações foram executadas  com o Processo de Universidade: (1) unificação regimental e (2) criação da União das Faculdades de Criciúma (Unifacri), pela integração das quatro escolas.

O processo de transformação da Unifacri em UNESC, encaminhado ao Conselho Federal de Educação em 1991, é aprovado em ag/1992. O projeto da UNESC, encaminhado ao CEE, em fev/1993, a 3.06.1997 e em sessão plenária de 17.06.1997, viu o Conselho Estadual da Educação criar definitivamente a Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, tendo a Fucri como sua mantenedora.

Já em 11.08.1997 a Universidade recebeu sua certidão de nascimento, assinada pelo secretário de Educação, João Mattos, presente o vice-governador José Augusto Hülse. Em 18.11.1997 ocorreu a instalação oficial da UNESC, no Teatro Elias Angeloni, presentes autoridades, empresários, professores, alunos e funcionários da Instituição.

PROJETOS DE EXTENSÃO

São 7 cursos técnicos, 30 de bacharelados, 14 de licenciatura, 11 tecnológicos, num total de 62 cursos. De Ensino à Distância são mais 6 cursos.

Com o trabalho de acadêmicos, a universidade desenvolve diversos projetos de extensão permanentes junto à comunidade. Alguns deles são:

·        Diálogos Urbanos Território Paulo Freire – políticas públicas e construção do direito à cidade;

·        Prevenção e Erradicação da Síndrome da Alienação Parental;

·        Ação multidisciplinar: empreendedorismo social e apoio a regularização legal para a captação de recursos da Casa Guido de Criciúma/SC;

·        Ações para continuidade da Feira de Economia Solidária da UNESC (Fes-UNESC) e fortalecimento do fórum de economia solidária da região sul catarinense

·        Boi de Mamão na Comunidade: Educação Popular e as Linguagens Artístico-Culturais;

·        Capacitação para a Cidadania: o empoderamento de lideranças comunitárias no Território Paulo Freire;

·        Educação ambiental com enfoque na preservação de reserva biológica estadual do Aguaí;

·        Educação em Saúde: Cuidado Compartilhado aos Portadores de Síndrome Autística;

·        Implementação do Serviço de Clinico Farmacêutico na Rede Municipal de Saúde;

·        Inclusão digital para adolescentes das escolas públicas;

·        Promoção em saúde para mulheres no período da menopausa;

·        Sala de Leitura: Formando Leitores Literários e Transformadores;

·        SOS Biodiversidade: uma ação comunitária no monitoramento da diversidade local;

·        Trocar saberes em plantas medicinais na APS: aspectos Botânicos Agroecológicos Terapêuticos e Nutricionais;

·        UNESC Funcional - Programa de Treinamento Físico Funcional Destinado ao Combate da Síndrome Metabólica ou Fatores Associados.

·        Clínicas Integradas da Saúde e Casa da Cidadania.

 

CASA DA CIDADANIA

As Casas da Cidadania prestam atendimento jurídico gratuito de consultoriaassessoriaconciliaçãomediação e escritório modelo à comunidade de CriciúmaCocal do Sul e região. Objetivo principal dessa ação: tentar resolver conflitos entre as pessoas pelo diálogo direto, evitando processos judiciais.

Projeto de agosto/2000, a partir de iniciativa entre o Tribunal de Justiça de SC, curso de Direito da UNESC e prefeituras de Criciúma e de Cocal do Sul. Os serviços são prestados por Acadêmicos das duas últimas fases do curso de Direito da UNESC, por professores/advogados do curso, e de Psicologia.

O projeto conta com 6 Casas da Cidadania em CriciúmaCocal do Sul e Morro da Fumaça com atendimentos gratuitos e destinados a pessoas com renda de até três salários mínimos.

COMUNIDADE INTERNA

São 15.500 alunos que fazem parte da comunidade estudantil da UNESC.

UNESC conta com corpo docente de 689 professores nos ensinos fundamental, médio e superior:

·        289 especialistas

·        276 mestres

·        127 doutores

universidade conta com o trabalho de 653 funcionários no campus de Criciúma.

PROCESSO DE SELEÇÃO

Ingresso na UNESC ocorre de várias formas, por solicitação de vaga ou processo seletivo:

·        Diplomado (com curso superior): para quem já possui formação superior e quer fazer outro curso, sem passar pelo processo seletivo;

·        Disciplinas isoladas: para quem é formado ou concluiu o Ensino Médio. Pode cursar qualquer disciplina da grade curricular da Graduação, Pós-graduação e Mestrado;

·        Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): bom desempenho no Ensino Médio pode garantir o livre acesso à UNESC;

·        Nossa Bolsa Licenciatura: auxílio da UNESC que quita o valor integral do curso de graduação até o final do curso;

·        Programa Minha Chance: bolsa pela Prefeitura de Criciúma parceria com UNESC;

·        Programa Universidade para Todos (ProUni): a UNESC aderiu ao ProUni para receber os estudantes contemplados com bolsas de estudos do programa;

·        Sistema de Ingresso por Mérito Escolar (SIM): ingresso por bom histórico escolar;

·        Processo Seletivo de Estrangeiros: acolhe estudantes de outros países que desejam cursar graduação e pós-graduação no Brasil;

·        Transferência: para estudantes de outras instituições desejando continuar estudos na UNESC;

·        Vestibular: exame seletivo organizado pela Acafe que dá acesso aos cursos de Graduação oferecidos pela UNESC.

CAMPUS DE ARARANGUÁ (Divulgado da forma descrita abaixo)

Campus da UNESC em Araranguá (SC), parceria entre a Weber Empreendimentos e a UNESC, para edificar bairro no município: Cidade Universitária, onde seria erguida a universidade. Área de 340.000m², investimento de 60 milhões de reais. Primeiro campus da UNESC fora do município de Criciúma, teria cursos técnicos, além da graduação.

Por Henrique Packter 08/05/2023 - 08:24 Atualizado em 08/05/2023 - 08:27

JOÃO FELISBERTO RAYMUNDO,  o popular PEDRO RAYMUNDO, nasceu no Imarui (SC) em 29.6.1906.  Naquele ano, a 9 de Janeiro foi instituído o Serviço Militar Obrigatório no Brasil. É o ano do Grande sismo de São Francisco, EUA e Santos-Dumont realizava o primeiro voo com o avião 14-Bis no Campo de Bagatelle, em Paris. Assume nesse ano o 6º Presidente eleito do Brasil, Afonso Pena e a primeira transmissão radiofônica do mundo, em Massachusetts, EUA é realizada. 1906 é o ano que assinala a extinção completa do periquito-das-seychelles.

Pedro Raymundo vai falecer em 09.7.1973 no RJ de câncer.

Residiu em Imaruí até os 18 anos de idade, em 1924.Em 1925 era ferroviário em Lauro Müller, trabalhando na via férrea que conectaria a cidade ao porto de Imbituba por onde era exportado o carvão mineral catarinense.

ANOS TRABALHADOS EM PORTO ALEGRE

Em 1929 está em Porto Alegre onde trabalha na Carris, empresa de transporte coletivo urbano de passageiros, hoje tendo frota composta por 347 ônibus atendendo grande parte da cidade, com cerca de 30 linhas. Empresa contava 63 anos quando Pedro era seu funcionário. Fundada em 1872, em 1953 tornou-se empresa pública, sociedade de economia mista, com o controle acionário da prefeitura de POA, que detinha 99,9% das ações. A Carris foi considerada pela Associação Nacional dos

Transportes Públicos como a melhor empresa de ônibus urbano do Brasil em 1999 e 2001. Em 2022 foi privatizada.

Mais antiga empresa de transporte coletivo do país em atividade, nasceu por decreto do imperador Dom Pedro II, publicado em 19.6.1872. Na época, POA era pacata cidadezinha de 34 mil habitantes e que recém completara cem anos de fundação.

