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Cascais (Portugal), um fascínio de cores, bucolismo, simplicidade e muita cultura e história: uma lição de civilidade

Por Aderbal Machado 18/02/2023 - 06:00

Cascais, na Grande Lisboa, é um lugar lindo, singular, preservadíssimo, bucólico, histórico, suave e aconchegante.

Há nele impressionantes características: muito colorido nas edificações, um mar de orla curtíssima, monumentos para todo lado, bares e restaurantes esparramados nas suas ruas. 

Gostei ali dum detalhe: na lateral de sua principal orla há uma colônia de pescadores, aspecto rústico, aparência até meio desleixada – com lonas e bugigangas jogadas ao léu, cordames e peças de navegação. 

Indo lá, Sonia e eu, curiosos como brasileiros, perguntamos se havia algum controle sobre aquela situação. “Nenhuma” - foi a resposta. Os pescadores são originais dali. O lugar começou com eles. São, portanto, soberanos. 

Imaginei aquilo no Brasil: a vigilância sanitária fecharia num átimo e seria capaz de pespegar uma multa milionária, apreendendo os materiais e, sem dúvida, expulsando os pescadores.

O lugar tem algo que gostei do nicho dos pescadores, além do aspecto histórico: é cheio de gatos, justamente para caçar eventuais comunidades de ratazanas. Ou seja, eles combatem o mal com a natureza. Ciência de Darwin.

Pesquisei e soube: no térreo dos prédios ao longo das ruas daquele cantinho perto do mar não pode haver nenhum comércio, exceto bares, lanchonetes e restaurantes. Nada. A estrutura das construções é imutável. Nelas é terminantemente vedado mexer. Nem para alterar, nem para tirar, nem pra colocar. Nada. E as cores não podem ser mudadas.  

São coisas desse tipo que me fascinam em Portugal. E nem digo mais nada, por absolutamente desnecessário. Exceto Camões:

Portugal, Tão Diferente de seu Ser Primeiro

Os reinos e os impérios poderosos,

Que em grandeza no mundo mais cresceram,

Ou por valor de esforço floresceram,

Ou por varões nas letras espantosos.

Teve Grécia Temístocles; famosos,

Os Cipiões a Roma engrandeceram;

Doze Pares a França glória deram;

Cides a Espanha, e Laras belicosos.

Ao nosso Portugal, que agora vemos

Tão diferente de seu ser primeiro,

Os vossos deram honra e liberdade.

E em vós, grão sucessor e novo herdeiro

Do Braganção estado, há mil extremos

Iguais ao sangue e mores que a idade.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

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