Inicialmente operava bondes puxados a muares, mas, em 1908, quando Pedro recém completara 2 anos de idade, a companhia inaugurou o serviço de bondes elétricos, desativado somente em 1970. Em 1926 passou a oferecer transporte por ônibus. Em 1928 foi comprada pela norte-americana Electric, Bond & Share, recebendo seu nome atual. Em 1929, aos 23 anos, Pedro está em POA. A 29.11.1953 a empresa foi encampada pela prefeitura.

Pedro gostava de exibir sua música no Mercado Público sempre que surgia alguma possibilidade

Em 1970 ainda operavam os últimos bondes elétricos, nas linhas Teresópolis, Partenon e Glória, aposentados em 8/03. Nesta década a Carris operou os primeiros ônibus com ar condicionado da história de POA, os veículos operavam serviço seletivo que atendia a região do bairro Bela Vista e eram equipados com rodomoça, cafezinho e jornal a bordo. Em 1980 foi implantada tarifa única. Em 2007 foi introduzida a bilhetagem eletrônica e os veículos passaram a circular com biodiesel. Primeira empresa de POA a utilizar veículos que facilitavam o acesso às pessoas portadoras de deficiência, inicialmente com elevadores hidráulicos.

NO RJ

Em 1943 aos 37 anos está no RJ e em 1944, aos 38 anos, explode seu maior sucesso, ADEUS MARIANA!

Em 1950 influencia Luiz Gonzaga a exibir-se com chapéu de couro e gibão a seu exemplo que se apresentava pilchado, com a indumentária típica de gaúcho, chapéu de aba larga, botas, lenço no pescoço, guaiaca, além da gaita de foles. Em 1958 já gravara 60 discos: duas músicas, uma em cada face do 78 rotações. Em 1960 começa a ser esquecido pelas novas gerações. Exibe-se em Criciúma pela Rádio Eldorado em 1963. Pode-se dizer que Prenda Minha, Adeus Mariana e Saudades da Laguna foram seus maiores sucessos.

Existe em Criciúma, SC, um CTG Pedro Raymundo desde 1985 e, faz poucos dias, o prefeito Salvaro denominou Av. Pedro Raymundo a via que leva ao CTG, inda agorinha, em março de 2023. A partir dos anos 70 a saúde de Pedro declina surge nos olhos um glaucoma que o deixa cego do olho direito. Decide então encerrar sua carreira artística e retornar aos pagos. É quando decide-se por residir em Lauro Müller. Apresenta-se em certos dias na rádio Cruz de Malta, na época pertencente a Gil Losso. Nos escassos anos de 70 a 73 trata-se comigo de sua enfermidade ocular, um total de 7 consultas. Um câncer de intestino leva-o a POA e em seguida ao RJ, onde morre em 1973.

Por Henrique Packter 02/05/2023 - 08:40 Atualizado em 02/05/2023 - 08:49

O jogador de futebol Cuca, ex-Grêmio Portoalegrense, permaneceu preso por 45 dias em Berna, na Suíça, condenado junto com 3 outros jogadores, em 1989, a 15 meses de cadeia, por estupro. O crime foi cometido contra menina de 13 anos. Defendido pelo departamento jurídico do Grêmio, Cuca esteve detido por 45 dias em prisão suíça, mas sofre ainda hoje o castigo do estupro de 1987. O grande, e inesperado, problema para Cuca é que a história mal contada do estupro foi revisitada e ele não teria mais tranquilidade para trabalhar, como fez por 25 anos, desde 1998, quando assumiu o Uberlândia, passando por Flamengo, Botafogo, Fluminense, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Cruzeiro, entre outros clubes.

A CASA DO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO ou UMA CASA DO ESTUDANTE PARA CRICIÚMA ou O PASSADO NÃO PERDOA

(Baseado no livro O MENINO DE OFICINAS de ARARY CARDOZO BITTENCOURT, médico pediatra em Tubarão/SC, graduado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná em Curitiba. Também baseado em CUCA E OUTRAS CUQUICES).

Formado em 1962, Arary foi colega de Anohar  Zacharias, Antônio Osvaldo Teixeira de Freitas – o Bola -, Luiz |Eduardo dos Santos (todos, mais tarde trabalhando em Criciúma no Hospital Santa Catarina), David Saute (de Carazinho, RS e meu parente longínquo), Isaias Raskin (de Santa Maria e também parente distante),  Paulo Zelter Grupenmacher (Professor de Oftalmologia em Curitiba, Sanito Wilhelm Rocha (respeitado cardiologista em Curitiba), Célio Gama Salles (Professor Clínica Cirúrgica em Florianópolis, falecido precocemente).

Quando ingressei no curso de Medicina em Curitiba(1954), a Casa do Estudante estava localizada no local mais central da cidade, ao lado do Cine Ópera, na Avenida João Pessoa, hoje Av. Luiz Xavier. Mais central, impossível. A Casa do Estudante Universitário do Paraná (CEU) é fundação com 74 anos de história beneficente e personalidade jurídica de direito privado, sem finalidade lucrativa.

CEU proporciona ambiente favorável para estudar e acessível para morar, sendo mantida financeira e administrativamente pelos próprios estudantes residentes, através de trabalho voluntário e contribuições mensais. Também aufere retorno financeiro com locação de espaços para eventos. Hospedagem na CEU também contribui na geração de receitas.

CEU atende estudantes de graduação, pós-graduação, cursinhos pré-vestibulares e do ensino técnico pós-médio, procedentes do interior do Paraná, de cidades dos vários estados brasileiros, assim como intercambistas das mais diferentes partes do mundo. A Fundação promove e apoia atividades de cunho artístico e cultural.

Os beneficiários contam com três refeições diárias: café da manhã diário em cozinha colaborativa, almoço e jantar. Há salas de estudos, jogos, TV, laboratório de informática, quadra poliesportiva, churrasqueira, serviços de portaria e de lavanderia 24 horas e acesso ilimitado à Internet.

Para tornar-se morador, o estudante deve (1) estar regularmente matriculado em instituição de ensino situada em Curitiba (PR), (2) que os pais residam noutra cidade, (3) que se submeta a processo seletivo simplificado/desburocratizado, que considera, basicamente, a vulnerabilidade socioeconômica. Processos ocorrem, geralmente em 3 etapas, no início de cada semestre (fevereiro e julho): inscrição e avaliação de documentos, entrevista individual e integração de calouros.

MOYSÉS LUPION

Moysés Wille Lupion de Troia (1908-1991), industrial, contabilista, empresário e político, governou o Paraná por duas vezes. Agricultura (madeira) era sua praia. 

Lupion era amigo do interventor Manuel Ribas o que lhe granjeou prestígio político e social. Também, sua participação empresarial e comunitária no PR foi notória pela liderança que passou a exercer com novo estilo administrativo. No cenário político elegeu-se pelo PSD a governador do Paraná em 1947 e a senador em 1954. Em 1961, Lupion foi substituído no governo estadual por Ney Braga, que impetrou contra ele vários mandados de prisão, acusando-o de corrupção. Exilou-se então na Argentina, retornando ao Brasil nas eleições de 1962, quando sustentou tríplice candidatura: ao senado, à deputação federal e à Assembleia Legislativa, falhando em todas elas. Chegou a exercer mandato à Câmara dos Deputados como suplente convocado, entre junho/1963 e abril/1964. Todavia, o Regime Militar de 1964 cassou-lhe o mandato, suspendendo seus direitos políticos por 10 anos pelo Ato Institucional Número Um de 9.4.1964.

Sustentada na acusação de corrupção a pena rendeu-lhe confisco de alguns bens e a necessidade de vender outros para sustentar-se. Inocentado pela justiça em 1970 passou a residir no RJ. Ensaiou retorno à política pelo PMDB pretendo disputar cadeira no Congresso Nacional, sem êxito. Faleceu no Rio de Janeiro em decorrência de uma infecção renal.

HERMÍNIA  LUPION

Em seu primeiro matrimônio, Lupion casou-se com Hermínia Rolim, falecida em 4.4.1969. Dona Hermínia foi a criadora da Casa do Estudante Universitário de Curitiba. Alojava, a princípio, estudantes de fora da cidade, submetidos a processo seletivo. A primeira Casa do Estudante foi inaugurada em 1956 para estudantes que enfrentavam dificuldades financeiras e que manifestassem intenção de lutar pela manutenção e melhoria da casa. Uma comissão de admissão vasculhava a vida do candidato que deveria mostrar os predicados e as carências já enumeradas. Havia sempre um parceiro de quarto.

Acomodações tinham pia com água e os móveis indispensáveis. Sanitário e banheiros coletivos bem higienizados, no final dos corredores.  Uma lavanderia atendia a população estudantil cobrando poucos centavos pelo trabalho realizado. Eram servidas três refeições diárias. A mensalidade tinha preços razoáveis e refeições avulsas eram disponibilizadas a custo módico. 

 Pequeno ambulatório operava a amostras grátis, fornecidas pelos laboratórios da indústria farmacêutica e pela boa vontade dos alunos dos últimos anos do curso de Medicina. Arary Cardozo Bittencourt comenta que nem todos que lá moravam tinham conseguido as vagas por suas condições de necessitados. Estudantes apadrinhados, geralmente por políticos inescrupulosos que tinham influencia na distribuição de verbas dirigidas à entidade, amizades familiares com dirigentes ou por outros motivos, faziam ingressar ou lá permanecer quem não merecia. Arary cita conterrâneo seu, filho de um dos maiores proprietários de bens imóveis de Tubarão que ”tentava enganar como necessitado, escondendo-se atrás de atestados de pobreza,  firmado pela Delegacia de Polícia de sua cidade. Causou indignação, asco, reconhecer um daqueles, que disfarçava ser necessitado, tinha sua maldade traída pelas boas roupas que usava e ambientes que frequentava. Por tipos como ele, quantos bons estudantes desistiram de seus cursos por faltar-lhes condições de manutenção na universidade.” (Pág. 426 de O MENINO DE OFICINAS de Arary Cardozo Bittencourt).

Esta atuação criminosa há que ser evitada. Mas, deve-se reconhecer que Casa do (a) Estudante Universitário (a) são boas ideias que, realizadas, viriam facilitar em muito a vida de estudantes do sul catarinense que estudam em Criciúma e residem em outros municípios. Dependem eles, para estudar, de condução diária, ida e volta, para Criciúma. Acidentes com ônibus, conduzindo estudantes já foram registrados no percurso. Causa espanto o número de ônibus, vans, automóveis, motos, nos estacionamentos de nossas universidades. Está na hora de fazer algo pelos estudantes que correm a cursar nossas Universidades. Pessoas que certamente levarão a influência das ideias, da cultura e da política criciumense para suas cidades. 

Henrique Packter, Oftalmologista, Criciúma.

Por Henrique Packter 24/04/2023 - 08:50 Atualizado em 24/04/2023 - 08:54

Quando cheguei a Criciúma no início dos anos 60, o advogado ANTÔNIO BOABAID e família (mulher e seis filhos) aprestavam-se para retornar a Florianópolis, onde ainda ele reside. A esposa Elcy, também advogada, é infelizmente falecida.

Já residente em Florianópolis foi certo dia chamado a Criciúma por Diomício Freitas. Tratava-se de colocar ações da SIDESC, uma siderúrgica para Imbituba. O público alvo era a população de Criciúma, da qual Boabaid era profundo conhecedor e na qual contava com amizades e respeito.

Para o trabalho, praticamente passou a viver na cidade. Na época, o Criciúma Clube era o encontro da melhor sociedade e Boabaid um de seus sócios fundadores. Prefeito da cidade era Ruy Hülse e era verão de muito calor. Domingo, muito sol, hora de almoço, Boabaid devidamente munido de calção de banho procurou o clube para almoçar e relaxar, além de um bom mergulho na piscina da agremiação. É quando surge a figura do zelador, impedindo seu acesso à piscina pois Antônio Boabaid não tinha se submetido ao indispensável exame médico, nem portava o competente atestado.

O pediatra David Boianowsky morava bem próximo ao clube e um telefonema confirmou sua presença na cidade. Em poucos minutos Boabaid estava de volta exibindo o atestado.

O zelador, com o documento numa das mãos, como quem exibe um troféu e batendo ritmicamente no papel com as costas da outra mão, proclamou para os associados presentes:

- Agora sim, com atestado pode nadar!

Pouco depois, com a cara mais limpa do mundo, Boanowsky mais a mulher Rosa Nuch, os filhos Celso e André (hoje oftalmologistas em Brasília), Mauro e Daniela, chegava ao clube para almoço. Boabaid secava-se ao sol e já Boianowsky perguntava se alguém se dera ao trabalho de ler o atestado. Não, para falar a verdade, ninguém tinha lido. Foram atrás do papel. Encontrado, todo o mundo pôde ler: Atesto, para os devidos fins, que Antônio Boabaid é portador de moléstia infectocontagiosa...

Por Henrique Packter 17/04/2023 - 09:05 Atualizado em 17/04/2023 - 09:36

Neste dia, muito lamento o desaparecimento de figuras que marcaram – e muito – nossa pátria e nossas vidas.

Joaquim José da Silva Xavier morreu nesse dia, da forma como a história friamente revela: enforcado, esquartejado, seus despojos jogados por aí. Era 21 de abril de 1972. Morreu, dizem, porque faltou-lhe (e há quase uma unanimidade em torno dessa tese), um hábil advogado. Fosse hoje, Milton Beck & Filho, postos a cuidar da lide, outro teria sido o desfecho desta tragédia do final do século 18.

Tancredo de Almeida Neves, falecido em 21 de abril de 1985, morreu, assegura-se, porque lhe faltou um bom médico. Há um livro que tenta demonstrar essa tese. Tancredo queria porque queria assumir a Presidência da República. Mais que um sonho seu, era o sonho da nacionalidade, coroando o fim do último e melancólico governo militar, do general Figueiredo. Pobre Tancredo, vítima das artimanhas da teia política engendrada nos corredores palacianos do Planalto.

Dizia-se que o sonho principiara no Rio, quando da morte de Getúlio Dornelles Vargas. O presidente preparava-se para seu derradeiro sono, entregando a Tancredo uma caneta de ouro. Teria proferido frase muitos anos depois aproveitada em canção do Rei Roberto Carlos:

- Para um amigo certo nas horas incertas!

Ninguém ainda conseguiu explicar como Tancredo chegara a ser amigo de figuras tão contraditórias como Getúlio e Jango.  Nem se sabe como chegou a ser advogado, e mais do isso, a político hábil e conciliador. Diz-se que tentou um cargo na Marinha de Guerra do Brasil.  Era um concurso com 20 vagas. Tancredo chegou em 25º lugar. Alguém enxergou nele a figura de um médico promissor. Lá foi ele enfrentar um exame vestibular. Eram 100 vagas e Tancredo chegou em 125º lugar. Foi quando decidiu que seria advogado. Aí, levou a vida que todos sabemos: vereador em São João Del Rei, deputado, governador, 1º ministro, senador e – afinal- Presidente da República. Eleito, não chegou a assumir o cargo. Apesar disso seu retrato está lá entre os presidentes, com a concordância de todo o nosso mundo político.

Curioso que Tancredo cinzelou uma frase:

- No Brasil não basta ganhar uma eleição, é preciso garantir a posse!

Pouco depois produziria outra, destinada a ser (mas não foi) seu epitáfio:

- Aqui jaz, muito a contragosto, Tancredo de Almeida Neves...

A família não permitiu.

E assim chegamos ao último herói de minhas vidas passadas, talvez o maior oftalmologista que nosso país tenha produzido, Joviano de Rezende Fº, um dos fundadores do grupo carioca, OCULISTAS ASSOCIADOS, grupo ainda atuante após 38 anos do falecimento de um de seus 2 líderes.

Assisti ao seu enterro, no Rio de Janeiro. Sílvio Provenzano, um dos componentes do grupo de oftalmologistas ASSOCIADOS veio até mim para confidenciar:

- Sabe que em São Paulo estão levando para mais uma cirurgia abdominal o Tancredo?

Não sabia e perguntei a Provenzano:

- Nossa! Coitado... Mas do que vão operar o homem?

- Do ouvido!

Estranhei. Perguntei porque tão extemporânea cirurgia.

- É porque ele está surdo! Jesus tá chamando a ele faz horas e ele nada!  

Por Henrique Packter 10/04/2023 - 08:55 Atualizado em 10/04/2023 - 08:56

Faz 18 anos, acho que em 2005, ou foi em 7 de janeiro de 1981? Numa dessas datas, a capa da revista VEJA chamava a atenção para matéria classificada como de maior importância. Li o artigo, de autoria de jornalista de cujo nome não consigo lembrar, com o título GUERRA CIVIL. Tratava de assunto de alto interesse de nossa sociedade, porque ainda irresoluto.

Já nos habituamos a toda sorte de crimes e de violências, de ocorrência diária em nossas grandes cidades do país. O tristemente célebre assassinato coletivo de crianças e adolescentes e agora até de bebês, chegou a Santa Catarina. Tínhamos um relativo sossego em nossos refúgios citadinos, que ora se esvai. De repente, não mais que de repente, a barbárie explode numa creche em Saudades e agora numa creche em Blumenau.

 A situação é, hoje, de flagelo. Que fazer?

Nós, catarinenses verdadeiros ou adotivos, precisamos nos reunir com autoridades e militares e discutir o assunto SEGURANÇA NAS ESCOLAS E CRECHES. Pessoas tituladas ou simples e ignorados cidadãos precisam saber que nesta GUERRA CIVIL, todos contam, todos são importantes.

A pouco menos de 20 anos do sec. XXI causava espanto o fato de que algumas de nossas áreas urbanas se achavam entre as piores do mundo em matéria de criminalidade. “superando os mais notórios infernos sociais de que se tem notícia”. Pior: a população vai se habituando com isso. Em São Paulo, o programa de notícias do jornalista Datena, retratou uma quadrilha que assalta as pessoas em pleno dia, nas ruas, nos seus automóveis e até em suas casas e apartamentos, para afanar seus celulares, montados em bykes, no centro mais central da megalópole paulista.

Por Henrique Packter 03/04/2023 - 10:58 Atualizado em 03/04/2023 - 11:00

Faz poucos dias, primeiro a nossa UNESC, depois a própria FUNDAÇÃO CULTURAL DE CRICIÚMA, comemoraram em grande estilo os 30 anos de fundação de nossa entidade cultural maior. Na UNESC, até EDUARDO PINHO MOREIRA, ex-prefeito de Criciúma e ex-governador de SC e verdadeiro criador da FCC, além de LILIANE MOTTA DA SILVEIRA, BRIGITE GORINI, ED BALOD e outros, deram o ar de suas graças. LILIANE brilhou intensamente com sua mostra de telas, rotulada como revolucionária pelas autoridades presentes.

O atual diretor-presidente da FCC, o empresário JOSTER FAVERO e o prefeito CLÉSIO SALVARO disseram presente e até discursaram.

Nossa FCC alternou nos 30 anos passados, depressão e euforia, encanto e desesperança, um processo de ciclotimia crônica. Atravessou anos dourados, anos rebeldes e anos de chumbo. Houve do melhor e do pior. Tempos de revolução comportamental, de aventuras existenciais e de flagelos planetários como a violência urbana de incêndios em próprios municipais, aí incluída nossa Fundação Cultural.

Os acontecimentos céleres voam como no soneto do Raymundo, a ciência e a tecnologia desenvolvendo formas de prolongar a vida e, ao mesmo tempo, aprimorando métodos de exterminá-la, numa escala nunca antes imaginada. Tantos são os acontecimentos nestes mais de 60 anos vividos em Criciúma que muitos deles já se vão apagando em nossa memória. Surpreendo-me nos programas de rádio das sextas-feiras na SOM MAIOR, quando ADELOR LESSA e eu trocamos impressões sobre fatos antigos da urbe, ao constatar que a nossa população ignora quase tudo do que falamos.

Desmemoriado confesso para fatos mundanos, consigo ainda escrever para o PORTAL4OITO e participar de programas radiofônicos, suprindo minha amnésia com a imaginação. A romancista espanhola ROSA MONTERO, autora de A LOUCA DA CASA, dividia os autores em memoriosos e amnésicos. Os primeiros lembram de tudo e os últimos se esquecem de quase tudo. Ela classificava a própria memória de catastrófica. Para não fazer de nossos fatos históricos uma enfiada de coisas sem nexo e, pior, puramente frutos de minha imaginação, recorro aos meus arquivos e à memória dos outros, quando a minha falha. Nada disso, no entanto é garantia de fidelidade absoluta e os fatos à distância só existem como versões, o que n&atil de;o deixa de ser uma forma de ficção. A memória que temos de um fato qualquer, cresce com a gente e muda o tempo todo.

Na próxima semana, pretendo voltar ao tema, desde que não tenha completamente esquecido do assunto.

Ah, sim! Já ia me esquecendo: FELIZ PÁSCOA A TODOS!

Por Henrique Packter 27/03/2023 - 10:00 Atualizado em 27/03/2023 - 10:54

A nova sede do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal, que era na Rua Maria Figueiredo, mudou recentemente para a Avenida Paulista, em frente ao Hospital Santa Catarina. Tadeu Cvintal, MD, oftalmologista pelos últimos 55 anos, trabalhou em SP, Brasil, onde batalhou para consolidar as fundações da moderna oftalmologia. Tadeu era paranaense e fomos contemporâneos no curso de Medicina.

Ele já no 6º ano e eu lá atrás, no 3º ano médico. Graduados que fomos na Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, Cvintal foi aos EUA para especializar-se. Formou-se médico (1957 e foi colega de Ernesto Francisco Damerau, o grande cirurgião-geral de Florianópolis, Léo Mauro Xavier, notável urologista em Florianópolis, Manoel Sylvio Maffi, depois anestesista em Santa Maria/RS, Antônio Pasinato otorrino em Curitiba, Humberto Kluppel Pederneiras, médico em Florianópolis, Wladinir Joacy Luz, médico em Araranguá. 

Cvintal, em 1964 tornou-se Fellow da American Academy of Ophthalmology, depois de completar seu programa de residência no Harlem Eye and Ear Hospital, New York, e Retina Fellowship no Boston City Hospital; foi o primeiro Cornea Fellow no Wills Eye Hospital, Philadelphia.

Retornando ao Brasil tornou-se diretor do Departamento de Oftalmologia do Hospital do Estado em SP, onde criou o primeiro programa de residência em oftalmologia no país. Na clínica privada introduziu e popularizou muitas inovações, como as ceratoplastias (cirurgias de transplante de córnea), cirurgia extracapsular da catarata, implante de lente intraocular, ceratotomia radial e LASIK (cirurgias para quem quer aposentar os óculos). Seu centro de Laser trouxe LASIK ao Brasil em1990, e ele treinou muitos cirurgiões tanto de Brasil como dos EUA.

Cvintal criou o Banco de Olhos de SP, o primeiro no Brasil; foi co-fundador da Sociedade Brasileira de Catarata e Lente Intraocular, a Sociedade Brasileira Refrativa e a Sociedade Brasileira de Lentes de Contato.

Estabeleceu sua própria instituição filantrópica, onde treinou cerca de 390 residentes e fellows, que por sua vez trataram gratuitamente de mais de 180,000 pacientes nesses últimos 50 anos. Cvintal proferiu mais de 900 conferências no mundo inteiro e publicou livro sobre complicações no transplante de córnea (2004).

Esteve em Gravatal/SC a meu convite, numa jornada sobre Transplante de Córnea que atraiu profissionais de todo o sul brasileiro. As piscinas naturais de água tépida colocadas em todos os apartamentos do Hotel Termas do Gravatal, fizeram as delícias do casal Cvintal.

Na clínica privada já examinou 120 mil pacientes e compartilhou seu dia a dia com a esposa Maria, e o filho Victor, que é cirurgião de catarata e de transplantes. Cvintal tem 3 netas de Aldo, que tenta ensina-lhe TikTok.

Tendo voltado ao Brasil para evitar que seu filho Victor fizesse o   serviço militar nos EUA, Tadeu alugou consultório na Av. São João, quase esquina com Ipiranga, segundo a letra da canção.

Era região conflagrada, cheia de perigos noturnos. No andar de seu consultório logo se instala com balaio debaixo do braço e o irresistível perfume dos cachorros-quentes sob um pano que já tivera tempos melhores. Baiano era figura folclórica da Paulicéia Desvairada.

Tadeu trabalhava até tarde da noite. As secretárias despediam-se dos clientes, ainda numerosos apesar das horas ermas. Sozinho, Tadeu atendia os pacientes, vindos de todas as partes. Pacientes que conseguiam agendar suas consultas eram atendidos mais cedo; depois das 10 horas da noite eram atendidos todos os demais.  Clientes acomodavam-se nas cadeiras, olhos fixos na porta que se abria de tempos em tempos para desovar mais um retardatário e receber outro esperançoso consulente.

Todos se alinhavam pela hora de chegada.

- Primeiro sou eu, depois aquele ali com cara de índio, depois o bombachudo de bota e lenço no pescoço, depois...

Apesar disso, às vezes, madrugada alta, explodia um conflito. Olho clínico apurado, Tadeu abria a porta para avaliar a situação. Envolvesse a situação dois jovens, o conselho consagrado era:

- Olha, vocês vão lá na frente (o reduto de boates, dancings, casas suspeitas), dão umas dançadas e podem voltar!

Fossem os beligerantes velhos, Tadeu decretava:

- É fome! Vão ali com o Baiano, comam alguns cachorros quentes e logo se acalmam, também!

Por Henrique Packter 20/03/2023 - 09:00 Atualizado em 20/03/2023 - 09:16

No dia 15.09.2020 faleceu no Rio de Janeiro o engenheiro catarinense Jayme Mason, intelectual e membro da Academia Brasileira de Engenharia. Filho mais velho do ex-prefeito de Orleans, Luiz Mason, era irmão de Genésio Mazon, engenheiro-agrônomo e empresário no setor de vinicultura e viticultura. Luiz Mazon foi o 14º Prefeito eleito de Orleans, na inacreditável Coligação PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e UDN (União Democrática Nacional), de 31.01.195 1 a 31.01.1955.

Homem culto, Jayme era poliglota e publicou diversos livros técnicos de cálculos estruturais. Escreveu também leitura amena, VIVÊNCIAS E RECORDAÇÕES e GRANDES MESTRES DA LITERATURA RUSSA, após aprender e dominar o idioma russo. Vai então à URSS e visita os lugares descritos pelos escritores nas suas obras e lê no original russo esses grandes mestres. Seu esforço foi reconhecido e recompensado pelo governo russo que o condecorou com medalha e diploma. A cerimônia foi no Rio de Janeiro e Jayme agradeceu a honraria, discursando na língua de Tolstoi.

Traduziu também as obras do italiano Dante Alighieri e sabia de cor grandes trechos da Divina Comédia que recitava a miúde. Publicou DANTE E A DIVINA COMÉDIA e o Dr. FAUSTO E SEU PACTO COM O DEMÔNIO.

Ando dando uma ajeitada nos meus livros, pondo um arremedo de organização naqueles livros desordenadamente empilhados no chão, na peça que denomino pomposamente de biblioteca. Foi quando me caiu às mãos um dos livros de autoria de Jayme Mason. Prometo comentá-lo e logo. Vale a pena ler as peripécias de nosso autor no Ginásio Lagunense e depois no Colégio Catarinense.

Jayme estudou engenharia na URGS, RS. Na época foi governador do estado gaúcho, o engenheiro Leonel Itagiba de Moura Brizola (Carazinho, 22.01.1922 – RJ, 21.06.2004). Estando Brizola na governança criou premiação para o melhor aluno da Universidade gaúcha a cada formatura que anualmente ocorria. Pois no ano da formatura de Jayme, coube a ele a láurea. Mais que depressa vai à Suíça, onde ficará vários anos e praticará as v árias línguas oficiais dos 26 cantões do país. Saiu do Brasil falando a língua pátria e mais o italiano, aprendido com os imigrantes italianos de sua terra natal. Volta da Europa dominando o francês mais o alemão. Logo aprenderá o inglês e o russo!

Os irmãos Mazon e Mason privilegiavam a viticultura e a vinicultura. Qual é a diferença? Já vou contar. São duas áreas diferentes, mas que se  complementam. A viticultura dedica-se ao plantio, cultivo e colheita da uva, que podem ser usadas para vários fins. (consumo de uva em si, produção de sumos, uvas passas e vinho). Já a vinicultura dedica-se à elaboração dos vinhos.

Profissional bem sucedido, Jayme lecionou no Rio de Janeiro a cadeira de Pontes e Grandes Estruturas na PUC de nossa ex-capital. Com Genésio era sócio-proprietário da Vigna Mazon no Bairro de São Pedro em Urussanga. Como escreveu sua sobrinha, “devemos a esse homem visionário e acima de seu tempo, juntamente com o único irmão, tornar viável estarmos hoje aqui!”

A vinícola fica na Rodovia Genésio Mazon, Km 5, São Pedro, Urussanga, SC, justa homenagem prodigalizada pelo governador e seu amigo pessoal, Vilson Kleinubing, que, aliás, era gaúcho de Veranópolis.

Por Henrique Packter 13/03/2023 - 10:00 Atualizado em 13/03/2023 - 14:57

30 anos da FUNDAÇÃO CULTURAL DE CRICIÚMA (FCC), cujo primeiro Diretor Presidente é o autor dessas mal traçadas.

15 de março de 1993 assinala a data da criação da Fundação Municipal de Criciúma pelo então prefeito Eduardo Pinho Moreira.

Por iniciativa da FCC, Prefeitura de Criciúma, e CALPI (Centro de Atendimento às Línguas Portuguesa e Inglesa), foi instituído o (1º) CONCURSO LITERÁRIO CIDADE DE CRICIÚMA.

No período de 01.04.1994 a 31.05.1994, 358 concorrentes de 48 municípios catarinenses inscreveram-se na FCC. Deles, 29 foram reprovados por não atenderem às exigências do regulamento. Daqueles que foram julgados dentro das normas estabelecidas, 175 eram poemas, 68 crônicas e 86 contos. Numa primeira avaliação pelo CALPI da Professora Iris Guimarães Borges, foram aprovadas 153 obras: 70 poemas, 37 crônicas, 46 contos.

As obras aprovadas pelo CALPI passaram por uma segunda e definitiva análise por comissão julgadora composta pelos Doutores em Língua Portuguesa da UFSC, Tânia Regina de Oliveira Ramos e Lauro Junkes, além de Flávio José Cardoso, editor e jornalista do Diário Catarinense.

A comissão julgadora distribuiu 3 menções honrosas e conferiu os 1º, 2º e 3º lugares aos trabalhos que concorriam nas categorias Poema, Conto e Crônica.

A premiação dos vencedores ocorreu em 27.08.1994, no evento AÇÃO MUNICIPAL, realizada no CAIC da Mina União, Criciúma. Cada autor vencedor recebeu 1% da tiragem total dos volumes impressos. Os primeiros lugares de cada categoria receberam mil reais em espécie.

QUEM GANHOU?

O grande perdedor foi Padre Claudino Biff, natural de Morro da Fumaça, residente em Tubarão. Autor de pelo menos 8 livros, foi penalizado pelo prestígio de ser autor consagrado de livros e de artigos publicados no Diário Catarinense. Criou ele o Jumento Macabeus (Memória de N. Sra. Do Desterro e Seu Jumento Macabeus e Paixão de Jesus Cristo Segundo Seu Jumento Macabeus), extremamente popular. Por esta razão, isto é, pelo personagem popularizado pelo jornal, permitindo sua identificação instantânea, foi desclassificado, seu trabalho para o concurso merecendo apenas o segundo lugar na categoria Conto. Tinha como personagem central o Jumento Macabeus!

Mereceram menção honrosa o Poema “Reduto Missioneiro” de Paulo Sérgio Boita (Xanxerê, SC), a Crônica “Senna” de Claudino Biff (Tubarão, SC) e o Conto“ O Anjo Cansado” de David Silveira (Tubarão, SC).

Primeiro lugar em Poema “Paradoxo Digital” de Marcelo Giovani Barros (Blumenau, SC), em Crônica “Nunca Te Vi Tão Formosa Firenze” de Amilcar Neves, Florianópolis, SC) e em Conto “20 Anos Depois” de Oldemar Olsen, Florianópolis, SC.

Em segundo lugar Poema, “Emblemas” de Carlos Damião Werner Martins, Florianópolis, SC , e “Retalhos da Vida”  Crônica, de Marlene de Souza Soccas Sazan, Morro da Fumaça, SC.

O terceiro lugar, Poema ficou para Marcelo Alves de Biguaçu, SC, com “A Lápide do Sol”; Edneia Janice Pavei de Criciúma, SC, ficou em 3º lugar Crônica com “No Jogo do Bicho” e Ivan Josefat Panchiniak de Florianópolis na categoria Conto também terceiro com “Caso de Devolução”.

Assim se escreve o primeiro e único CONCURSO LITERÁRIO DE CRICIÚMA que colocou nossa cidade como importante polo de cultura no território catarinense. AVE.

Por Henrique Packter 06/03/2023 - 09:00 Atualizado em 06/03/2023 - 09:22

Essa história foi colhida num livro de conhecido jornalista/radialista radicado no norte catarinense, Blumenau ou Itajaí, já não lembro mais. O livro, que tem por título Fatos Pitorescos de nossa história, merece ser conhecido por tantos quanto se interessam por nossos causos e pelos vultos que marcaram nosso desenvolvimento.

Como todo mundo está cansado de saber, nos anos 30 Paulo Carneiro foi indicado por um de seus professores na Faculdade Federal de Medicina da Praia Vermelha, Rio de Janeiro, não só como seu melhor aluno como aquele capaz de resolver os problemas médicos da região da Laguna. E, foi assim mesmo.

Paulo Chega, logo casa com a filha do Provedor do Hospital. Homem culto, apreciador de música erudita, muito auxiliou o desenvolvimento intelectual da região lecionando nas escolas da cidade matérias que dominava. Foi homenageado em vida pela população da cidade, com um busto em praça pública ali, ao lado do Cine Mussi.

Foi prefeito da Laguna três vezes.

Aos domingos eu costumava arrebanhar minha família, mulher e quatro filhos, para almoçar no Restaurante Nice, de Rodolfo Michels, ali, pertinho do museu dedicado à heroína de dois mundos, a nossa Anita Garibaldi.

O prato de resistência do restaurante era a inigualável maionese de camarão, honra e glória da culinária nacional, imbatível prato a engrandecer a nacionalidade. Mais de uma vez lá encontrei Paulo Carneiro, numa delas acompanhado pelo governador Jorge Bornhausen, de quem era amigo e correligionário.

Pois, vai daí que Paulo viaja a Florianópolis para resolver problemas da cidade que administrava. Era um fim de semana e a primeira parada obrigatória foi na Felipe Schmidt para atualizar-se nas novidades da praça e do estado. No Senadinho auscultou o senador Alcides Ferreira, que trajava o indefectível terno branco encimado por chapéu também impecavelmente branco. Como se sabe, Alcides Ferreira tomava seu cafezinho em pé e no pires! Mas, de resto, era um manancial inesgotável de estórias.

Paulo Carneiro ao sair do Senadinho esbarra em conhecido amigo seu e figura folclórica da Laguna, o Gaguinho. O apelido esclarecia como falava o ilustre personagem. Pergunta Paulo Carneiro:

- Gaguinho! Que fazes em Florianópolis?

- Pois nem lhe conto Dr. Paulo! Não é que minha mulher me inscreveu num curso de gagueira!

Paulo Carneiro arregala os olhos de pura indignação:

-  Mas, para que isso homem de Deus? Se tu já gagueja tão bem!

Por Henrique Packter 27/02/2023 - 10:18 Atualizado em 27/02/2023 - 10:20

Em 1959, ano em que me formei em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, ganhei uma bolsa de 3 meses para estagiar na Santa Casa de Misericórdia de Santos/SP, Serviço de Oftalmologia.

BRÁS CUBAS

Português nascido na cidade de Porto, dezembro de 1507, faleceu na mesma cidade a 10.03.1592;  foi fidalgo e explorador português. Fundador da vila de Santos (hoje cidade) governou por duas vezes a Capitania de São Vicente (1545-1549 e 1555-1556). Teria também fundado Mogi das Cruzes,1560.

Chegou ao Brasil em 1531, aos 25 anos, com a expedição de Martim Afonso de Sousa, fundador da vila de São Vicente. Em 1536, recebeu sesmarias na recém-formada Capitania de São Vicente, onde desenvolveu a agricultura da cana e montou engenho de açúcar. Chegou a ser o maior proprietário de terras da baixada Santista, fundando porto, capela e hospital - a Santa Casa de Misericórdia de Todos os Santos (1543), origem da vila, atual cidade de Santos.

Melhor localizado que o porto de São Vicente, o porto de Santos de Brás Cubas, foi o responsável pela transferência do porto da Ponta da Praia para o Centro, nas cercanias do Outeiro de Santa Catarina.

Capitão-mor de São Vicente (1545), em 1551, foi nomeado por D. João III Provedor e Contador das rendas e direitos da Capitania; em 1552 fez erguer o Forte de São Filipe da Bertioga na ilha de Santo Amaro. Teve participação destacada na defesa da Capitania contra os ataques dos Tamoios, aliados aos franceses. Mais tarde, por ordem do terceiro governador-geral Mem de Sá, realizou expedições pelo interior em busca de ouro e prata. Teria chegado até à chapada Diamantina no sertão da Bahia.

Suas tentativas de escravizar os indígenas resultaram numa revolta que acabou por determinar o surgimento da Confederação dos Tamoios, que só pôde ser parcialmente contida pela atuação dos padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta.

Ao falecer, era fidalgo da Casa Real e o senhor mais respeitado da Capitania. O título de Alcaide-mor da vila de Santos passou a seu filho, Pero Cubas.

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

Na obra de ficção Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, o narrador Brás Cubas conta que seu pai (de sobrenome Cubas), nomeou o filho "Brás" como forma de se passar por descendente do explorador Brás Cubas. No entanto, após os verdadeiros descendentes do explorador português contestarem o Sr. Cubas, ele inventou outra versão para a origem do sobrenome da família, tentando dar-lhe um ar de fidalguia.

O ESTÁDIO DO SANTOS

Quando o estádio santista foi fundado era chamado apenas de “Campo do Santos”, ou “Praça de Esportes do Santos”. Com o passar dos anos, o nome do bairro virou também o apelido do estádio. Em 24.03.1933, morre Urbano Caldeira e o campo passa a se chamar, oficialmente, Estádio Urbano Caldeira.

Em que pese o nome oficial, o estádio do Alvinegro é mais conhecido por Vila Belmiro.

Rei Pelé é o maior artilheiro do estádio santista com 288 gols, seguido por Feitiço (162) e Pepe (152).

MEU IRMÃO ME VISITA EM SANTOS

Quando passei a trabalhar na Santa Casa de Santos, meu irmão, estudante de Medicina na Faculdade Federal de Santa Maria/RS, veio a SP conhecer o nosocômio. Gostou e estendeu sua estadia por mais alguns dias. Tive de resolver problemas no centro da cidade e combinamos de almoçar por lá, de frente para o mar. Havia um local que os estagiários da Santa Casa utilizavam para guardar seus pertences e que se chamava Sereia. O nome do estabelecimento estava gravado em letras nas pedrinhas da calçada da  empresa. Nela havia banheiros e pequenas caixas com chaves para salvaguardar nossos bens. Ao lado da Sereia havia um vistoso e moderno açougue que abria às 10 horas da manhã, pontualmente. Cheguei às 9,45 horas. Logo uma senhora gorda com imenso guarda-sol postou-se atrás de mim e um moço, aparentemente um comerciário, era seguido de outro e mais outro. A fila ainda não andava, mas o número de pessoas era assustador. Esquecia-me de dizer que havia uma espécie de greve com respeito ao comércio de carnes em Santos, de modo que as filas frente a essas casas de comércio eram coisas comuns da paisagem santista.

Chega uma jovenzinha lá de seus 14-15 anos. Posta-se lá no fim da fila lançando olhares ansiosos para os primeiros colocados da longa fila. Finalmente, decide-se e vem saber:

- Essa fila é a fila do açougue?

Ao que eu respondi firme, olho no olho

- Não, essa é a fila para esperar meu irmão!

Por Henrique Packter 22/02/2023 - 10:12 Atualizado em 22/02/2023 - 10:13

Baseado na obra HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO NO SUL DE SC de Agilmar Machado e Osvaldo Torres

Em 1º.5.1979 é fundada a TV Catarinense, primeira emissora da RBS TV em SC. A emissora passa a transmitir a programação da Globo em cadeia com a TV Gaúcha de POA,  substituindo a TV Coligadas de Blumenau que se torna afiliada da Rede Tupi. Ainda em 1979 o Grupo RBS fundaria a TV SC em Joinville, expandindo a rede para o interior (RBS TV Florianópolis 1983-2017).
Em 1983, seguindo a padronização das emissoras da RBS TV, ganha a denominação RBS TV Florianópolis, tornando-se cabeça de rede para SC.

Em 7.3.2016 o Grupo RBS comunica a venda da emissora e das demais operações em SC para os empresários Lírio Parisotto (Videolar) e Carlos Sanchez (Grupo NC). Parisotto logo abandona a sociedade devido ao escândalo com Luiza Brunet  fazendo do Grupo NC e acionistas, proprietários integrais das novas empresas. (NSC TV Florianópolis 2017-presente).

LUIZA BRUNET X LÍRIO PARISOTTO

Conforme se recorda, Luiza Brunet denunciou Lírio Parisotto em julho de 2016, após ter sido espancada por ele, em maio daquele ano, quando o casal estava em Nova York. Ela exibiu os hematomas no rosto. Parisotto negou as acusações, mas após batalha Judicial, o empresário foi condenado a um ano de detenção em regime aberto.

A TV DIGITAL

Em 15.8.2017, a RBS TV de SC completa o processo de transição para a NSC Comunicação, denominando-se NSC TV. A RBS TV Florianópolis então passa a se chamar NSC TV Florianópolis, assim como as demais emissoras do estado.

As enchentes em SC determinariam que a TV digital de Florianópolis, a ser inaugurada em 25.11.2008,   teve o lançamento adiado para 5.2.2009, em sessão especial na Assembleia Legislativa de SC.  O Jornal do Almoço de 6/2, especial sobre a nova tecnologia, foi a primeira produção local a ser transmitida em alta definição.

Transição para o sinal digital

Com base no decreto federal de transição das emissoras de TV brasileiras, do sinal analógico para o digital, a NSC TV Florianópolis, além das outras emissoras de Florianópolis e região metropolitana, cessou transmissões pelo canal 12 VHF em 28.2.2018, seguindo cronograma oficial da ANATEL. A emissora exibiu boletim ao vivo com o repórter Edson Amaral, informando do desligamento e cortou o sinal às 23h59.

Além da instalação de retransmissoras via micro-ondas (utilizadas até hoje pelas filiais no interior), a rede liderada por Florianópolis cresce com a compra da TV Coligadas de Blumenau e da TV Cultura de Chapecó do empresário Mário Petrelli.

(Final para início de história de vida de ANTÔNIO LUIZ, continua)

Por Henrique Packter 13/02/2023 - 09:14 Atualizado em 13/02/2023 - 09:23

Diomício Manoel de Freitas, filho de Manuel Delfino de Freitas e Maria Benvinda de Freitas, foi empresário nascido a 19.04.1911 em Pindotiba, Orleans/SC, falecendo em 29.05.1981 em Cricíúma /SC. Diomício realizou os estudos primários na cidade natal. Com 12 anos de idade trabalhou como telegrafista na Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, em Tubarão/SC. Foi promovido a Agente de Primeira Classe, atuando na Estação Sangão, em Criciúma. Político, pertenceu primeiro à UDN e depois à Aliança Renovadora Nacional, tendo base eleitoral no Sul de SC.  

Casou com Agripina Francioni de Freitas, com quem teve seis filhos. O atual Deputado Federal Daniel Freitas é bisneto de Diomício, neto de Hilário, seu filho mais velho. Em 1929, integrou a Aliança Liberal, que fazia oposição à candidatura de Júlio Prestes ao cargo de Presidente do Brasil. Apoiava a Getúlio Dornelles Vargas. Na década de 1940, ingressou no ramo carbonífero, atividade que conhecia desde a adolescência; comprou a empresa Carbonífera Caeté Ltda., de Urussanga, em sociedade com Santos Guglielmi. Na década seguinte, os dois empresários adquiriram a Carbonífera Cocal, com uma boca de mina em Cocal/SC e outra em Criciúma/SC, uniram as duas companhias e criaram a Carbonífera Criciúma.

No final da década de 1950, seu grupo criou a empresa de Navegação Catarinense (NAVECAL) e comprou a Carbonífera Metropolitana, detentora da maior reserva de carvão do Estado. Um dos fundadores da União Democrática Nacional (UDN), à qual se filiou desde 1945. Concorreu ao cargo de Deputado Federal por SC em 1962, recebendo 27.512 votos, sendo eleito e assumiu o cargo em fevereiro de 1963 integrando a 42ª Legislatura (1963-1967). No mandato, participou das Comissões Permanentes de Finanças (Suplente), 1963-1964; Minas e Energia (Suplente), 1966; Transportes, Comunicações e Obras Públicas: (Titular), 1963-1966.

Nas eleições de 1978, pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), ficou primeiro suplente do Senador por SC, Lenoir Vargas, eleito indiretamente, Senador Biônico, sem ser convocado. Além de atividades em companhias carboníferas, Diomício foi membro do Conselho Fiscal da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Conselheiro da Companhia Halles de Investimentos, de São Paulo/SP.  Foi Vice-Presidente do Diretório Regional da Arena em SC e membro da Associação Comercial e Industrial de Criciúma, da Associação Nacional de Fabricantes de Azulejos e do Sindicato Nacional da Indústria de Extração de Carvão.

Teve o controle acionário das rádios Eldorado, de Criciúma, Difusora, de Laguna e Araranguá, da TV Eldorado, da Cerâmica CECRISA, e de empresas de diversas áreas. Empregou muita gente nas 18 empresas de seu grupo, também por isto foi considerado um dos 20 catarinenses que marcaram o Século 20 em SC, listado pelo Grupo RBS. No dia 28.05.1981, envolveu-se em um acidente automobilístico na BR-101, próximo a Imbituba/SC, quando seguia para o aeroporto em Florianópolis/SC, onde embarcaria para o RJ, com objetivo de participar de uma reunião na CSN. Faleceu em 29.05.1981 em Criciúma/SC.

Homenageado com seu nome sendo dado ao Aeroporto Diomício Freitas, Criciúma, e a nome de ruas nos municípios catarinense de Içara, Nova Veneza e Siderópolis. É também nome de avenida em Criciúma e Florianópolis: Avenida Deputado Diomício Freitas. 

Deputado Federal, UDN, 15/03/1963 - 22/01/1967, 42ª Legislatura

 O empresário Diomício Freitas será sempre lembrado por uns poucos interessados “pelos 30 anos de ausência e pelo vácuo no panteão das lideranças regionais. Não que faltem líderes políticos ao sul do estado, mas pela inexistência de um perfil aglutinador na raia”. 

No dia 29.05.1981, o empresário morreu por embolia pulmonar, resultado de um acidente na véspera na BR-101. Dirigindo sua Caravan, evitou dois caminhões no sentido contrário perto de Imbituba. Desviou para o acostamento e bateu num terceiro, estacionado. As múltiplas fraturas sofridas no acidente automobilístico ocasionaram desprendimento da gordura dos ossos lesados para os pulmões e morte quase imediata.

Internado no Hospital São José, o fundador de um conglomerado de 29 empresas não passou por UTI porque o hospital não dispunha deste recurso. Faleceu às 18 horas de uma sexta-feira aos 70 anos e foi velado em sua residência na Avenida Ruy Barbosa, hoje ocupada por prosaico comércio.

O sepultamento no sábado foi evento que marcou nossa história. Da casa, o corpo foi levado a pé até a atual Catedral São José para missa celebrada pelo bispo de Tubarão, D. Osório Bebber. Compareceram às exéquias dois governadores, Jorge Bornhausen (SC), e Amaral de Souza (RS).

No Cemitério São Luiz, as despedidas tiveram emocionado discurso do deputado federal Adhemar Ghisi. Por um desses caprichos da vida, justamente o herdeiro político a quem o empresário entregara o bastão em 1966 ao abrir mão da reeleição para a Câmara dos Deputados.

EMPREENDEDOR NATO

Diomício revelou-se um empreendedor talentoso desde a adolescência. Aos 12-13 anos, era telegrafista da Rede Ferroviária Federal. Aos 18, subagente da estatal na Guarda, em Tubarão, onde conheceu e casou com Agripina Francioni. Aos 29 anos, a vez de Criciúma.

Sua primeira mina, a Ouro Fino, foi adquirida em Içara. Anos depois, uniu-se a outro ícone do empreendedorismo local, Santos Guglielmi, erigindo uma potência econômica que até nos gramados deixaria sua marca: o time do Metropol. Desfeita a sociedade no fim da década de 60, optou pela diversificação.

Cecrisa foi o símbolo de magnitude nacional na vida do empresário. Sua menina dos olhos, porém, surgiria em 1978, quando inaugurou a TV Eldorado. A iniciativa se alargaria a mais três regiões do estado, com emissoras de TV em Florianópolis, Itajaí e Xanxerê. Suas rádios AM e FM eram inúmeras.

LEGADO POLÍTICO

Visionário, Diomício sentiu o peso dos anos. Um ano antes do acidente, administrou a partilha dos bens entre os filhos, permanecendo como conselheiro de todos. Dele, dizia-se “Ele nunca dava ordens” e “Bastava recomendar cautela que todos entendiam o recado.”
Trinta anos após sua morte, é no cenário político que a ausência de Diomício Freitas mais se faz sentir: “Fazer política é usar duas das quatro equações”, recita-se, recordando o ensinamento. “Somar e multiplicar sempre, dividir e subtrair jamais.”

LEGADO MÉDICO

A morte inesperada e trágica de Diomício Freitas reacendeu entre classe médica, ordem religiosa mantenedora do Hospital São José, classe política e população, de maneira geral, a discussão sobre a   construção de uma UTI para o Hospital São José. Graças à elevada compreensão e espírito público do prefeito José Augusto Hülse e do presidente da Câmara de Vereadores, Woimir Loch, em três anos inaugurava-se mais esse templo da Medicina Moderna. Hoje a UTI está em outro local da estrutura hospitalar e não sabemos se a placa de inauguração, cuja capa descerrei, foi preservada.

CURIOSIDADES

No dia do sepultamento, pela primeira e única vez na história de Criciúma, viu-se mais aviões no céu do que no aeroporto de Forquilhinha, meses depois batizado com o nome do empresário. Explica-se: o tráfego aéreo de autoridades e amigos foi tão intenso que a torre de controle teve que escalonar as aterrissagens.

A multidão que superlotou o Cemitério Municipal São Luiz foi calculada entre oito e 10 mil pessoas. Um público equivalente, na época, ao do movimento só verificado no Dia de Finados.

A agência dos Correios na Avenida Getúlio Vargas registrou um volume de telegramas superior ao da semana que antecedia o Natal e o Ano-Novo. Um fluxo de correspondências sem paralelo nos anos posteriores.

Dos filhos, somente um não pode comparecer ao sepultamento. Responsável pelo braço metal-mecânico do grupo familiar, o empresário Hilário Freitas estava na França em viagem de negócios.

ÚLTIMOS MOMENTOS

Quando vinha ao meu consultório, aproveitava-me de sua experiência e perspicácia no mundo dos negócios para instruir-me. De certa feita, perguntei-lhe qual seria a solução para problema hospitalar que dependia da aquisição de equipamento de ULTRASSOM. Em essência, após tomar conhecimento das precárias finanças hospitalares, disse-me:

- Não discuta preços, discuta prazos!

Trazido do local do acidente diretamente para o hospital do qual eu era Diretor-Clínico na época, ele foi atendido pelos Drs. João Aparecido Kantovitz, ortopedista já falecido, e pelo Dr. Albino José de Souza Filho, clínico-geral e pneumologista.

Sentamos à mesa para rascunhar o que seria um boletim médico, uma nota, a ser distribuída à imprensa sobre a situação médica de Diomício. Lembro que concordamos em divulgar que, se não houvessem complicações e, após melhora de seu estado geral, cirurgias realizadas para corrigir as fraturas ósseas, poderiam reverter a difícil situação.

Falando com alguns dos filhos, especialmente com Dite Freitas, disse-me ele que se as condições médicas locais fossem insuficientes para tratar do paciente, eles estariam dispostos a removê-lo com o concurso de avião-ambulância. Eu já discutira esse aspecto com os médicos assistentes que consideravam muito difícil removê-lo, sobretudo pelos altos riscos.  

Na tarde do segundo dia de sua hospitalização resolvi subir até o terceiro andar de um dos apartamentos da primeira classe, situado na entrada do Centro Cirúrgico. 

Entrei, a porta entreaberta, apertei sua mão e percebi sua fisionomia crispada pela dor. A um canto do apartamento, seu fiel funcionário de muitos anos, Gilberto João de Oliveira, observava tudo, sentado numa poltrona. A mão de Diomício apertava a minha usando de muita força. Minha mão passou a doer. Fiz sinal para que Gilberto Oliveira chamasse socorro. Diomício vivia seus últimos minutos de vida, sua mão já não mais apertava a minha, seu rosto agora tinha uma estranha serenidade.

(Baseado em artigo do Jornal Correio do Sudeste, domingo, 31.05.1981).

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Copyright © 2022.
Todos os direitos reservados ao Portal 4oito